A criação de um pequeno seguro de sementes disponível por telemóvel, que proteja um agricultor isolado do risco de as perder em inundações ou ciclones, é uma das ideias em que um programa de inclusão financeira está a trabalhar em Moçambique.
O Financial Sector Deepening (FSD) Moçambique é um programa financiado pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID, sigla inglesa) e pela Agência Sueca de Cooperação para promover a inclusão financeira, ou seja, fazer com que a população tenha conta bancária e assim acesso a outros serviços – como os seguros – que lhe permita melhorar a qualidade de vida.
Num país onde se estima que só 9% a 10% dos 28 milhões de habitantes tenha conta no banco, apostar na bancarização, nem que seja por via digital, é o ponto de partida, explica à Lusa Esselina Macome, diretora executiva do FSD, para quem a inclusão financeira tem um impacto muito mais abrangente.
O projeto de “micro” seguro para sementes é apenas um exemplo, mas encaixa-se na visão da organização para 2020, refere.
O objetivo é avançar na discussão acerca dos pontos de acesso de inclusão financeira – balcões, contas bancárias – e avaliar “como estão a ser usados e como contribuem para melhorar vidas”.
“Toda a nossa intervenção estará muito focalizada no setor da agricultura”, tendo também em atenção “os impactos das mudanças climáticas”, sem esquecer o acesso a habitação de qualidade, “com dignidade e serviços básicos”, sublinha.
O retrato do país justifica-o: estima-se que cerca de metade da população moçambicana viva na pobreza e a maioria pratica agricultura para subsistência e obtenção de algum rendimento.
“Estaremos desta maneira a ligar toda a nossa atividade, fazendo a pergunta: até que ponto é que o que nós fazemos contribui para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável”, conjunto de metas universais estabelecidas pelas Nações Unidas, disse.
Os grupos alvo do FSD são as mulheres e os jovens, que constituem a maioria dos 28 milhões de habitantes de Moçambique, com a idade média a rondar os 16 anos.
No exemplo do seguro de sementes, após auscultações já realizadas, o FSD trabalha agora com as seguradoras, que espera venham a desenvolver “produtos para ‘micro’ seguros inovadores e inclusivos” na área digital.
“O digital tem de estar em todas as nossas vertentes”, não só pela facilidade de uso e eficiência, mas também porque o país tem uma densidade populacional baixa.
“Não é possível ter um ponto de acesso [a serviços] em cada local onde há população. Terá de haver um ponto de acesso digital” para as ferramentas de inclusão financeira – o que tem levado o FSD a trabalhar com o regulador de telecomunicações e empresas tecnológicas financeiras (‘fintech’).