Algumas centenas de enfermeiros e utentes de saúde do litoral alentejano concentraram-se esta sexta-feira em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, para exigir “mais e melhores cuidados” neste setor para a região.
A concentração foi marcada pelas comissões de utentes do litoral alentejano, que, entre outras denúncias, referem existir “mais de 10.000 utentes sem médico de família”, além de localidades onde a população “só tem cuidados médicos de 15 em 15 dias”.
As comissões de utentes defendem também a colocação de uma ambulância de suporte imediato de vida (SIV) no Serviço de Urgência Básica de Alcácer do Sal e contestam a degradação das instalações de centros e extensões de saúde nos concelhos de Santiago do Cacém, Grândola (no distrito de Setúbal) e Odemira (Beja).
A realidade é muito negra, temos mais de 11 mil utentes sem médico de família, no hospital do Litoral Alentejano temos um cardiologista e um urologista para 11 mil utentes, são números muitos elevados”, começou por explicar aos jornalistas Dinis Silva, porta-voz das comissões de utentes.
Os tempos máximos de resposta, acrescentou, “na sua maioria nunca são cumpridos, quer nas consultas, quer nas cirurgias”, e as consultas de otorrino têm uma espera de “cerca de mil dias”.
Dinis Silva alertou ainda para a existência de “instalações e edifícios degradados” em Santiago do Cacém, Vila Nova de Santo André, Saboia e Vila Nova de Milfontes, e para o facto de algumas localidades só terem médico “de 15 em 15 dias”. Nestes casos, “quando há uma falha ou férias, [o médico] só pode ir uma vez por mês”.
O representante considerou também “inadmissível” o facto de só haver um cardiologista “numa região com 100 mil utentes”, assim como apenas um pediatra.
Temos urgência pediátrica, mas não temos médicos pediatras a assegurar. A Ordem dos Médicos recentemente veio dar razão à comissão de utentes – que devia ser um médico pediatra a assegurar 24 horas o serviço [e não de outra especialidade]”, afirmou.
Zoraima Cruz Prado, do Sindicato Enfermeiros Portuguesas (SEP), reconheceu que a falta de enfermeiros é um problema que se vem “agudizando”, denunciando a existência de uma “urgência nova, na qual foram investidos 1,2 milhões de euros e que está encerrada por falta de enfermeiros”.
“Temos 80 utentes na rede de cuidados continuados a aguardar vaga, porque há camas encerradas no hospital por falta de enfermeiros”, acrescentou.
Zoraima Cruz salientou que para os serviços funcionarem normalmente são necessários 100 enfermeiros, mas no imediato são precisos 15 para que a urgência possa abrir. Os restantes permitiriam que as camas que estão encerradas retomassem a sua atividade normal.
José Paulino, morador em Vila Nova de Santo André, queixou-se à Lusa que leva “seis a sete meses para arranjar uma consulta de cardiologia ou oftalmologia”. No momento da consulta, esperam-se “seis, sete horas, mesmo com ela marcada”.
Aciolinda Costa, que rumou até Lisboa a partir de Alcácer do Sal, queixou-se também da dificuldade na marcação de consultas, lembrando o caso das pessoas mais idosas, que “têm de se levantar cedo de madrugada porque não têm quem vá lá por elas e ainda ficam mais doentes”.
A cerca de 30 quilómetros de distância, a falta de médicos também afeta quem mora na Comporta, como é o caso de Ana Espanha. Segundo a moradora, “há três meses não há médico” na freguesia e os habitantes têm de se deslocar a Alcácer do Sal.
A população é enorme, o médico que lá estava não conseguiu dar continuidade ao serviço. Não temos nada agora, há três meses”, disse, acrescentando que “tanto para uma urgência, como para uma consulta com médico de família as pessoas têm de ir a Alcácer”.
Além de elementos das comissões de utentes, a manifestação juntou autarcas de Grândola, Alcácer do Sal e Santiago do Cacém, dirigentes e delegados sindicais, para “ajudar a pressionar o Governo para melhorar as condições de saúde” nesta zona. Estiveram também presentes as deputadas Joana Mortágua, do BE, e Paula Santos, do PCP.
Os enfermeiros da Unidade de Saúde do Litoral Alentejano cumprem esta sexta-feira um dia de greve, que teve uma adesão de 80% no turno da manhã, de acordo com Zoraida Prado.
Em causa, dizem, está o facto de não ter sido cumprida a admissão de enfermeiros que iria permitir a reabertura de camas encerradas e a abertura do novo Serviço de Urgência, além da reivindicação do “tratamento igual entre enfermeiros com a atribuição de igual numero de férias” e da “melhoria das condições de trabalho”.