A reunião terminou pouco tempo antes das 17h, com Carlos, Harry e William a serem vistos a deixar a propriedade de Sandringham, onde Isabel II se encontra instalada desde o Natal. Em comunicado, o Palácio de Buckingham anunciou respeitar a decisão dos Sussex de “criarem uma nova vida enquanto jovem família”.
“Hoje, a minha família discutiu de forma bastante construtiva o futuro do meu neto e da sua família”, começou por anunciar a rainha no comunicado emitido poucos minutos após o final da reunião, em Sandringham. “A minha família e eu apoiamos inteiramente o desejo de Harry e Meghan de criarem uma nova vida enquanto jovem família. Embora preferíssemos que se mantivessem a trabalhar a tempo inteiro como membros da família real, respeitamos e entendemos a sua vontade de levar uma vida mais independente […]”, afirmou ainda a rainha através do comunicado.
“Harry e Meghan deixaram bem claro que não querem estar dependentes de fundos públicas nas suas novas vidas. Foi acordado que haverá um período de transição, durante o qual os Sussex vão passar tempo no Canadá e no Reino Unido. A minha família tem questões complexas para resolver e há mais trabalho para fazer, mas pedi que as decisões finais fossem tomadas nos próximos dias”, concluiu o comunicado.
Harry e Meghan querem afastar-se da agenda de compromissos reais, deixando os papéis de “membros seniores” da família real, mudando-se para a América do Norte e reclamando “independência financeira”. O caso ficou imediatamente conhecido como Megxit. A decisão foi divulgada através do Instagram depois de Isabel II ter, alegadamente, pedido ao casal que esperasse para tornar pública a notícia. As circunstâncias puseram, automaticamente, o casal em rota de colisão com os valores e preceitos da monarquia britânica. Harry pode ser o sexto na linha de sucessão, mas a sua saída do núcleo duro da realeza tem levantado questões sobre títulos, segurança, sustentabilidade financeira e, em última análise, sobre a índole dos próprios intervenientes.
A rainha apressou-se a buscar uma resolução para o caso, desde logo reunindo os gabinetes reais. Harry e Meghan, que haviam voado para Londres no início da última semana, depois de sete semanas de retiro no Canadá, período que inclui toda a época festiva. A duquesa regressou, o duque permaneceu em terras de sua majestade a aguardar o desfecho. Esta segunda-feira, Isabel II chamou Carlos, William e Harry a Sandringham para uma reunião, que terá tido início pelas 14h, depois de Harry ter chegado de carro. A Meghan foi dada a possibilidade de participar na reunião à distância por via telefónica, embora não haja qualquer confirmação de que o tenha feito.
Reunião em Sandringham, a ordem de trabalhos
Segundo o The Guardian, podem ser seis os tópicos a debater neste encontro de família, a começar pelos próprios títulos. Ao mesmo tempo de manifestaram vontade de se afastar dos afazeres reais, Harry e Meghan não se mostraram dispostos a abdicar os títulos de duque e duquesa de Sussex, domínio registado em março do ano passado para a nova página oficial lançada na última semana. A residência do casal e do bebé Archie pode ser outro dos temas em cima da mesa. Se de facto Meghan quiser pedir cidadania britânica, não poderá passar mais de 90 dias fora do país. Por outro, com a possibilidade de mudança parcial para o continente norte-americano, surge a dúvida: o que acontece à Frogmore Cottage? A casa é propriedade da rainha e foi remodelada no ano passado, no valor de 2,7 milhões de euros, para alojar o casal. O valor foi suportado pelos contribuintes.
% of people with a positive opinion of these major royals:
The Queen, 80% (-2 since October)
Prince William, 79% (-2)
Catherine, Duchess of Cambridge, 70% (-6)
Prince Harry, 55% (-16)
Meghan, Duchess of Sussex, 38% (-17)https://t.co/Y4Ztop6V5k pic.twitter.com/HzPePn1mfF— YouGov (@YouGov) January 13, 2020
A segurança é um dos tópicos mais abordados deste que o Megxit veio a público. Enquanto membros da família real, Harry e Meghan continuariam a exigir segurança a tempo inteiro, uma despesa que aumentaria exponencialmente para a casa real britânica. Segundo o Evening Standard, Justin Trudeau já terá sugerido que seja o estado canadiano a cobrir esses custos, mas será que os contribuintes canadianos estão dispostos a isso? O financiamento do casal também tem sido tema de conversa. Os Sussex pedem “independência financeira”, mas enquanto membros da família real abrangidos pelos Fundo de Soberania (subvenção público com dinheiro dos contribuintes britânicos) estão proibidos de obter rendimentos a partir de atividades comerciais. Mesmo que fiquem livres desse estatuto, podem facilmente ser acusados de ganhar dinheiro à conta do prestígio real.
Divididos entre o Reino Unido e o Canadá, o The Guardian também antecipa os impostos como outra das questões a debater, reiterando que ambos os países poderão reclamar direitos sobre os rendimentos do casal. Por fim, a manter algumas funções de representação da coroa britânica, é preciso decidir como é que o Sussex irão equilibrar obrigações oficiais e o seu próprio estilo de vida, o que engloba causas sociais e ambientais e uma possível fundação.
Depois do comunicado de Isabel II, tornado público ao final da tarde, a maioria dos pontos continua por esclarecer. A monarca afirma apenas compreender a vontade dos duques de Sussex e tudo leva a crer que manterá os títulos nobiliárquicos do casal. Ao mesmo tempo, a rainha parece aceitar que Harry e Meghan continuem a desempenhar um papel de representação dos interesses da coroa britânica, mesmo do outro lado do Atlântico.
Bullying e racismo: os pontos nos is
O encontro desta segunda-feira à tarde pode ter chegado ao fim sem que decisões fossem tornadas públicas, mas no decorrer do dia outros esclarecimentos tiveram lugar, a começar pelas declarações de Priti Patel, ministra britânica da Administração Interna, que veio contrariar a teoria de Harry de que o alegado ataque da imprensa a Meghan Markle seria motivado por racismo encoberto. Na mesma tarde, Harry e William vieram denunciar como falsa a notícia de que o afastamento dos Sussex seria uma consequência de bullying por parte do resto da família. “Para irmãos que se preocupam tanto com as questões relacionadas com a saúde mental, este uso de linguagem inflamatória é ofensiva e potencialmente prejudicial”, esclareceram.
O príncipe Harry fica no Reino Unido pelo menos até quinta-feira, dia em que o duque de Sussex tem o primeiro compromisso oficial depois do despontar do caso Megxit, na qualidade de patrono da Rugby Football League Ralph Rimmer. O evento consiste numa receção agendada para o Palácio de Buckingham.