A mais completa retrospetiva de filmes do realizador e encenador Jorge Silva Melo, “homem que ocupa um lugar só dele na cultura em Portugal”, vai ser exibida a partir terça-feira na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa.
Intitulada “Viver amanhã como hoje”, a retrospetiva mostrará as longas-metragens de ficção, as curtas e os documentários que Jorge Silva Melo fez desde 1979 e inclui vinte outros filmes escolhidos pelo encenador e resposta a uma “carta-branca” dada pela Cinemateca.
O ciclo começa com o filme “Ainda não acabámos, como se fosse uma carta” (2016), espécie de autorretrato filmado que, segundo a Cinemateca, “verte uma característica definidora do modo de estar e trabalhar de Jorge Silva Melo, um interlocutor cúmplice de gerações mais velhas e mais novas”.
No domínio da ficção, serão mostrados, por exemplo, “Ninguém duas vezes” (1984), com Manuela de Freitas, Luis Miguel Cintra e José Mário Branco, “Coitado do Jorge” (1992) — que nunca teve estreia comercial –, e “António, um rapaz de Lisboa” (2000), a partir de uma peça homónima encenada por Silva Melo.
A retrospetiva incluirá ainda os filmes-retrato que Jorge Silva Melo fez de várias figuras da cultura portuguesa, em particular das artes plásticas, entre os quais “Ângelo de Sousa: Tudo o que sou capaz” (2009), “Nikias Skapinakis: O teatro dos outros” (2007) e “Ana Vieira: E o que não é visto” (2011).
A todos eles se junta “E não se pode exterminá-lo?”, de 1979, projeto em cinco episódios, do coletivo Grupo Zero e produzido com a RTP e com o Teatro da Cornucópia, que Jorge Silva Melo cofundou com Luis Miguel Cintra.
Como a Cinemateca deu ‘carta branca’ a Jorge Silva Melo para escolher o que quisesse em complemento à retrospetiva, o realizador selecionou filmes de Jean-Luc Godard, Jacques Demy, Luis Buñuel ou Howard Hawks.
São filmes de que me lembro hoje assim às três pancadas (…), filmes que me fizeram adulto, filmes que vêm de longe muitos, filmes muitas vezes vistos, pensados, sonhados, filmes tão diferentes, filmes com quem passaria esta noite se ainda houvesse com quem falar durante as demoradas noites que já vivi bem depois de fecharem os cinemas”, explica o cineasta no dossier de imprensa.
Até ao final do mês, Jorge Silva Melo estará presente na retrospetiva, para falar de alguns dos filmes. Está ainda prevista a apresentação por outras pessoas, como o ex-programador cultural Miguel Lobo Antunes, a atriz Lia Gama e o artista plástico José de Guimarães.
Jorge Silva Melo, nascido em Lisboa em 1948, fundou e dirigiu o Teatro da Cornucópia, fundou e ainda conduz a companhia Artistas Unidos, traduziu teatro, escreveu e continua a encenar, fez crítica na revista O Tempo e o Modo, foi assistente de João César Monteiro, ator para João Botelho e Manoel de Oliveira.
“Leitor, espetador, crítico, professor, autor, cronista, tradutor, ator, argumentista, realizador, dramaturgo, encenador, diretor artístico. A frase que acaba ali podia continuar substantiva”, enumerou a Cinemateca.