A UpHill, uma startup que tem como objetivo manter os profissionais a par das constantes atualizações no campo da saúde, criou uma plataforma de acesso aberto que permite aos médicos desenvolver e uniformizar as representações de protocolos clínicos. A UpHill Notation permite aceder e elaborar protocolos clínicos com uma linguagem comum a todos os profissionais de saúde, para orientar a ação dos médicos perante um problema de saúde específico e reduzir, assim, as variações e interpretações diferentes na prática clínica.
“Percebemos recentemente que a maior parte dos algoritmos dos protocolos de atuação clínica tinham todos um formato diferente, como se estivessem quase escritos numa língua diferente”, explicou ao Observador Eduardo Freire Rodrigues, presidente executivo e cofundador da UpHill. Ao perceber a lacuna de uma linguagem universal a todos os médicos para explicar as melhores formas de atuação clínica, a empresa decidiu agir.
Se olharmos para os protocolos da Sociedade Europeia de Cardiologia, eles vão estar feitos de uma maneira: utilizam determinadas cores, uma determinada forma e uma determinada linguagem. Mas se olharmos para os protocolos da Sociedade Europeia da Doença Pulmonar, por exemplo, vemos uma formatação completamente diferente. É como se os médicos não tivessem uma forma normalizada, padronizada, para representar aquilo que são as melhores práticas clínicas, os passos para a melhor abordagem”, explica Eduardo Freire Rodrigues.
A plataforma começou por ser testada a nível privado com alguns profissionais de saúde em Lisboa, mas está agora disponível para todos os médicos, com acesso gratuito, estando já a ser utilizada pelos profissionais do grupo Luz Saúde. O site da UpHill Notation tem também “um conjunto de ferramentas de apoio, de documentos e de formas de apoio para que os profissionais de saúde consigam aprender esta notação — representação através de símbolos — e representá-la”.
Para utilizar a UpHill Notation, explica o responsável da startup portuguesa, é apenas preciso “ter conhecimento sobre como funciona uma determinada notação”, “um quadro branco e um conjunto de post-it”. A partir daí, “consegue-se representar qualquer protocolo de instrução clínica”. Esta ferramenta é a primeira a nível internacional a fornecer um conjunto de instruções universais que permite aos médicos representarem da mesma forma os diferentes protocolos clínicos.
Utilizando um exemplo básico de um post-it, há várias componentes que podem ser representadas por símbolos. O retângulo, por exemplo, serve para representar uma ação a ser feita pelo médico, como a prescrição de um exame ou receita. Já um losango representa uma (ou mais do que uma) decisão a ser tomada — que medicamento deve tomar, que exames devem fazer — e o círculo serve para representar o estado final do doente para o percurso que foi definido. Há também outras componentes, como os chavões, setas e linhas tracejadas. Todos eles com uma função específica na representação dos protocolos.
O maior desafio no desenvolvimento desta ferramenta, explica Eduardo, foi arranjar uma forma comum, generalizada e fácil de representar as atuações clínicas e que fosse facilmente transportada para as várias especialidades da medicina.
“Não queremos complicar, queremos que qualquer médico numa sala do seu serviço consiga com um conjunto de post its, um quadro branco e uma caneta colaborar com os seus colegas para definir quais são os protocolos de atuação clínica do seu serviço”, acrescenta o empreendedor. Os médicos podem enviar os protocolos criados através deste sistema, de forma a ser colocado na aplicação da UpHill.
A equipa da UpHill conta atualmente com dez pessoas na área de tecnologia e 15 na parte de consultores, pretendendo aumentar esta última equipa até ao próximo trimestre. O objetivo desta plataforma em open source, explicou Eduardo ao Observador, é estar constantemente em atualização. “Vamos abrir um fórum em que os próprios profissionais de saúde podem sugerir alterações, comentar a notação, para conseguirmos ter um sistema de protocolos de atuação que seja vivo e consiga adaptar-se”, sublinho o responsável.
Fundada em 2016, a UpHill nasceu para superar o desafio da demora das atualizações no campo da saúde e apresentar as melhores práticas clínicas, baseadas em evidência científica. O software da empresa assemelha-se ao programa normalmente utilizado pelos hospitais, onde o médico pode introduzir todos os dados sobre o doente e fazer a sua consulta normalmente.
UpHill. Os médicos portugueses que trocaram a bata pela programação
A primeira ronda de investimento que a empresa recebeu foi no ano passado, quando o grupo Luz Saúde investiu pela primeira vez numa startup e ajudou a UpHill a levantar uma ronda de financiamento de 600 mil euros, numa operação onde também participaram a Caixa Capital e a Busy Angels. Ainda antes, em 2016, a UpHill venceu o 18.º Prémio Nacional Jovem Empreendedor da Associação Nacional de Jovens Empresários, o que contribuiu para um investimento de 80 mil euros na empresa.