Uma hora antes da reunião pública de executivo desta segunda-feira, Tiago Guedes, diretor do Teatro Municipal do Porto, acusado de censurar um texto de Regina Guimarães, foi ouvido, a pedido do PS, num encontro privado com os vereadores. Antes da ordem do dia, Rui Moreira aproveitou para esclarecer a polémica, exatamente uma semana depois de ela se ter tornado pública, com Tiago Guedes presente na sala
O presidente da Câmara Municipal do Porto começou a sua intervenção a garantir ter “total confiança” no diretor artístico e no que este “tem sido capaz de fazer”. Moreira lembrou que Tiago Guedes foi escolhido através de um concurso público, fazendo jus a “um dos aspetos fundamentais” do atual executivo para o TMP, de este ser “livre de quaisquer intervenções do poder político”. “Creio que essa isenção por parte do executivo tem sido permanente”, sublinhou.
O autarca considera consensual o trabalho de Tiago Guedes nos últimos seis anos, apesar de reconhecer que “muitas vezes” aquilo que se passa no teatro pode não estar de acordo com o gosto e as opções particulares de cada um.
No dia 3 de fevereiro, a dramaturga Regina Guimarães acusou a direção do TMP de censurar um texto da sua autoria, escrito para integrar a folha de sala do espetáculo “Turismo”, da Companhia A Turma, que esteve em cena nos dias 31 de janeiro e 1 de fevereiro no Teatro do Campo Alegre. Uma opinião partilhada pelo encenador e autor da peça, Tiago Correia, que acusou o diretor não só de censura, mas também de abuso de poder, chantagem e ameaça. Em causa está uma nota de rodapé onde a escritora critica a noção de “cidade líquida” de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Câmara do Porto, que morreu em 2015.
Sobre o assunto, Moreira lembra que foi contactado pelo diretor do TMP sobre “uma folha de sala que levantava algum incómodo”.
Embora compreendesse as sensibilidades e as lealdades, entendi que o texto devia ser publicado na íntegra. Fiz isto na consciência que essa decisão também seria criticada (…) tenho dúvidas se se tivesse sido publicada essa folha de sala, haveria hoje quem provavelmente dissesse que nós não estávamos a ser fiéis à memória do Paulo Cunha e Silva”, considerou Rui Moreira.
O autarca justifica a sua posição dizendo que o público do Porto é “suficientemente adulto para fazer ele próprio o seu juízo”, destacando os “vários sentimentos em conflito e em confronto” num episódio como este. “Continuo a entender que a folha de sala devia ter sido publicada. Devemos confiar nos portuenses.”
Ainda que a sua opinião não tivesse sido levada em conta, Rui Moreira entende que o TMP “tem alguém responsável pelas escolhas que são feitas” e será ele, “em última analise”, o responsável por decisões como esta.
Oposição elogia gestão do teatro, mas não quer que episódio se repita
Manuel Pizarro, vereador socialista, enalteceu a agenda “tolerante, inclusiva, plural e participada” do TMP e afirma que o partido se revê na forma como este equipamento cultural tem sido gerido. No entanto, o vereador critica o sucedido e diz mesmo que a “decisão de não publicar é de natureza censória”, não existindo “outra maneira de a classificar”. “Não me revejo nada na maneira como a Regina Guimarães se referiu ao Paulo Cunha e Silva nessa folha de cena, mas acho que ela tem o direito fazê-lo.”
Teatro Municipal do Porto rejeita censura a texto de Regina Guimarães
Apesar de fazer uma “avaliação negativa” da decisão de Tiago Guedes, Pizarro acredita ser “injusto” lançar na cidade uma campanha contra o TMP com base no argumento de que a sua ação limita a liberdade criativa e de expressão.
Do lado do PSD, Álvaro Almeida, confessa não gostar de “muita coisa que aparece no TMP”, criticando também a “má decisão” de não publicar o texto em questão. Uma opinião também partilhada por Ilda Figueiredo, vereador da CDU, que encerrou a sua intervenção sobre o assunto afirmando que o erro pode servir como ensinamento “para que situações estas não se repetiam mais no TMP ou noutro lado qualquer”.