Quando o tema é superdesportivos em forma de SUV, não faltam propostas no mercado, todas elas com motores que fornecem mais de meia centena de cavalos e chassis afinados como se tratassem de fórmulas, apesar de os modelos exibirem um peso muito elevado e um centro de gravidade colocado a uma altura do asfalto que assustaria qualquer engenheiro de competição. A questão é determinar qual o modelo mais eficaz, num cocktail em que se avalie a capacidade de aceleração, a eficiência em curva e na travagem, não esquecendo a velocidade máxima. E é exactamente para fazer esta distinção que existe o Anel Norte do circuito de Nürburgring.
Em 2017, pertencia à Porsche a melhor volta no traçado alemão. O Cayenne Turbo S, com motor V8 de 570 cv, percorreu uma volta em 7 minutos 59,0 segundos. Foi um recorde bom enquanto durou, pois nesse mesmo ano a Alfa Romeo decidiu que o seu mais leve e mais ágil Stelvio Quadrifoglio poderia ser mais rápido, animado pelo 2.9 V6 biturbo, que com uns “pozinhos” de Ferrari, atinge 510 cv. Vai daí, fixou o recorde em 7.51,7.
O SUV italiano foi o “Senhor do Anel” até Novembro de 2018, quando a Mercedes apontou armas ao recorde do melhor SUV na clássica pista alemã. A arma foi o AMG GLC 63S, com o 4.0 V8 biturbo a debitar os mesmos 510 cv, mas a beneficiar de mais força (700 Nm em vez de 600 Nm) devido ao facto de o seu motor ter mais 1,1 litros de capacidade. O SUV alemão passou então a ser o recordista, com uma volta em 1.49,3.
E eis-nos chegados aos dias de hoje, em que a Audi, que nunca se meteu nestas andanças dos recordes – para não beliscar a imagem da Porsche, para quem fornece chassis e mecânicas – determinou que era chegada a hora de puxar pelos galões. A ocasião era a chegada iminente do Q8 RS, modelo que será introduzido no mercado ainda este ano (está previsto ser apresentado no Salão de Los Angeles, em finais de Novembro), mas que sobre o qual ainda não há muitas informações. Não se sabe mesmo se vai montar o 4.0 V8 biturbo a gasolina com mais de 600 cv, ou se opta por uma solução híbrida, similar à que o Grupo VW desenvolveu para o Cayenne Turbo S E Hybrid.
No traçado germânico, o Audi Q8 RS rodou em 7.42,2, retirando sete segundos ao recorde anterior, o que prova a validade de sistemas como as barras estabilizadoras activas, que certamente montará, como as quatro rodas direccionais e vectorização do binário, entre outros “miminhos” tecnológicos. No vídeo que a Audi divulgou é possível constatar a rapidez do Q8 RS, que conseguiu atacar a lomba do aeroporto a 234 km/h, onde alguns modelos costumam levantar voo e despistar-se (minuto 0.55 do vídeo), para depois atingir 275 km/h na zona rápida que se lhe segue (1.14).
Frank Stippler, o piloto de testes da Audi, ainda apanhou um susto depois da esquerda a fundo onde Niki Lauda quase foi consumido pelas chamas que devoraram o seu Ferrari de F1, em 1976 (3.20), sendo curiosa a forma como o SUV da Audi aborda o 1º Carrossel a 95 km/h (4.30) e o 2º pouco depois à mesma velocidade (6.34). O Q8 RS não chega a descolar no primeiro salto, que ataca a 202 km/h (5.55), mas impressiona nas três direitas muito rápidas e na recta grande que se segue, onde atinge 302 km/h (6.37). No final, 7.42,268, sensivelmente o mesmo tempo do Porsche Taycan.