O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu esta terça-feira aos líderes mundiais para ajudarem a erradicar a poliomielite no Paquistão, durante uma cerimónia que visava defender a vacinação contra a doença.
“Apelo a todos os líderes políticos, religiosos e comunitários, para que apoiem a erradicação da poliomielite no Paquistão. Espero que isso possa ser feito”, afirmou Guterres durante a cerimónia, realizada numa escola na cidade de Lahore, no leste do país. O Paquistão é considerado o epicentro da doença, com 83% dos casos mundiais em 2019.
Num gesto simbólico, o secretário-geral da ONU administrou a si próprio três gotas da vacina contra a poliomielite, que pode causar paralisia e atrofia muscular nas extremidades do corpo.
António Guterres enfatizou que esta “é uma das poucas doenças que podem ser erradicadas do mundo nos próximos anos” e defendeu que isso deve tornar-se uma prioridade para o Paquistão e para a ONU.
A campanha começou na segunda-feira em todo o território do Paquistão e tem como objetivo vacinar 39,6 milhões de crianças menores de cinco anos.
A iniciativa conta com a participação de 265.000 vacinadores, 62% das quais são mulheres, segundo um porta-voz do Programa de Pólio no Paquistão, Zulfdiqar Babakhel.
“Quero deixar aqui um elogio aos corajosos vacinadores da poliomielite — que são sobretudo mulheres – que trabalham para acabar com a poliomielite no Paquistão”, referiu Guterres numa publicação feitaesta terça-feira na rede social Twitter, no terceiro dia de uma visita oficial ao país asiático.
I commend the brave polio vaccine workers — mostly women — working to stamp out polio in Pakistan.
Important gains have been made, but we need a concerted push to eradicate this awful disease. pic.twitter.com/xR34QiRjUI
— António Guterres (@antonioguterres) February 18, 2020
No Paquistão, os vacinadores são frequentemente alvo de ataques extremistas, já que muitos dos cidadãos consideram que vacinar é um ato “anti-islâmico” e que provoca infertilidade, constituindo assim uma campanha do Ocidente para controlar a natalidade dos muçulmanos.
Esta convicção e os consequentes ataques aos vacinadores são as principais razões que impedem a erradicação da doença no país.
Os atentados extremistas contra médicos e voluntários, além de polícias que fazem a segurança do pessoal que administra as vacinas, provocaram a morte de cerca de 100 pessoas nas últimas campanhas de vacinação.
Embora o número tenha vindo a reduzir-se nos últimos anos, esta terça-feira um polícia morreu e outros dois ficaram feridos quando o veículo em que viajavam para proteger o equipamento de vacinação foi atingido pela explosão de um dispositivo improvisado, na área tribal de Dera Ismail Khan (noroeste).
“De acordo com a investigação inicial, o polícia foi o alvo (do ataque) porque estava a participar na segurança da equipa de vacinadores da poliomielite“, disse a porta-voz da polícia local, Mirza Ali Khan.
O Paquistão registou 144 casos de poliomielite no ano passado, mais do que no conjunto dos quatro anos anteriores, o que representa 83% dos 173 casos contabilizados em todo o mundo durante 2019. Este ano, de acordo com o Programa de Erradicação da Pólio no Paquistão, já houve 17 casos.
A situação é tão grave que, no seu último relatório — relativo a 2019 -, a Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite da Organização Mundial da Saúde considerou que “as equipas nacionais e as agências das Nações Unidas perderam completamente o controlo do processo de erradicação da poliomielite” no Paquistão.