Primeiro dia de junho de 2019. No relvado do Wanda Metropolitano, em Madrid, Jorge Jesus aparecia para comentar a final da Liga dos Campeões entre Liverpool e Tottenham mas também para falar sobre o mais recente desafio: no dia anterior, tinha assinado contrato com os brasileiros do Flamengo. Foi ali, antes da final da maior competição europeia de clubes, que o treinador português abriu asas à ambição.

“Isto pode ter uma história para nós. Este vencedor que está aqui vai disputar o Mundial de Clubes. Já estou a antecipar isso”, disse Jesus. Ora, para encontrar o vencedor da Liga dos Campeões e estar no Mundial de Clubes, o Flamengo teria de conquistar a Taça Libertadores. Algo que não fazia desde 1981, há 38 anos, e desde a geração de Zico e companhia. As piadas em Portugal e no Brasil, por portugueses e por brasileiros, não demoraram a chegar.

23.º dia de novembro de 2019. Passaram mais de seis meses. No relvado do Monumental de Lima, no Peru, Jorge Jesus recebeu com a bandeira portuguesa nas costas a medalha de vencedor da Taça da Libertadores. Vai estar no Mundial de Clubes, vai encontrar o Liverpool que viu jogar e ganhar naquele primeiro dia de junho e provou que a ambição nunca foi desmedida.

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Jorge Jesus tornou-se o primeiro português a conquistar a maior competição sul-americana de clubes, apenas o segundo treinador europeu a conquistar a maior competição sul-americana de clubes e o líder daquela que é apenas a segunda geração da história do Flamengo a conquistar a maior competição sul-americana de clubes. Precisamente 38 anos depois — Zico levantou o troféu a 23 de novembro de 1981 –, o Flamengo bateu o River Plate com uma reviravolta memorável e ganhou a segunda final da Libertadores que disputou.

Com os dois golos de Gabriel Barbosa, que garantiram a reviravolta do Flamengo depois de ter estado a perder desde os 15 minutos, Jorge Jesus vingou a maldição dos 90+2 minutos — o treinador português, ainda no Benfica, perdeu um título nacional com um golo de Kelvin, do FC Porto, dois minutos depois dos 90′ e este sábado, também dois minutos dentro dos descontos, o avançado brasileiro garantiu a conquista da Libertadores.

Na flash interview, o treinador não escondeu a emoção e mostrou-se “orgulhoso” de ser português, garantindo também que este foi o dia mais importante da própria carreira. “É o título mais importante da minha carreira. A Libertadores está para este continente como a Liga dos Campeões está para a Europa. Esta final foi vista em 176 países e por milhões de pessoas e perceberam a qualidade destas duas grandes equipas. Qualquer uma poderia ter ganhado. Os adeptos do Flamengo são impressionantes e precisavam de transportar isto para títulos. Um está ganho, falta o Campeonato, que é tão importante para mim. Para os adeptos este era o mais importante e felizmente virámos o resultado. Uma palavra também para Portugal, sei que o Flamengo tem sido uma paixão grande, não sei se eram 10 milhões mas muitos milhões de portugueses estavam a fazer força para o Flamengo ganhar. Um grande beijo e tenho muito orgulho em ser português”, disse Jesus, que não afastou a possibilidade de voltar à Europa para jogar a Liga dos Campeões porque foi para o Brasil “a pensar nisso”.

“Quando faltavam 30 segundos para o fim ainda me chateei um pouco com o João de Deus, que estava a dizer que acabou. Ele disse ‘acabou’, disse-me um palavrão…já perdi alguns campeonatos a segundos do fim e outros troféus, mas hoje fui iluminado por jogadores, torcida e Deus”, conclui o treinador. Este fim de semana, caso o Palmeiras não consiga ganhar este domingo ao Grémio, o Flamengo pode ainda ser campeão brasileiro sem sequer entrar em campo. Se esse cenário não se concretizar, o adiamento da festa poderá ser apenas até quarta-feira, dia em que Jorge Jesus e companhia recebem o Ceará no Maracanã e só precisam de um ponto para conquistar o Brasileirão.