Em 2010 o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, visitou Portugal para “dar as duas mãos” a José Sócrates e encomendar um milhão e meio de Magalhães, o computador português que, diria no regresso a Caracas, “aguentava bombardeamentos”. Terá sido apenas o negócio mais público que fechou nessa que foi a a última das quatro visitas que fez a Portugal, três anos antes de morrer, aos 58 anos, avança a edição deste domingo do Correio da Manhã (CM).
Durante essa mesma passagem pelo país, Chávez terá sido abordado por Ricardo Salgado no sentido de firmar uma aliança secreta entre o governo bolivariano e o Grupo Espírito Santo (GES). O pacto terá rendido aos GES e ao Banco Espírito Santo (BES), diz o mesmo jornal, um valor total de 6,4 mil milhões de euros.
Os detalhes do acordo terão sido explanados, já depois da morte de Chávez, numa carta datada de 23 de junho de 2013, escrita pelo então secretário executivo do Fundo de Desenvolvimento Nacional da Venezuela (Fonden), Temir Porras Ponceleon, e endereçada a Ricardo Salgado, à data líder do Banco Espírito Santo e do Grupo Espírito Santo.
“No âmbito da celebração da comissão mista Portugal – Venezuela, na qual foi assinado o acordo para a construção de dois barcos asfalteiros para PDVSA [Petróleos da Venezuela], o presidente da República Bolivariana de Venezuela e várias autoridades do nosso país foram abordados pelo Sr. Ricardo Salgado para que fosse criada uma aliança estratégica entre uma entidade pertencente ao governo da República Bolivariana e o Grupo Espírito Santo (GES)”, cita o CM. Que revela também que no decorrer desse mesmo mês, em Lisboa, teria lugar uma reunião entre as duas partes, que acordaram na altura que o Fonden teria um ano para decidir se avançaria ou não para um investimento de 500 milhões de euros no capital social do GES.
De acordo com a investigação do Ministério Público ao caso BES, citada também pelo mesmo jornal, a Fonden terá sido apenas uma das entidades públicas venezuelanas que investiram no BES e no GES — Banco do Tesouro e Petróleos da Venezuela serão outras duas.
Questionado pelo CM, através do seu porta-voz, sobre o assunto, Ricardo Salgado não quis fazer comentários.