Morreu na noite de esta quinta-feira, 26 de dezembro, para sexta-feira, 27, o cantor belga Art Sullivan. O intérprete, que teve o seu período de maior sucesso nos anos 1970, sofria de cancro no pâncreas. A informação está a ser avançada por jornais como o belga Le Soir.

Com uma carreira concentrada sobretudo na década de 1970 — começou quando tinha pouco mais de 20 anos —, Art Sullivan gravou até 1978 êxitos pop como “Petite Demoiselle”, “Ensemble”, “Petite Fille Aux yeux Bleus”, “Donne Donne Moi”.

Na Europa e sobretudo em Portugal, o cantor que tinha como nome de batismo Marc van Lidth de Jeude foi “adotado” em 1974, refere o Le Soir. A popularidade em território nacional era, contudo, maior do que a que tinha no seu país natal, acrescenta o mesmo jornal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Há apenas quatro meses, em agosto deste ano, Art Sullivan atuou nas Caldas da Rainha, fazendo o concerto de abertura da edição deste ano das Festas de Verão da Expotur. Já a 21 de setembro publicou uma fotografia no Casino Estoril. O cantor atuou em Portugal em 1977, no auge da sua fama. Em 2007 chegou a ser anunciada a sua atuação nos coliseus de Lisboa e Porto, mas os concertos foram cancelados.

[O vídeo de um concerto de Art Sullivan na Praça de Touros da Póvoa de Varzim:]

ART SULLIVAN " JENNY LADY " Concert / Concerto

ART SULLIVAN " JENNY LADY " Concert/ Concerto Portugal

Posted by ART SULLIVAN on Friday, August 24, 2018

“A Bélgica é o meu amor e Portugal a minha amante”

A propósito do concerto este verão nas Caldas da Rainha, o locutor da Rádio Litoral Oeste, João Carlos Costa, publicou um texto no Facebook sobre o cantor, que deu ainda uma entrevista à mesma rádio: “Tranquilo, humilde, Art Sullivan brilhou de uma forma genuína e muito intimista ontem à noite na Expotur 2019, nas Caldas da Rainha, não pelos só pelos sucessos que interpretou porque teve SEMPRE a ajuda do público em todas as canções, mas pela sua presença ímpar. Tal como ele próprio afirmou aos microfones da 91 FM Radio ‘no palco sou como na vida, tímido mas gosto tanto do que faço, que lá consigo subir ao palco.'”.

Segundo João Carlos Costa, houve espetadores a deslocar-se para as Caldas da Rainha vindos “de França, da Suíça, do Algarve, de Cascais, de Lisboa, do Porto. Os seus fãs vieram de todo o lado e a sessão de autógrafos durou mais do que o próprio espetáculo”.

Tranquilo, humilde, Art Sullivan brilhou de uma forma genuína e muito intimista ontem à noite na Expotur 2019, nas…

Posted by João Carlos Costa on Saturday, August 3, 2019

Há seis anos, em entrevista à revista Vip, Art Sullivan dizia que quando morresse queria que as suas cinzas fossem “deitadas ao mar, em Cascais. Adoro Portugal, venho cá várias vezes por ano. Não é muito politicamente correto, mas costumo dizer que a Bélgica é o meu amor e Portugal a minha amante”.

Dez concertos agendados para 2020

Art Sullivan tinha dez concertos agendados para o próximo ano, de celebração dos 45 anos passados desde esse ano de 1974 em que ganhou notoriedade em Portugal, refere ainda o jornal belga. Ao todo, Art Sullivan terá vendido mais de dez milhões de cópias de discos.

No final dos anos 1970, o cantor, oriundo de uma família aristocrata, afastou-se — durante cerca de 25 anos — da música, partindo para os Estados Unidos da América e tentando uma carreira na televisão. Voltou depois à Bélgica e já no final da década de 2000 e durante os últimos nove anos foi dando alguns concertos. Na sua página oficial de Facebook tinha, aliás, dois contacto telefónicos para espetáculos: um para atuações em França e na Bélgica, outro para concertos em “Portugal e outros” países.

O regresso nos anos 2000 aconteceu após algumas reedições dos seus êxitos, em compilações de CD como “Cette Fille La”. Em 2014, Art Sullivan publicou também uma biografia, “Art Sullivan: Drole de Vie en Chansons”, escrita por Dominique de York.

Em 2010 queixava-se do domínio da língua inglesa: “É uma catástrofe”

Em 2010, numa entrevista à agência Lusa, quando lançou um álbum comemorativo de 35 anos de carreira, o criador de “C’est la vie, c’est joli” disse que deixou de cantar em 1978, por considerar “que não havia lugar” para a música que fazia.Sobre as suas canções, disse esperar que os mais novos as descobrissem e os mais velhos as recordassem.

Na altura, março de 2010, Art Sullivan agendou uma série de 30 concertos em Portugal, acompanhado por uma orquestra. “Não tenho grandes pretensões culturais, faço música ligeira, canto uma canção simples que em três minutos faz sorrir e sonhar, e isso basta-me”, disse então o cantor à Lusa.

O músico sublinhou que “a música se faz de emoções e sonho” e destacou a internet como “uma grande revolução da música”.

Na ocasião gravou com o cantor Hugo, da Póvoa de Varzim, que tinha vídeos na internet interpretando algumas das suas canções. “Gostei e convidei-o a vir gravar comigo”, disse então o cantor.

Sobre a música em francês, da época, Art Sullivan considerou-a “uma catástrofe”. “Agora é o domínio do inglês”, reconheceu. O músico referiu ainda que “o império da língua inglesa obriga que outros cantores, franceses, portugueses ou dinamarqueses, por exemplo, tenham de cantar em inglês para se internacionalizar”.

“É uma grande pobreza cultural, é mesmo uma catástrofe, é como termos todos de ir comer ao McDonald’s seja em Bruxelas, Madrid ou Lisboa”, acrescentou Art Sullivan.