Foi discutido na última reunião do conselho de administração da mutualista uma “redefinição” das funções da Fundação Montepio, o organismo que António Tomás Correia deverá continuar a liderar apesar de sair da presidência da Associação Mutualista Montepio Geral. Segundo informações recolhidas pelo Observador, embora não se tenha falado do orçamento da Fundação de forma explícita, ficou claro que uma ampliação do alcance da Fundação passaria, naturalmente, por uma multiplicação da dotação prestada pela mutualista, que é atualmente de um milhão de euros por ano. Mas três dos (ainda) cinco administradores mataram a proposta à nascença.
Quem apresentou ao conselho de administração da mutualista um documento para que se repensasse o papel da fundação foi Luís Almeida, antigo presidente-executivo do Finibanco Angola e homem próximo de Tomás Correia, o presidente que em outubro pediu para sair da liderança da associação mutualista, antecipando-se ao que teria sido uma recusa, por parte do supervisor, do seu registo de idoneidade para continuar naquelas funções.
Perdendo a liderança formal da mutualista, em que participam mais de 600 mil portugueses, nada impede Tomás Correia de continuar na presidência da Fundação Montepio, um organismo fundado em 1995 cuja sede fica no mesmo edifício da Rua do Ouro, na baixa lisboeta — numa parte do edifício da mutualista que está a sofrer obras de renovação antes de Tomás Correia passar a estar ali na maior parte dos seus dias.
Mas essa proposta de revisão do papel da Fundação acabou por nem ser votada, porque os outros três administradores (Virgílio Lima, indigitado para novo presidente, Carlos Beato e Idália Serrão) terão defendido que aquela proposta não fazia sentido na medida em que os atuais estatutos da Fundação Montepio já têm o alcance suficiente para que as várias iniciativas de solidariedade social possam ser levadas a cabo.
Tomás Correia, que naquele momento se tinha ausentado da sala onde decorria o conselho de administração, não participou nesta discussão, pelo que o documento lançado por Luís Almeida acabou por se esvaziar logo ali. Houve uma troca de impressões, mas não passou daí porque os três membros do conselho de administração além de Luís Almeida (e Tomás Correia) consideraram que o atual âmbito e modelo de atuação da Fundação Montepio não necessitam de alterações.
O Observador tentou contactar fonte oficial da mutualista Montepio, até ao momento sem sucesso. Esta notícia será atualizada com comentários, caso eles existam.
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A Fundação Montepio, lê-se no seu website, “assume um papel fundamental no estabelecimento de parcerias e na concessão de apoios ao setor social da economia” e “estabelece um contacto permanente com a comunidade envolvente e procura conhecer a diversidade do setor da economia social, identificando e promovendo boas práticas de intervenção social”.
O orçamento da Fundação Montepio, recebido pela mutualista, é de um milhão de euros por ano. Mas a esse valor junta-se habitualmente o valor da consignação fiscal, isto é, aquela porção do IRS que é possível atribuir a entidades de solidariedade social, entre outras, por designação de cada contribuinte. Mas esse valor da consignação, que chegou em tempos a representar quase meio milhão de euros, tem vindo a cair de forma sucessiva e as próprias contas da Fundação, de 2018, estima que o valor conseguido com essa rubrica caia dos 229 mil euros de 2018 para “um valor ainda menor”, pouco mais de 150 mil euros.
Uma das iniciativas mais conhecidas da fundação é a frota solidária, basicamente a oferta de carrinhas a instituições de solidariedade. Mas há, também, apoios ao voluntariado jovem e à promoção do emprego de pessoas com deficiência ou em situações de risco.
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