Antes de um qualquer jogo da NBA, e por antes entenda-se pelo menos uma hora antes, já é possível ir vendo os jogadores das duas equipas em aquecimento num pavilhão praticamente vazio. Uns passes picados, lançamentos, um ou outro afundanço, o recolher aos balneários para 48 minutos de tempo útil num encontro que tem mais do dobro de duração em termos corridos. Depois, balneário, banho, falar com a imprensa e muito provavelmente uma viagem de autocarro até ao aeroporto. E mais uma. E mais uma. Ao longo de seis meses.

As questões mentais entraram na agenda mediática do desporto norte-americano depois dos testemunhos de algumas das principais figuras da NBA. Kareem Abdul-Jabbar, um dos melhores de sempre, já tinha escrito por mais do que uma vez sobre as dificuldades na transição após o final da carreira; Kevin Love ou DeMar DeRozan, abordaram publicamente os desafios de um basquetebolista de alta competição e o outro lado (mais lunar) do sucesso, com ataques de pânico e depressões. E a organização da prova não passou ao lado dessas declarações, sendo obrigatório a partir da temporada que começa na próxima semana que todas as equipas tenham entre o seu staff uma equipa de profissionais apenas dedicados às questões de saúde mental.

No entanto, há um outro problema escondido mas em contraponto cada vez mais visível nos jogadores da NBA: o sono ou a privação do mesmo. E um artigo publicado pela ESPN coloca a questão num ponto extremo, através de uma declaração forte de Tobias Harris, jogador dos Philadelphia 76ers: “Daqui a uns anos, a privação do sono será um problema tão sério como as comoções cerebrais no futebol americano”.

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LeBron James, uma das grandes figuras da modalidade na última década e meia, é um exemplo disso mesmo. 15 ocasiões All-Star, quatro vezes o MVP da época regular, com três títulos entre Miami Heat e Cleveland Cavaliers e um dos valoes mais altos do basquetebol da atualidade entre salário e patrocínios, o jogador hoje nos Los Angeles Lakers revelou recentemente num podcast o que pode fazer a diferença: “Não existe nada como um bom sono”. E é por isso que tem regras bem definidas quando está entre viagens e fica em hotéis: temperatura a 20/21 graus no quarto, dispositivos eletrónicos desligados e uma aplicação no telefone para adormecer. Ainda assim, parece não chegar. Nem para ele nem para qualquer jogador de qualquer equipa.

A recusa à aproximação do Real Madrid para poder a médio prazo na NBA foi mais um sinal deixado pelos atuais dirigentes em relação à preocupação dos dirigentes em assegurarem mais descanso e qualidade de vida a todos os jogadores. Com 82 encontros na fase regular (fora a altura dos playoffs), cada equipa faz um total de 80.000 quilómetros por época – o equivalente a duas voltas ao mundo – , numa média arredondada de 402 quilómetros de viagens por dia ao longo de 25 semanas e com partidas de dois em dois dias. Com isso, muitas das horas dormidas acabam por ser em aviões ou camas de hotéis que em nada ajudam no descanso necessário.

Apesar de haver cada vez mais jogadores e equipas a recorrerem a especialistas na terapia do sono, e de haver ainda o uso de melatonina, substância indicada para regular o ciclo do sono, vários especialistas consideram que, dadas as necessidades de descanso de um atleta de alta de competição, este é “o maior flagelo da NBA”. E agora que todos acordaram para a realidade, o próximo passo visa encontrar soluções para esse problema.