Um estudo da Monash University, na Austrália, aponta que os alunos timorenses registam elevadas taxas de chumbos, com dois terços das crianças no primeiro ano letivo a terem nota zero em avaliações de compreensão.

Preparado por Brett Inder, Radha Balachanran, Cristina Benevides e Nan Qu, da Monash University, na Austrália, o estudo, denominado de “A Economia da Educação em Timor-Leste”, avalia os progressos no setor nos últimos anos.

O estudo, a que a Lusa teve acesso, confirma a elevada taxa de alunos que repetem os anos — e que “estão entre as mais altas do mundo, fora de África”, sendo mais baixas, mas “possivelmente irrealistas”, nos níveis do ensino secundário. Cerca de 9,4% das crianças entre os 12 e os 18 anos não completaram qualquer nível escolar. Segundo o estudo, 28% dos jovens de 10 anos estão dois ou mais níveis abaixo do que deveriam, taxa que sobe para 59% entre os jovens de 16 anos, com o problema a ser ainda mais acentuado nas zonas rurais.

Aos 17 anos, uma criança de uma família de agricultores pobres num concelho rural, com pais sem educação formal, estará 6 níveis abaixo de uma criança de classe média em Díli. Uma “desigualdade social de acesso à educação que é um grande desafio para o futuro desenvolvimento de Timor-Leste”, referem os autores.

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O estudo analisa ainda os resultados das avaliações de alunos — com base no sistema de avaliação de capacidades EGRA -, que mostram que apesar de algumas melhorias, continua a haver uma grande percentagem de alunos com pontuações zero. Em 2017, por exemplo, dos alunos da primeira classe tiveram nota zero 76% em compreensão, 74% em fluência e leitura de texto, 70% em não-palavras, de 56% em palavras e de 10% em letras.

Na maioria dos casos, a percentagem de alunos que tiveram zero foi muito elevada. Há uma grande percentagem de alunos que ainda não se envolveram com a aprendizagem e parecem ter feito pouco ou nenhum progresso nestas áreas de leitura e literacia”, nota. “Apesar de estarem a frequentar a escola, parecem ter aprendido pouco ou nada até agora. Este problema não parece ter melhorado muito entre 2009 e 2017”, sustenta.

O estudo mostra que a taxa mais elevada dos inscritos, cerca de 90%, ocorre em crianças entre os 11 e os 13 anos, sendo reduzida em crianças mais novas e mais velhas, cerca de 60%.

Noutro âmbito, o estudo mostra que ainda que a educação pública seja gratuita, as famílias incorrem custos médios anuais de entre 28 e 118 dólares por criança, sendo que “a maioria dos agregados familiares tem 1-4 crianças nas escolas”. Isso sugere que “seria imprudente avançar no sentido de exigir maiores contributos obrigatórios” aos pais para o custo educativo.

Os dados mostram um ligeiro declínio no número de alunos matriculados nas escolas primárias, que se deve “principalmente a uma tendência demográfica de abrandamento das taxas de fertilidade entre 2003 e 2010”.

Paralelamente houve um aumento de 50% nas matrículas do ensino secundário, sendo que 37% dos alunos do secundário estão em escolas privadas, a quase totalidade da igreja. Uma situação que colocou “pressão adicional no sistema” com os rácios aluno-professore a melhorar no ensino básico, “mas a agravar-se substancialmente no nível secundário”.

No ensino básico, as turmas têm em média entre 25 e 30 alunos — os números são mais elevados em Díli -, com um aumento “dramático” no tamanho das já grandes turmas do secundário que passaram de 47 para 62 fora de Díli e de 57 para 88 na capital.