O fenómeno do voto tático não é novo, mas pode, desta vez, trazer mudanças profundas no Reino Unido. É pelo menos no que acreditam vários políticos da oposição a Boris Johnson, que apelam, na reta final da campanha, aos eleitores anti-Tory, segundo o The Guardian.

Sondagens recentes, citadas pelo jornal britânico, mostram que a ideia de voto tático está a produzir efeitos, com a vantagem de Johnson a ser reduzida de 82 para 40 deputados, quando apenas faltam quatro dias para o escrutínio.

Para que o voto tático tenha efeito será necessário que os eleitores votem não no candidato das suas preferências, mas naquele que tem maior hipótese de derrubar o rival conservador desse círculo.

Um grupo de pressão contra o Brexit, chamado “Best for Britain” (“O melhor para o Reino Unido”) — financiado, entre outros, pelo bilionário americano George Soros —, analisou a opinião de quase 30 mil votantes, concluindo que 40.700 pessoas em 36 círculos específicos podem dar a volta aos acontecimentos, impedindo que os conservadores tenham a maioria. Sem essa maioria, será mais difícil a Boris Johnson concretizar a promessa de “cumprir o Brexit”.

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Nesse cenário traçado pelo “Best for Britain”, os conservadores conseguiriam 309 deputados — face aos 325 que seriam necessários para garantir a maioria. O Labour teria 255, o Partido Nacional da Escócia (SNP) 49, os liberais democratas (Lib Dem) 14, e outros partidos os restantes quatro representantes.

Haverá mesmo círculos em que os liberais democratas terão parado de fazer campanha para não prejudicar o Labour, que está taco-a-taco com os conservadores. Vince Cable, antigo líder dos Lib Dem, é um dos políticos que tem apelado ao voto tático. “Tenho andado por aí a fazer campanha para persuadir votantes do Labour a apoiar os Liberais Democratas em círculos como Lewes e Cheltenham. Mas também sei que há muitos bons votantes Liberais Democratas que se preparam para apoiar o Labour em círculos como Canterbury e Sedgefield”, disse Vince Cable, citado pelo The Guardian.

Um dos candidatos do Labour, Peter Kyle — que pede um segundo referendo ao Brexit — também diz que “esta é uma eleição como nenhuma outra”. Das duas uma: “Ou fazemos as coisas de forma diferente ou pagamos o preço”, acredita. “Para dar algo à nossa nação, precisamos de ser mais espertos. Isso significa encorajar apoiantes do Labour, em círculos em que não temos hipótese, mas em que um candidato que não seja Tory pode ganhar — a fazer o que for preciso para negar a Boris Johnson a maioria que pede para pôr em prática o seu Brexit brutal e continuar a sua governação imprudente”.

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Já no SNP, a líder escocesa Nicola Sturgeon considera que “os votantes podem travar o governo de Boris Johnson se decidirem votar de forma tática”.

Neste momento, as sondagens, citadas pelo The Guardian, mostram que os conservadores lideram as intenções de voto (entre 42% a 46%, dependendo das sondagens), seguindo-se o Labour (entre 31% e 36%) e os Lib Dem, com 13%.