Desde o início da temporada que a corda está frágil: desde a derrota com o Liverpool, desde o empate em casa com o Tottenham e outro com o Watford depois de estar a ganhar por dois golos de diferença. Há uma semana, a corda ficou presa por um fio, depois da derrota às mãos do recém-promovido Sheffield. A meio da semana, dois livres diretos de Pépé contra o V. Guimarães mantiveram as duas margens unidas. Este domingo, a corda entre o Arsenal, jogadores e treinador incluídos, e os adeptos partiu definitivamente.

Aos nove minutos da receção ao Crystal Palace, o Arsenal estava a ganhar por dois golos de diferença graças aos dois centrais, Sokratis e David Luiz, que assumiram a veia goleadora que costuma ser de Aubameyang ou Lacazette e garantiram uma vantagem aparentemente confortável à equipa de Unai Emery. Pouco depois da meia-hora, Milivojevic reduziu de grande penalidade. Já na segunda parte, Ayew empatou e fechou o resultado final. O Arsenal voltou a desperdiçar uma vantagem superior a um golo, voltou a perder pontos em casa e vai permitindo o abrir de uma brecha entre os quatro primeiros — Liverpool, Manchester City, Leicester e Chelsea — e os restantes e corre desde já o risco de voltar a falhar os lugares de acesso à Liga dos Campeões. Mas este empate com o Crystal Palace foi muito mais do apenas um resultado aquém do esperado.

Por volta da hora de jogo, já com o resultado empatado, Unai Emery decidiu fazer a primeira alteração e trocar Xhaka pelo jovem Bukayo Saka. Ora, o suíço Xhaka, que está a cumprir a quarta temporada ao serviço do Arsenal, é atualmente o capitão de equipa, depois da saída do central Koscielny para o Bordéus durante o verão. A opção de Emery, que escolheu pessoalmente o médio para carregar a braçadeira de capitão, não caiu bem a uma franja considerável dos adeptos dos gunners, que considera que Xhaka não é o jogador ideal para liderar o grupo. Por isso, pela exibição pouco conseguida que realizou até sair, pelos dois golos sofridos que tinham anulado uma vantagem confortável, as bancadas do Emirates decidiram aplaudir a decisão do treinador de retirar o suíço de campo e assobiar o próprio capitão, numa demonstração clara de desagrado para com o jogador.

O jogador tirou a camisola assim que saiu do relvado

Mas o mais surpreendente aconteceu depois. Enquanto caminhava em direção a Saka, para permitir a substituição, Xhaka aplaudiu ironicamente os adeptos, incentivou os assobios e proferiu insultos, acabando por tirar a camisola assim que saiu do relvado e seguir diretamente para o balneário, sem passar pelo banco de suplentes. Já após o final do jogo, Unai Emery reconheceu que o jogador “errou” mas garantiu que a situação irá ser resolvida internamente. “Quero permanecer calmo mas sim, ele errou com esta atitude”, acrescentou o espanhol. Além do treinador, também antigos jogadores do Arsenal, com a respetiva esfera de influência, criticaram a reação de Xhaka, com o Telegraph a garantir que pelo menos três antigos capitães do clube inglês visitaram o suíço já ao final do dia, para o aconselhar e dar os próprios inputs sobre o momento instável que se vive no norte de Londres.

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“Acho que Unai Emery tem de tirar a braçadeira ao Xhaka. Tem mais cinco capitães, pode fazer isso facilmente. Se o apoiar, vai perceber o que ser adepto do Arsenal significa realmente porque se os adeptos não concordarem com ele — e os adeptos obviamente não querem que o Xhaka seja capitão neste momento –, então o treinador vai ficar pessoalmente sob uma pressão crescente. Tudo isto colocou Unai Emery numa situação muito difícil. Tem de lidar com isto muito rápido, não pode deixar que se arraste. Tratem do assunto hoje [domingo] ou amanhã, divulguem o comunicado e sigam em frente muito depressa”, disse ao talkSport Nigel Winterburn, antigo defesa do clube inglês, numa opinião corroborada por Ian Wright.

A inequívoca situação de tensão no Arsenal, tanto a nível de resultados como no interior do balneário, ficou ainda mais comprovada com as fotografias divulgadas por Stuart MacFarlane, fotógrafo oficial do clube, onde é possível ver Lucas Torreira a chorar após a saída de Xhaka sob assobios e uma maré de insultos. “Não queria partilhar estas imagens mas senti que tinha de o fazer. Isto é a reação emotiva do Lucas Torreira depois do abuso que o Granit Xhaka recebeu quando foi substituído. Em lágrimas e inconsolável. Absoluto amor e respeito pelo capitão”, escreveu MacFarlane, numa declaração que é obviamente parcial mas que não deixa de ilustrar as emoções à flor da pele que se vivem no íntimo do grupo. Bellerín, defesa espanhol que surge nas mesmas fotografias a consolar Torreira e que é o terceiro capitão de equipa, depois de Xhaka e Aubameyang, foi o único elemento do plantel a comentar a situação, apelando à união e à coesão.

“Somos todos humanos, todos temos emoções, e às vezes não é fácil lidar com elas. É tempo de nos levantarmos, não de nos afastarmos. Só ganhamos quando estamos todos juntos”, defendeu o jogador nas redes sociais, numa comunicação curta que está a ser aplaudida pelos adeptos. Entre assobios ao capitão, insultos dos próprios jogadores aos adeptos, lágrimas no banco de suplentes e uma crise de resultados e exibições, o Arsenal está a ferro e fogo.