A denúncia chegou às redes sociais, na segunda-feira, através de uma publicação da SOS Racismo: Cláudia Simões, 42 anos, “cidadã negra portuguesa”, alegadamente agredida por agentes da PSP, domingo à noite, na Amadora, em frente à filha Vitória, de 8 anos, ficou “num estado grave” e foi conduzida ao Hospital Amadora-Sintra. A associação já pediu a suspensão imediata do agente envolvido nas agressões. Em comunicado, escreveu ainda que “tudo fará para que o caso seja conduzido até às últimas consequências para que se faça justiça e que se acabe com a impunidade da violência policial racista”.
Em entrevista ao jornal Contacto, Cláudia Simões conta que os incidentes começaram no autocarro 163 e depois de a filha se ter esquecido do passe. “Nós entrámos no autocarro e quando a minha filha viu que não tinha o passe com ela, o motorista disse para sair. Eu respondi-lhe que ela tem o passe e que quando chegássemos ao nosso destino, o meu filho ia lá estar com o passe da menina”, relata.
Depois de entrar na viatura, Cláudia alega que não se dirigiu mais ao motorista, mas quando o autocarro parou no seu destino, no Bairro do Bosque, o condutor saiu disparado em direção a um polícia que estava ali perto.
“Força estritamente necessária face à sua resistência”
Em comunicado, a Direção Nacional da PSP, relata que o motorista terá chamado o agente que estava de patrulha na rua porque havia uma mulher que se recusava a “proceder ao pagamento da utilização do transporte da sua filha, e também pelo facto de o ter ameaçado e injuriado”. E apresenta uma versão diferente do caso: “A cidadã, de imediato e sem que nada o fizesse prever, mostrou-se agressiva perante a iniciativa do polícia em tentar dialogar, tendo por diversas vezes empurrado o polícia com violência, motivo pelo qual lhe foi dada voz de detenção”, pode ainda ler-se no comunicado.
“A partir desse momento, alguns outros cidadãos que se encontravam no interior do transporte público tentaram impedir a ação policial, nomeadamente pontapeando e empurrando o polícia.”
A PSP afirma ainda que Cláudia tentou resistir à detenção, mordendo a mão e o braço direito do agente. Terá sido esse comportamento mais agressivo que ditou a abordagem dos polícias. Não são nunca referidos nem confirmados os confrontos dentro do carro patrulha, mas é afirmado que foi utilizada “a força estritamente necessária para o efeito face à sua resistência”.
A situação só ficou resolvida com a chegada de reforço policial, para conter as pessoas no local e promover a condução da mulher detida à esquadra para formalização da detenção e notificação para comparência em tribunal.
A versão de Cláudia, ao Contacto, é muito diferente. “Ele agarrou-me, fez um mata-leão e caiu comigo de costas”, denuncia a mulher. Ao lado, ouvia a pequena Vitória: “Não mate a minha mãe, por favor.”
Admite, no entanto, que mordeu a mão do polícia, como diz o comunicado da PSP, mas porque estava a sufocar e pensava que ia morrer. Os agentes, argumenta, terão tentado levá-la para a esquadra da Boba, no Casal de S. Brás, mas não chegou a entrar — o que contraria a publicação da SOS Racismo, onde se lê que a cidadã foi alegadamente agredida dentro da esquadra de Casal de São Brás.
A polícia chamou uma ambulância para a conduzir para o Hospital Amadora-Sintra e ali, diz, também foi maltratada e a médica terá dito que “vocês é que arranjam problemas com os polícias”. Cláudia Simões vai apresentar-se na próxima quarta-feira no Tribunal da Amadora.
Mulher agredida por PSP diz ter sido alvo de comentários racistas https://t.co/cQ3YB1nG3t
— TVI Notícias (@tviultimas) January 21, 2020