Enviada especial à Índia
Depois do passeio de elefante e do passeio pelo país de antecessores seus, Marcelo Rebelo de Sousa aterra na Índia apostado em “avanços concretos”. Não que desconsidere o trabalho diplomático de “abrir caminho” feito tanto nas visitas de Mário Soares (1992) como na de Cavaco Silva (2007), mas o atual Presidente considera que agora existe “uma nova fase de relacionamento dos dois países que se abriu e não vai parar”. E não deixará de reafirmar a “defesa dos direitos humanos”, junto do principal líder indiano.
Na visita, vai encontrar-se com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, contestado internamente por seguir uma linha cada vez mais nacionalista, com Marcelo a garantir que, nessa matéria, Portugal tem linhas vermelhas que o Presidente considera não estarem a ser ultrapassadas pelo Governo indiano. De “defesa dos direitos humanos, da consagração do direito internacional, da afirmação do primado da dignidade das pessoas”. “Índia e Portugal têm estado juntos na afirmação desses princípios que não deixarão de ser reafirmados pelos dois países durante esta visita”, garantiu o Presidente português quando confrontado com a onda nacionalista e a aprovação recente na Índia de uma legislação que a oposição acusa de ser discriminatória para a minoria muçulmana no país.
Nestes três dias da visita de Estado — que passará por Deli, Goa e Mumbai (antiga Bombaim) — Marcelo Rebelo de Sousa pretende apostar sobretudo na via dos negócios, “mais executiva, mais virada para o concreto, para a cooperação económica e financeira, para a cooperação científica e tecnológica, para a cooperação bilateral e multilateral e conjunta”. Vem “em linha”, promete o chefe de Estado, com o trabalho já feito pelo primeiro-ministro António Costa, nas duas visitas ao país (a última em dezembro) e na de Modi a Portugal.
Acabado de aterrar no país, em declarações aos jornalistas, Marcelo divide a relação entre os dois Estados em três fases: “A primeira, representada pela vinda do Presidente Mário Soares, foi a que correspondeu à afirmação das relações diplomáticas e do estreitamento de laços virados para o presente e para o futuro. A segunda fase, expressa na vinda do Presidente Cavaco Silva, foi o aprofundamento dessa cooperação no plano político, diplomático, bilateral e multilateral”. A terceira chega agora pela sua mão, na primeira vez de Marcelo na Índia.
Neste momento, Marcelo destaca “uma presença de empresas indianas em Portugal que não existia há dez ou cinco anos e que pode e deve e vai aumentar. E isso é uma fase muito diferente daquelas fundamentais que houve antes desta” visita. Agora, garante, “vê-se o interesse muito grande dos líderes máximos de grupos empresariais indianos em falarem com o Presidente português e do Presidente português em encontrar o maior número de empresário na Índia e de pôr em contacto o maior número de empresários portugueses com esses empresários indianos”.
Na bagagem, o Presidente leva a expectativa de assinar em solo indiano alguns acordos de cooperação, entre os quais um da Águas de Portugal para acompanhar a gestão do sistema de águas em Goa. Mas à chegada, Marcelo já trazia uma novidade sobre o país que visita: a Índia já vai ter estatuto de observador na próxima cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, prevista para setembro em Luanda.
“A Índia entende essencial o juntar-se ao número crescente dos países que são membros observadores associados da CPLP. E essa concretização na próxima cimeira é um passo muito importante”, sublinha o Presidente da República repetindo que também este novo estatuto mostra “uma nova fase de relacionamento dos dois países que se abriu e não vai parar. Uma característica da Índia é que nada pára, tudo vai crescendo muito rapidamente a um ritmo muito impressionante”.
E Marcelo também não vai parar, tem agenda cheia esta sexta-feira em Nova Deli, à noite parte para Mumbai para encontros com empresários indianos e no sábado segue para Goa, onde fechará esta visita de Estado. Da parte do Governo, na comitiva estão também o ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva e os secretários de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, e da Defesa, Jorge Seguro Sanches.