“Onde é que estavas no 25 de abril?”. A pergunta foi celebrizada pela personagem Artista Bastos de Herman José na rubrica Monólogos secretos Herman Enciclopédia, que tinha como referência Armando Baptista-Bastos e o seu programa de entrevistas Conversas Secretas. Contas feitas, já passaram duas décadas mas ainda hoje há quase um reflexo instintivo de associar a pergunta a esse hit do final dos anos 90. Onde estava por exemplo Johan Cruyff no 25 de abril de 1974? A celebrar o 27.º aniversário nos primeiros tempos de Barcelona antes de se sagrar vice-campeão europeu de seleções. E a 25 de abril de 1982? Na segunda passagem pelo Ajax. Com 35 anos.

Cruyff, considerado uma das personalidades mais importantes do futebol pela forma como conseguiu não só interpretar como expoente máximo o Futebol Total da Laranja Mecânica de Rinus Michels mas também criou a sua própria ideia materializada no Dream Team do Barcelona nos anos 90 ainda hoje seguida por muitos, terminou a carreira acabado de fazer 38 anos no Feyenoord, depois de dois anos com menos utilização no Ajax. Pelé, que fez toda a carreira no Santos, dava os primeiros passos no New York Cosmos. Maradona cumpria os três últimos anos no Boca Juniors. Eusébio regressara dos Las Vegas Quicksilvers para fazer um último ano em Portugal pelo União de Tomar e acabar a carreira no New Jersey Americans (ainda jogou futebol indoor no Buffalo Stallions). Alfredo Di Stéfano ainda era opção no Real Madrid, onde faria três anos e mais um no Espanyol.

Ronaldo Fenómeno fizera uns meses antes o último jogo pelo Corinthians. Platini tinha acabado a carreira. Zinedine Zidane também. Marco Van Basten, por motivos físicos quando estava em grande, também. Há poucos jogadores a ganhar a Bola de Ouro que tenham chegado aos 35 anos no topo da condição, ainda a disputar títulos individuais e coletivos no plano internacional (Lothar Matthäus foi aquele que ainda se aproximou mais). Essa é uma das características que melhor definem Cristiano Ronaldo – mais do que ter conquistado inúmeros recordes (ainda no último encontro tornou-se o segundo mais rápido a chegar ao golo 50 pela Juventus e também o primeiro a par de Trezeguet a marcar em nove jornadas consecutivas da Serie A), o internacional português marca a diferença pelos recordes que tem ainda em mente atingir. E que daqui para a frente são sobretudo sete.

Os 100 golos pela Seleção e os 109 do iraniano Ali Daei

Se o rendimento de Ronaldo na Juventus na presente temporada está a ser melhor do que no ano passado, os números que alcançou nos seis jogos de qualificação para o Campeonato da Europa constituem algo ainda mais assombroso: um golo na Sérvia, quatro na Lituânia, um ao Luxemburgo em casa, um na Ucrânia, três à Lituânia em casa e ainda mais um no Luxemburgo. Assim, e em 164 internacionalizações, o avançado está apenas a um do golo 100 pela Seleção. Ainda mais improvável mas cada vez mais ao alcance? Está apenas a dez golos dos 109 de Ali Daei, o antigo dianteiro iraniano que tem ainda hoje o recorde de melhor marcador de sempre de seleções.

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A sexta Bola de Ouro. Pelo menos a sexta, para igualar Messi

No final de 2017, numa entrevista ao L’Équipe por altura da entrega da Bola de Ouro, Ronaldo assumiu que não queria ficar por ali e visou uma sexta e uma sétima distinção como melhor jogador do mundo. Em 2018, Luka Modric furou a dinastia dos dois predestinados do futebol mundial mas, no ano passado, Messi voltou a passar para a frente com a sexta Bola de Ouro. Apesar de ter sido campeão, de ter ganho a Supertaça, de ter vencido a primeira Liga das Nações e de ter protagonizado uma inesperada transferência de 100 milhões de euros aos 33 anos, o português não foi além do terceiro lugar mas nem por isso esse objetivo deixou de estar presente.

Ganhar a Liga dos Campeões pela terceira equipa diferente (como Seedorf)

2020 é ano de Europeu, o que tem sempre o seu peso na atribuição da Bola de Ouro (Modric, vice-campeão mundial de seleções pela Croácia em 2018, que o diga), mas olhando para os últimos anos há sempre um peso especial da Liga dos Campeões na escolha final do vencedor. Para a Juventus, para o seu presidente Agnelli e para Ronaldo, esse é o grande objetivo da temporada para uma equipa que se sagrou campeã italiana nos derradeiros oito anos e que tem uma hegemonia nacional que não parece ser colocada em causa. E o português poderia tornar-se apenas o segundo jogador da história a ganhar a Champions por três clubes diferentes (Manchester United, Real Madrid e Juventus) depois de Clarence Seedorf (Ajax, Real Madrid e AC Milan).

Ser o melhor marcador da Serie A (depois da Premier e da Liga)

Ciro Immobile continua de pé quente na fantástica campanha da Lazio na Serie A (terceiro lugar, apenas a dois pontos do Inter e a cinco da Juventus), levando um total de 25 golos nas 22 jornadas oficiais, mas os 19 golos de Ronaldo mantêm o português na luta pelo prémio de melhor marcador do Campeonato – até porque leva um total de nove jornadas consecutivas a marcar, algo que não acontecia nos bianconeri desde 2005 com David Trezeguet. Depois de ter sido uma vez o melhor marcador da Premier e três da Liga, falta apenas a Serie A.

Primeiro, o recorde de Romário. Depois, o máximo de Pelé

Com os dois golos apontados de grande penalidade frente à Fiorentina, Ronaldo superou a marca de golos em jogos oficiais do mítico avançado alemão Gerd Müller (720), já depois de ter ultrapassado os registos de Puskas não só a nível de seleções mas também de total na carreira. Agora, o português tem apenas dois nomes consagrados do futebol brasileiro pela frente, com números que mantendo o atual ritmo podem ser atingidos em breve: o português, que soma agora 722 golos na carreira entre Sporting, Manchester United, Real Madrid, Juventus e Seleção Nacional, está apenas a 12 de Romário e a 45 do recorde máximo de Pelé.

O primeiro a participar em cinco Europeus (e a ser o melhor marcador)

Cristiano Ronaldo, que participou pela primeira vez na fase final de um Campeonato da Europa em 2004 (com um golo na jornada inaugural frente à Grécia), pode tornar-se em 2020 o primeiro de sempre a jogar cinco fases finais do Europeu, superando nomes como Lothar Matthäus, Peter Schmeichel, Del Piero, Ibrahimovic, Thuram, Buffon, Cech, Thuram ou Schweinsteiger. Em paralelo, e numa altura em que leva nove golos nas quatro fases finais em que participou, o português pode tornar-se o melhor marcador de sempre superando Michel Platini (nove).

Como será quando chegar o Mundial de 2022?

Ronaldo irá bater o recorde de presenças em fases finais do Europeu e é bastante provável que se torne também o melhor marcador (basta marcar um golo). Dois anos depois, ou dois anos e meio depois porque a prova será jogada no Qatar, chegará o Mundial de 2022. Aí, o português terá 37 anos, a poucos meses de cumprir os 38. Estará ainda presente na competição, naquela que seria também a quinta participação em fases finais? Tudo aponta para que sim. Aliás, no Campeonato do Mundo existe apenas um recorde mais complicado de bater: tornar-se o mais velho de sempre a marcar num jogo da fase final, depois de Roger Milla, aos 42 anos, brilhar pelos Camarões.