Médicos do hospital Santa Maria, em Lisboa, denunciam falta de condições nas urgências, avança o Expresso esta quinta-feira. Mais de 20 chefes de equipa do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte recusam-se a assumir responsabilidades sobre a assistência aos doentes por causa da falta de pessoal médico.

Os médicos alegam que não se encontram reunidas as condições necessárias para a “prestação de cuidados de saúde de qualidade e com a necessária segurança”, cita o mesmo jornal.

O grupo de 21 chefes de equipa do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, cujo único serviço de urgências corresponde ao Santa Maria, alerta para o facto de as equipas escaladas para a urgência “não cumprirem os mínimos recomendados pelo Colégio da Especialidade de Medicina Interna”, tendo em conta o período das 20h às 08h, durante a semana, e de 24h aos fins de semana e feriados.

Por esse motivo, os médicos em questão recusam assumir responsabilidade pelos “acidentes ou incidentes” que possam ocorrem devido às “deficientes e anómalas condições” derivadas pela “insuficiência de meios humanos”, pelo que na quarta-feira os responsáveis entregaram minutas de escusa de responsabilidade.

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Em declarações à Rádio Observador, Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, refere que esta situação reflete “o trajeto preocupante que está a acontecer na saúde” e diz estar do lado dos médicos que esta quinta-feira pediram escusa de responsabilidade.

A não existência das equipas tipo contraria todas as regras de qualidade. Os médicos fizeram muito bem. Vou inteirar-me mais da situação, irei ter uma intervenção nas próximas 24 horas sobre esta matéria, diretamente relacionada com este tipo de situações. Vou fazer um apelo aos diretores clínicos que têm uma responsabilidade direta nesta matéria”, disse Miguel Guimarães. “Não podemos permitir que as situações se estejam a degradar de forma permanente… Os médicos têm todo o meu apoio”, continuou.

Nídia Zozimo, uma das chefes de equipa do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, referiu à Rádio Observador que a falta de pessoal médico põe em causa a “segurança adequada ao tratamento das doenças e à assistência”. “[Isto] Não é um manifesto contra a direção clínica. Esta direção clínica já herdou uma situação. A tutela tem de dar condições e perceber que o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, a nível da medicina, é uma área carenciada”, diz.

Em nota de imprensa, o  conselho de administração do CHULN diz ser sua preocupação “identificar os constrangimentos e limitações existentes, no sentido de procurar soluções” e garante “reconhecer as carências existentes”, clarificando que é é “nos fins de semana que se verifica a maior dificuldade em equilibrar a dotação das equipas, pois nos dias úteis, incluindo os períodos noturnos, a articulação entre as equipas permite dotações mais adequadas”.

O conselho de administração refere ainda a saída de especialistas e internos das escalas de urgência geral, bem como de “todas as outras especialidades”, sendo que atualmente as equipas são “constituídas quase exclusivamente por médicos de Medicina Interna”.

Não obstante o relevante esforço que tem vindo a ser feito no sentido de reforçar de forma consistente o quadro de internistas do CHULN, bem patente na atribuição de 13 vagas no último concurso de recrutamento e na prioridade dada também a esta especialidade para o concurso a ser aberto brevemente a nível nacional, não foi ainda suficiente para compensar as saídas atrás referidas”, conclui a nota divulgada à imprensa.

Para o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, citado pela agência Lusa, a culpa é da “gestão danosa de recursos humanos” da administração e da “política desastrosa” de vários governos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) que provocou a “deserção dos médicos para os privados e estrangeiro”. O sindicado pede assim ao ministério da saúde que torne “o SNS atrativo, tanto para os médicos fora do SNS como para aqueles que permanecem e fazem todos os esforços para o manter um serviço público de elevada qualidade”.