Perante uma plateia com 1000 convidados, em directo, e uns milhões distribuídos por 80 países, a acompanhar o evento através de live streaming, a Volkswagen revelou o novo Golf, o modelo que mais vende na Europa e um dos mais populares do mundo. Sucessor do Carocha, também ele um best seller, o Golf entra agora na 8ª geração, depois da primeira se estrear em 1974.
Em vez de prometer maiores dimensões e mais espaço interior, como era vulgar até aqui, a Volkswagen avança com mais electrificação, mais conectividade e uma série de serviços capazes de fazer a diferença, de forma a agradar aos clientes tradicionais e, simultaneamente, cativar novos.
Embalada pela necessidade de conceber veículos mais apurados aerodinamicamente – o Cx baixa para 0,275 –, para reduzir consumos e aumentar a autonomia dos modelos eléctricos, como o ID.3, a marca alemã procedeu de igual forma com o novo Golf, desenhando-o 3,5 cm mais baixo (1,456 m), para melhorar a superfície frontal, e 2,6 cm maior em comprimento (4,284 m), para melhor controlar os fluxos de ar. Tudo sem alterar a distância entre eixos (2,636 m), que é a mesma, tal como a plataforma MQB, o que não indicia grandes diferenças no espaço interior. De série passam a ser os faróis LED à frente e atrás, em todas as versões.
Motores de todos os tipos, mas não eléctricos
O novo Golf vai disponibilizar todo o tipo de soluções mecânicas, dos diesel aos gasolina, passando pelos bifuel que queimam gás natural, pelos mild hybrid e híbridos plug-in (PHEV). Porém, a versão e-Golf desaparece, com o seu lugar a seu ocupado pelo também novo ID.3, que não deverá surgir antes de Junho do próximo ano.
A 8ª geração do Golf terá nas versões a gasolina os seus modelos mais acessíveis, todos eles denominados eTSI, ou seja, os tradicionais TSI mas com recurso a um sistema mild hybrid (híbrido ligeiro). Há países em que estão disponíveis o 1.0 TSI e o 1.5 TSI sem o sistema mild hybrid, mas esta solução não vai ser proposta em Portugal, uma vez que o desconto de 40% sobre o ISV compensa o custo das versões híbridas. Como estas versões não electrificadas montam caixas de velocidades manuais, contra as DSG (automática de dupla embraiagem) utilizadas pelos eTSI, é provável que seja proposto entre nós um Golf com o 1.0 TSI de 110 cv, apenas para ter um preço de entrada mais reduzido, dada a ausência da DSG.
Os motores eTSI, que estão sempre acoplados à DSG, contam com um pequeno motor alimentado por uma bateria de iões de lítio a 48V, que faz de alternador e motor de arranque, além de dar uma mão ao motor a combustão para reduzir o consumo em cerca de 10% (o que equivale em média a 0,4 litros). Os e-TSI arrancam com o 1.0 sobrealimentado com 110 cv, para depois oferecer o 1.5 EVO eTSI com 130 cv e o 1.5 eTSI de 150 cv.
Disponível estará igualmente uma versão a gás natural, tecnologia em que o Grupo Volkswagen aposta e Bruxelas também. Este Golf monta o 1.5 TGI com 131 cv, que pode estar acoplado a uma caixa manual com seis velocidades ou à DSG (de dupla embraiagem) com sete relações.
Os clientes de motores a gasóleo não foram esquecidos, mas há algumas alterações importantes, especialmente para o mercado português. Sem usufruir de ajudas da electrificação, o que significa que não vai haver diesel mild hybrid (ao contrário do que acontece na Audi), o construtor alemão deixou cair o motor 1.6 TDI, montando no seu lugar uma versão mais calma do 2.0 TDI com a mesma potência, ou seja, 115 cv. Os mais exigentes têm à disposição o 2.0 TDI com 150 cv, mas os clientes do Golf GTD podem usufruir do 2.0 TDI com 200 cv, superior pois aos 184 cv que possuía até aqui.
O Golf GTE não só continua presente, como até vê a sua presença reforçada, passando a existir não um GTE, mas sim dois. Estranhamente, porque tem à disposição o novo e mais sofisticado 1.5 TSI EVO, a Volkswagen continua a recorrer ao velho motor 1.4 TSI que fornece 156 cv. A diferença é que agora este motor de combustão está associado a dois tipos de motores eléctricos, um mais pequeno que eleva a potência final para 204 cv e outro maior que a coloca nos 245 cv, equiparando o GTE mais potente ao Golf GTI. Os Golf GTE passam a recorrer a uma bateria com 13 kWh, a mesma que equipa o Passat GTE, que aqui assegura uma autonomia de 60 km em modo exclusivamente eléctrico, com vantagens para os consumos, emissões e… impostos, pois reduz o valor declarado de CO2 emitido.
Continuam os Golf GTI e Golf R?
As versões desportivas não só continuam a ser propostas aos clientes, como reforçam os seus atributos. O GTI continua presente, com o motor 2.0 de 245 cv, curiosamente o mesmo valor anunciado pelo GTE mais potente, mas é o Golf R a ver os seus argumentos fortemente melhorados. Mantém-se o bloco 2.0, mas em vez dos 300 cv que anunciava até aqui, o motor passa a fornecer 333 cv, o que deixa antever um nível superior de velocidade e capacidade de aceleração.
A versão mais potente do Golf, a R, continua a estar disponível exclusivamente com o sistema 4Motion, ou seja, a versão com tracção integral do grupo alemão. Evita-se assim perdas de tracção em piso escorregadio e, simultaneamente, agrada-se aos clientes que pretendem usar o modelo em zonas onde a neve e o gelo são uma constante.
À semelhança do que também acontecia até aqui, com a geração anterior, o 4Motion do Golf R deverá continuar a prever um modo de condução mais desportivo, capaz de deslocar para a rodas posteriores mais força. Isto tornará o desportivo mais ágil e divertido de conduzir.
Como é por dentro?
O espaço não parece ter sido alterado, tanto para quem se senta à frente como atrás, com a Volkswagen a ter tentado compensar com o forro do tejadilho e o assento a menor altura do veículo. Os bancos são bons e envolventes, pelo menos nas versões que tivemos oportunidade de experimentar, o que deverá variar consoante os níveis de equipamento, que abandonam as denominações Trendline, Confortline e Highline, assumindo-se agora como base (sem denominação específica), Life, Style e R-Line.
Uma vez ao volante, torna-se evidente o painel de instrumentos digital com 10,25 polegadas, à direita do qual, praticamente ao centro do tablier, surge o ecrã central que tem 8,25” na versão base, para depois ser de 10” no Life, Style e R-Line, o que permite recorrer ao sistema de navegação Discover Pro e ao Innovision Cockpit, que junta o ecrã central ao painel de instrumentos, dando origem a um imenso painel digital com maiores e melhores possibilidades gráficas.
Juntamente com os novos e maiores ecrãs digitais, o Golf passa a exibir um tablier mais baixo, para reforçar a sensação de espaço a bordo, com um sistema de iluminação que permite ao condutor escolher em que tons prefere a iluminação do habitáculo, reforçando a capacidade de personalização.
Mas a modernização do mais popular dos Volkswagen vai muito para além da estética. Assim, o Golf passa a poder ser controlado por comandos de voz, funcionalidade que a marca promete ser muito prática, além de surgir a Alexa, o assistente pessoal que permite aceder a uma série de serviços e funções. O Golf herda ainda algumas das soluções desenvolvidas para o ID.3, a começar pelas actualizações à distância (over-the-air), o que o obriga a estar sempre conectado e com a possibilidade de criar um hotspot dentro do veículo, que será grátis durante um período de tempo (1 a 3 anos, ainda em discussão) e pago pelo utilizador a partir daí.
Para o seu mais recente modelo, a Volkswagen desenvolveu uma solução Car2X, que lhe permite comunicar com as infraestruturas e outros veículos, para quando tal for possível.
Mais imediato é o Travel Assist, até 210 km/h, que apenas exige que o condutor repouse uma das mãos no volante, para depois manter o carro ao centro da faixa de rodagem (lane centering) e respeitar a velocidade pré-programada, mas sem se aproximar excessivamente do carro da frente (adaptative cruise control). O Golf pode ainda “ver” os sinais de trânsito e saber, via GPS, que se aproxima um cruzamento, uma curva mais fechada ou uma rotunda, e adaptar a velocidade recomendada.
Quando chega e por quanto?
Depois desta revelação estática mundial, o Golf 8 vai ser conduzido pela primeira vez em Dezembro, numa apresentação que vai decorrer em Portugal, mais especificamente no Porto. A produção arranca ainda em Dezembro de 2019 e a comercialização em força será iniciada em Janeiro, em alguns países, para o modelo chegar ao nosso país em Março de 2020.
Os preços ainda não são conhecidos, mas é provável que não sejam grandes os aumentos face à actual geração, tanto mais que a concorrência é cada vez maior neste que é o segmento mais importante do mercado europeu. Na Alemanha, por exemplo, foi já anunciado um preço em torno dos 20.000€, ligeiramente acima dos 19.600€ do modelo actual.