Rui Rio foi esta tarde eleito líder parlamentar do PSD, através de voto secreto, com 89,87% dos votos. Do total de 79 votantes, houve 71 votos a favor, seis votos brancos e dois nulos. Os resultados da votação, que decorreu esta tarde no gabinete do grupo parlamentar do PSD, foram revelados aos jornalistas pela assessora de imprensa do líder do PSD. Rui Rio passa assim a acumular o cargo de presidente do partido com o de líder parlamentar, pelo menos de forma transitória, enquanto decorre o processo de diretas. Ou seja, até ao congresso de fevereiro.
Aos jornalistas, depois de conhecidos os resultados da votação, Rui Rio afirmou que foi o resultado de que “estava à espera”, “mais voto menos voto”, porque “unanimidade nunca há”, e que, na prática, foi um “bom resultado” para uma liderança da bancada de transição. Questionado sobre se, caso ganhe as eleições diretas do partido e se mantenha como líder do PSD por mais dois anos, o próximo presidente da bancada parlamentar do PSD pode vir a ser um dos nomes que agora compõem a direção da bancada, Rio rejeitou avançar com esses cenários, tendo apenas uma só certeza: “Eu é que não serei”.
Os quase 90% de votos agora conseguidos por Rui Rio contrastam com o anterior processo de eleição do líder parlamentar, Fernando Negrão, que foi eleito por apenas 39,7% dos votos. Na altura, em fevereiro de 2018, já sob a liderança de Rui Rio, a bancada do PSD estava profundamente dividida, o que levou à votação mais fraca de sempre para aquele cargo de liderança parlamentar. Antes, em 2017, Hugo Soares tinha sido eleito com 85,4% dos votos e, ainda antes, em 2015, Luís Montenegro tinha sido reeleito com uma esmagadora maioria de 98% dos votos. Essa, contudo, era já a terceira vez que Montenegro era eleito para aquela função: em 2011 tinha sido eleito pela primeira vez com 86% dos votos, voltando a ser eleito em 2013, com 87% dos votos.
A votação desta tarde dizia respeito a toda a direção da bancada parlamentar, não só ao nome do líder: são seis os vice-presidentes escolhidos por Rui Rio (menos um do que teve o seu antecessor, Fernando Negrão), começando pelo deputado de Bragança Adão Silva, seguindo-se Carlos Peixoto (Guarda), Luís Leite Ramos (Vila Real), Clara Marques Mendes (Braga), Ricardo Baptista Leite (Lisboa) e Afonso Oliveira (Porto). Adão Silva e Carlos Peixoto são os únicos que transitam da anterior direção parlamentar, enquanto Luís Leite Ramos já tinha sido vice sob a presidência de Hugo Soares.
Como secretários da direção do grupo parlamentar, a lista de Rio integra ainda Isaura Morais, que foi cabeça de lista por Santarém, Catarina Rocha Ferreira (Porto) e o secretário-geral adjunto do partido Hugo Carneiro (também deputado pelo Porto). Desta vez, contudo, Rui Rio não juntou ao pack sujeito a votação os nomes propostos pela direção para a coordenação das áreas sectoriais nas várias comissões parlamentares, prática que não é comum mas que aconteceu no ano passado, e que foi vista como uma forma de Fernando Negrão conseguir vincular mais deputados à sua causa.
Contra “vigarices” e “cenas esquisitas”, Rio não vê forma legal de abrir diretas a militantes com quotas em atraso
Lembrando que criticou desde sempre aquilo que considera serem “vigarices” partidárias, e que diz que aconteceram inclusive no processo que levou à sua eleição enquanto presidente do PSD, Rui Rio voltou a insistir que a secretaria-geral do partido vai ter tolerância zero com o pagamentos de quotas por atacado no processo de diretas que se vai disputar em janeiro. Em causa está o facto de os estatutos e regulamentos do PSD dizerem que “só elege e é eleito quem é militante com quotas pagas”, e esta semana terem surgido notícias de que apoiantes de Luís Montenegro defendiam a possibilidade de abrir os cadernos eleitorais do partido a militantes com quotas em atraso, sugerindo levar essa ideia ao Conselho Nacional marcado para esta sexta-feira.
Sobre isso, contudo, Rui Rio foi claro: até concorda com a ideia de abrir as eleições diretas do partido a militantes sem quotas pagas e, até, a simpatizantes, mas para isso é preciso alterar os estatutos e regulamentos do partido, que são claros quanto à ideia de que só vota e é eleito quem tem quotas em dia. Uma vez que os estatutos só podem ser alterados em Congresso, ou se o Conselho Nacional for mandatado para esse efeito pelo Congresso (como aconteceu na última reunião magna), Rio não vê como possível esse cenário. “Se houver quem consiga resolver isso do ponto de vista estatutário e regulamentar, eu serei apoiante. Mas os estatutos dizem que só elege e é eleito quem tem quotas em dia”, disse em declarações aos jornalistas à porta do gabinete do grupo parlamentar do PSD, depois de comentar os resultados da votação.
“Não estou a ver como é possível resolver”, insistiu por “seis vezes”. Ou seja, mesmo que os apoiantes de Luís Montenegro (ou de Pinto Luz) levem essa possibilidade de abertura das diretas a militantes sem quotas pagas para cima da mesa, Rio não vê como isso possa ser legal: o Conselho Nacional não tem poder para fazer essa alteração às regras do jogo. Assim sendo, Rio afirma que o PSD vai “fazer tudo para aperfeiçoar o sistema e facilitar a vida a quem quer pagar a sua quota em atraso e, por algum motivo, perdeu a referência de pagamento [nomeadamente diminuir o número de elementos pedidos para atualização dos dados, ou fechar os cadernos eleitorais o mais tarde possível para dar tempo às pessoas]”, mas não vai “facilitar a vida a quem quer pagar quotas por atacado, pagar logo 100 ou 200 de uma vez”. Essas “vigarices” e “coisas esquisitas”, disse, são para acabar. “As eleições são para ser ganhas por quem tiver mais aceitação junto dos militantes, não por quem pagar mais quotas aos militantes”, disse, aproveitando o slogan de campanha de Luís Montenegro para deixar uma indireta: “Há quem diga que a força vem de dentro, mas a minha força vem de fora”.
De resto, uma certeza e uma dúvida: Rui Rio vai falar aos conselheiros nacionais na próxima sexta-feira, em Bragança, essa é a certeza. A dúvida é se os já assumidos candidatos às diretas de janeiro, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz, vão ser convidados para estarem presentes na reunião, embora não tenham assento. “Não é da minha competência decidir os convites”, limitou-se a responder Rui Rio, atirando a batata quente para Paulo Mota Pinto, presidente da mesa do Conselho Nacional que, até ao momento, tem dito que não recebeu requerimento nenhum para esse efeito.