Quando era mais novo, Dietmar Hopp, que não constituía propriamente um prodígio, jogou nas camadas mais jovens do Hoffenheim, ou o TSG 1899 Hoffenheim, modesto clube numa cidade com menos de 3.500 habitantes. Há 30 anos, quando o conjunto estava no oitavo escalão germânico, fez uma doação de apenas 10 mil marcos para ajudar a formação a comprar coisas básicas como equipamentos ou bolas. A partir de 2000, tornou-se financiador do clube e nesse mesmo ano a equipa subiu à quarta divisão. E subiu, subiu, subiu, até à impensável participação na Liga dos Campeões. Pelo meio, Hopp tornou-se das figuras mais odiadas na Alemanha.
Jogo é interrompido depois de adeptos do Bayern insultarem dono do Hoffenheim
Este fim de semana, os protestos começaram no encontro entre Hoffenheim e Bayern – o que dentro da razão ou não que pode ou não existir, até poderia fazer sentido tendo em conta que uma das equipas em causa era a do empresário. Antes, já tinham existido da parte de adeptos do Borussia Mönchengladbach e Borussia Dortmund; este domingo, o Union Berlim-Wolfsburgo esteve interrompido pouco antes do intervalo pela mesma razão.
Union Berlim-Wolfsburgo esteve interrompido por comportamento dos adeptos locais
Nascido em abril de 1940, Dietman Hopp tornou-se bilionário após fundar a SAP SE, empresa multinacional que fabrica softwares corporativos para gerir operações e relações de negócios com os clientes da qual foi CEO até 1998, chairman até 2003 e membro da administração até 2005, altura em que saiu mantendo 10% das (valiosas) ações. No ano seguinte, e entre outros projetos profissionais, criou a Dietmar Hopp Stiftung, uma fundação de apoio ao desporto, à medicina e aos programas sociais que, segundo a Forbes, já distribuiu cerca de 635 milhões de euros, naquela que é uma das maiores fundações de caridade da Europa e que é também, a par com a Bill & Melinda Gates Foundation (outra das maiores fundações mundiais), a maior investidora da CureVac, empresa privada radicada na Alemanha que está a desenvolver vacinas para a gripe e para a malária.
More banners in the Bundesliga today…
This time the Union Berlin ???? Wolfsburg match has been stopped due to a banner in the home end.
Protests against the German Football Association and Dietmar Hopp continue… pic.twitter.com/oEnwBdfctu
— Football on TNT Sports (@footballontnt) March 1, 2020
Casado e com dois filhos, residente em Walldorf, Hopp é também conhecido por ser o proprietário do Domaine de Terre Blanche, um resort no sul de França que comprou ao ator Sean Connery, e por ter um asteroide batizado com o seu nome pelo astrónomo Feliz Hormuth em 2008 (Asteroide 210432 Dietmarhopp). No entanto, é esta ligação ao Hoffenheim que lhe traz um lado lunar que coloca alguns adeptos rivais a acusá-lo de utilizar o clube para fazer lavagem de dinheiro e outros a apelidá-lo de nazi devido ao passado do seu pai.
https://twitter.com/Tonylean/status/1234161323912638471
Dietmar Hopp beneficiou de uma exceção à regra 50+1 por parte da Bundesliga para se tornar um dos raros proprietários (a título individual é o único) com uma maioria de ações de um clube em 2015, tendo nesta altura 96% do Hoffenheim. Existem outros casos como a Bayer com o Bayer Leverkusen, o Wolfsburgo com a Volkswagen ou o cada vez mais odiado também RB Leipzig, que pertence à multinacional Red Bull, mas é o bilionário germânico que representa aquilo que os adeptos mais “puristas” consideram ser uma espécie de “venda da alma do futebol ao Diabo”. “Mantenham o futebol como um jogo do povo”, queixaram-se os adeptos do Colónia.
https://twitter.com/Web24News/status/1234162476801024001
No ano passado, em maio, um cartaz enorme com a cara de Hopp e os cânticos contra o líder do Hoffenheim por adeptos do B. Dortmund tinham valido não só o impedimento de presença de adeptos da equipa nos encontros fora com o clube durante dias temporadas como multas pesadas para os antigos campeões europeus (50 mil euros) e para alguns adeptos que foram identificados, entre 400 e 600 euros. No entanto, essa punição não serviu para parar o que entretanto se banalizou, como se viu no jogo com o Bayern e este domingo em Berlim.
Se eu percebesse de forma remota o que estes idiotas querem de mim, seria mais fácil de perceber. Não consigo explicar porque são tão hostis comigo, lembra-me um período negro… Falar com estas pessoas? Não quero porque não vale a pena. Vivem num outro mundo. Não sei o que dizer. Porque razão não poderia ir mais a estádios? Quem faz isto é quem não deve ir”, comentou Hopp à Sport 1.
https://twitter.com/FutbolBible/status/1233816622961496066
“Estou muito envergonhado com o comportamento deles. É indesculpável. É a parte feia do futebol. Já pedi desculpa a Dietmar Hopp. Filmámos tudo e estas pessoas serão responsabilizadas”, comentou este sábado Karl-Heinz Rummenigge, presidente do Bayern, num encontro que ficou marcado não só pela goleada dos campeões alemães (6-0) mas também pelo longo período em que jogadores das duas equipas estiveram apenas a trocar a bola entre si depois da interrupção da partida. Agora, no Union Berlim-Wolfsburgo (2-2), que teve também tarjas e cânticos contra a Federação Alemã de Futebol pelo castigo aplicado ao B. Dortmund a propósito dos cânticos contra Hopp, foi o capitão da equipa da casa, Christopher Trimmel, que pediu aos adeptos para se acalmarem.
Bayern Munich and Hoffenheim players stood together in support of Hoffenheim owner Dietmar Hopp, who was the subject of insults from travelling Bayern fans pic.twitter.com/l5ii0vpT22
— B/R Football (@brfootball) February 29, 2020