Luís Montenegro ainda nem tinha perdido as diretas contra Rui Rio e já destacados nomes do passismo (que apoiavam Montenegro à data) chamavam por Pedro Passos Coelho. Tanto chamaram que ele apareceu. Remetido ao silêncio desde fevereiro de 2018, altura em que abandonou a liderança do PSD e abdicou do lugar de deputado, Passos Coelho apareceu pela primeira vez em público, a falar de política nacional, no passado domingo, na tomada de posse dos novos órgãos dirigentes da concelhia do PSD de Ponte da Barca, em Viana do Castelo. O calendário, não foi por acaso: uma semana depois das diretas e 15 dias antes do congresso que vai consolidar mais um mandato de Rio à frente do PSD. Mas não fica por aqui: uma semana depois do congresso vai voltar a aparecer, desta vez para apresentar o novo livro do ex-comissário europeu, seu amigo, Carlos Moedas.
PSD. Apoiantes de Montenegro já pedem regresso de Passos (que não está para aí virado)
Esta será a segunda intervenção pública (e política) de Passos no espaço de um mês. Depois de Ponte da Barca, onde foi na semana passada a convite do líder concelhio, que é seu amigo de longa data, desta vez a intervenção vai ser mesmo em Lisboa, no próximo dia 18 de fevereiro. Em causa está a apresentação do livro do ex-comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, intitulado “Vento Suão: Portugal e a Europa”. Segundo se lê no convite, a apresentação está marcada para as 18h30, no El Corte Inglês.
O timing não é inocente. O presidente da concelhia social-democrata de Ponte da Barca, José Alfredo Oliveira, confirmou ao semanário Expresso que a data para a aparição de Passos Coelho foi acertada em função dos calendários do PSD: uma semana depois das direitas que deram vitória a Rio, para não incomodar a eleição, e 15 dias antes do congresso da entronização. Ou seja, não demasiado perto, não demasiado longe. O objetivo é não pisar calcanhares a ninguém mas, ao mesmo tempo, condicionar posições e estratégias para o ciclo que se segue (e que deverá durar até 2023), como quem diz ‘eu (ainda) estou aqui’. Ou, pode vir a estar.
O conteúdo da intervenção também não foi inocente. Falando precisamente no mesmo domingo em que o CDS elegia Francisco Rodrigues dos Santos como novo líder, Passos Coelho deixava recados que iam do PSD ao CDS: pedia uma união de esforços à direita, e até argumentava que essa união era agora mais possível do que antes já que os protagonistas são novos e não têm anti-corpos da era ‘troika’. “Podemos dizer que aqueles que estiveram no Governo juntos, no passado, com essas responsabilidades fecharam um ciclo, em definitivo, e abriram outro. Ainda para mais com pessoas e dirigentes que não tiveram nada a ver nem com esse Governo, nem com outros passados, destes partido”, disse naquele que foi um “voto público” para que a direita se una em nome das reformas estruturais.
Passos Coelho pede aliança à direita para fazer as reformas que o país precisa
“Temos de saber acomodar as nossas divergências e saber comportar-nos à altura daqueles que estão a ouvir, que não estão nada interessados em saber das nossas zangas. Isso não interessa para nada. As nossas zangas são connosco. (…) Não podemos andar sempre a bater na mesma tecla, senão não saímos do sítio”, disse ainda o ex-primeiro-ministro numa inesperada intervenção política ao fim de dois anos de interregno. É o regresso de Passos Coelho? Um regresso para ficar no banco? Até quando?