O The New York Times divulgou um vídeo que parece mostrar o avião ucraniano que se despenhou na quarta-feira a ser atingido por um míssil enquanto sobrevoava Parand, nos arredores de Teerão. Foi nesta zona que o voo 752 deixou de estabelecer comunicações antes de se despenhar perto da capital iraquiana.
As imagens captadas mostram uma pequena explosão após o avião ter sido atingido por um objeto. De acordo com o jornal norte-americano, a aeronave não terá caído imediatamente, continuando a voar durante alguns minutos enquanto tentava regressar ao aeroporto.
[O vídeo verificado e divulgado pelo The New York Times:]
O vídeo, verificado pelo The New York Times, foi divulgado minutos depois de Justin Trudeau ter revelado que as autoridades canadianas têm provas que mostram de forma clara que o voo da companhia aérea ucraniana foi atingido por um míssil terra-ar iraniano. Trudeau não excluiu a hipótese de se ter tratado de um acidente.
Temos informações de múltiplas fontes, nomeadamente dos nossos aliados e dos nossos serviços, que indicam que o avião foi abatido por um míssil terra-ar iraniano. Pode não ter sido intencional”, declarou o primeiro-ministro canadiano, que sempre se mostrou contra o ataque aéreo dos Estados Unidos da América, que culminou na morte do general Qasem Suleimaini.
Questionado pelos jornalistas sobre se considerava que o ataque ao general iraniano tinha sido a causa da queda do Boeing 737-800, Trudeau afirmou que era “demasiado cedo para tirar conclusões ou para atribuir culpas ou responsabilidades em qualquer proporção”. “As evidências sugerem que a causa provável, mas precisamos de uma investigação completa e credível para estabelecer exatamente o que aconteceu. É isto que estamos a pedir e é isto que esperamos que aconteça.”
Durante a conferência de imprensa, o governante frisou ser “extremamente importante que a investigação seja credível e minuciosa” e garantiu que a investigação ao acidente contará com a participação dos parceiros internacionais. Trudeau mostrou-se ainda disponível para conversar com “qualquer pessoa para conseguir respostas” sobre o que se passou em Teerão.
No avião ucraniano, seguiam 176 pessoas, das quais, pelo menos, 63 eram canadianas. Segundo Justin Trudeau, 138 passageiros tinham o Canadá como destino final. O voo de ligação chegou a Toronto com muitos lugares vazios.
"The plane was shot down by an Iranian surface-to-air missile, this may well have been unintentional"
Canadian PM Justin Trudeau calls for a "thorough investigation" into crash of Ukrainian plane near Tehran killing 176 people, including 63 Canadianshttps://t.co/LuXBhmYD8X pic.twitter.com/1ed5TfCa8D
— BBC Breaking News (@BBCBreaking) January 9, 2020
As revelações levaram, entretanto, a Austrian Airlines e a Lufthansa a cancelarem os voos previstos para Teerão. No caso da companhia área alemã, a decisão foi tomada quando um dos seus aviões já fazia a viagem, pelo que recebeu ordem para voltar para trás e regressar a Frankfurt.
As duas empresas dizem que vão continuar a avaliar a situação junto das autoridades locais e internacionais.
A Newsweek avançou durante a tarde desta quinta-feira, citando fontes oficiais norte-americanas, que a aeronave ucraniana terá sido atingida acidentalmente por um sistema antiaéreo russo, conhecido como “Gautlet”, disparado pelos iranianos. Uma outra fonte frisou à ABC News que era a teoria era “altamente provável”.
As autoridades iranianas rejeitaram imediatamente esta tese. Na opinião dos iranianos, a hipótese não faz sentido. “Vários voos domésticos e internacionais voam ao mesmo tempo no mesmo espaço aéreo iraniano à mesma altitude de oito mil pés, e essa história de ataque com mísseis (…) não podia estar mais incorreta”, declararam o presidente da Organização de Aviação Civil do Irão e o vice-ministro dos Transportes em comunicado. “Esses rumores não fazem qualquer sentido”.
Irão considera “questionáveis” informações canadianas
O Irão classificou as informações recolhidas pelos canadianos como “relatos questionáveis”. De acordo com a agência France-Presse, Teerão convidou Otava a “partilhar” com a comissão de inquérito iraniana, criada depois de o voo comercial ter caído, as provas reunidas.
O Ministério das Relações Exteriores do Irão convidou também a Boeing, fabricante da aeronave, a “participar” na investigação.
Relatório preliminar fala em tentativa de regresso ao aeroporto
O Boeing 737-800 da transportadora aérea ucraniana tinha partido há apenas dois minutos do aeroporto internacional Tehran Imam Khomeini, em Teerão, rumo a Kiev quando as comunicações cessaram, pouco depois de o Irão ter lançado o ataque às bases com forças norte-americanas no Iraque.
Segundo um relatório preliminar ucraniano, a tripulação não terá tentado pedir ajuda via rádio, mas estaria a tentar regressar a Teerão quando o avião se despenhou. O aparelho partiu do aeroporto iraniano às 6h12 desta quarta-feira (hora local). O acidente provocou a morte das 176 pessoas a bordo — 83 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos.
As autoridades ucranianas, que enviaram para Teerão uma equipa de 45 investigadores para participar no inquérito em curso, começaram por avançar que o acidente teria sido provocado por problemas mecânicos, mas acabaram por recuar na explicação, afirmando que não havia garantia de falhas técnicas.
Posteriormente, esta quinta-feira, o secretário do conselho de segurança nacional da Ucrânia, Oleksiy Danylov, afirmou que estava a ser investigada a possibilidade de o avião ter sido abatido por um míssil russo, uma hipótese que começou a circular pela Internet depois de terem surgido online imagens do que aparenta ser um míssil Tor M-1, num subúrbio a sudoeste de Teerão.
Segundo Danylov, os investigadores ucranianos pretendiam procurar vestígios do projétil no local, embora estivessem a ser exploradas outras hipóteses. “Estamos a avaliar de forma minuciosa todas as teses, que são sete”, indicou à agência France-Presse Oleksiy Danylov. Por enquanto, “nenhuma é prioritária”.
A Ucrânia lançou entretanto um apelo a parceiros internacionais. Num comunicado emitido pelo gabinete do presidente ucraniano e citado pela CNN, foi adiantado que Volodymyr Zelensky esteve ao telefone com vários líderes, incluindo com os primeiro-ministros do Canadá e Suécia, e que o “país está interessado em descobrir a verdade”. “Assim, viramo-nos para os parceiros internacionais da Ucrânia: se tiverem indícios que ajudem na investigação, pedimo-vos que as forneçam.”
Donald Trump: “Tenho as minhas suspeitas. Alguém pode ter cometido um erro”
Questionado pelos jornalistas na Casa Branca sobre a hipótese de o avião da transportadora aérea ucraniana ter sido abatido por um míssil do Irão, Donald Trump admitiu ter as suas “suspeitas”. “Algumas pessoas dizem que foi [ uma falha mecânica]. Pessoalmente, não acho que seja essa a questão”, começou por dizer o Presidente. “Bem, tenho as minhas suspeitas, mas não as quero revelar. Foi algo trágico.”
“[O avião] estava a sobrevoar um bairro complicado [nos arredores de Teerão] e alguém pode ter cometido um erro”, disse ainda Trump, citado pela Newsweek. “Não tem nada a ver connosco.”
O Boeing 737-800 da transportadora aérea ucraniana tinha partido há apenas dois minutos do aeroporto internacional Tehran Imam Khomeini, em Teerão, rumo a Kiev quando as comunicações cessaram, pouco depois de o Irão ter lançado o ataque às bases com forças norte-americanas no Iraque.
Boris Johnson diz que há “um conjunto de informações” que apontam para um míssil iraniano
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também veio dizer, entretanto, que há “um conjunto de informações” que mostram que o avião “foi abatido por um míssil terra-ar iraniano”.
Isto pode bem ter sido não intencional. Estamos a trabalhar com o Canadá e com os nossos parceiros internacionais e tem agora de haver uma investigação completa e transparente”, disse numa declaração.
O desastre aéreo vitimou três britânicos. “As informações que temos são muito perturbadoras e estamos a analisá-las com urgência”, tinha antes dito um porta-voz do gabinete do primeiro-ministro, sem fornecer mais pormenores, após um contacto telefónico entre Johnson e o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy.
Johnson esteve também ao telefone com o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, apelando ao cessar das retaliações militares na região. Durante a chamada, que durou cerca de 20 minutos, foi discutida “a situação na região na sequência da morte de Qassem Suleimani e o primeiro-ministro pediu o fim das hostilidades”, referiu o porta-voz de Downing Street, citado pelo The Guardian. Segundo a agência de notícias iraniana, a ISNA, Rouhani frisou o papel de Suleimani na luta contra o Estado Islâmico. “Não se sentiria seguro em Londres se não fosse pelos esforços levados a cabo por Suleimani”, disse o Presidente iraniano.
Lembrando que trabalhou com Qassem Suleimani durante 40 anos, Rouhani defendeu que a imagem do general difundida no ocidente não corresponde à realidade e que a resposta ao seu assassínio foi legítima e proporcional. O Presidente disse ainda que, se os Estados Unidos repetirem o ataque, receberão uma resposta perigosa. Segundo Hassan Rouhani, os norte-americanos não compreendem o que se passa na região.
Durante a chamada telefónica, Boris Johnson sublinhou também “o compromisso do Reino Unido para com [o acordo internacional nuclear com o Irão] o JCPOA e para com o diálogo contínuo para evitar a proliferação nuclear e reduzir a tensão”, apontou também o porta-voz. “Ele abordou a detenção e maus tratos de Nazanin Zaghari-Ratcliffe e de outros iranianos com dupla nacionalidade e pediu a sua libertação imediata.”
Ucrânia pede “apoio incondicional” da ONU. Embaixador iraniano garante que está a ser realizada investigação “minuciosa”
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Sergiy Kyslytsya, pediu, no Conselho de Segurança da ONU, “apoio incondicional” para os peritos ucranianos que investigam o desastre aéreo “Foram perdidas 176 vidas inocentes”. “As circunstâncias desta catástrofe ainda não são claras. Cabe agora aos peritos investigar e encontrar respostas à questão de saber o que provocou a queda [do avião]. Para que isso seja possível, os nossos peritos devem receber um apoio incondicional para o seu inquérito”, disse.
O embaixador iraniano na ONU, Majid Takht Ravanchi, garantiu no decorrer da mesma reunião do Conselho de Segurança esta quinta-feira que está a ser conduzida uma “investigação minuciosa” ao acidente e expressou as condolências às famílias das vítimas.