O crescente número de contágios pelo novo coronavírus em todo o mundo levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar esta quarta-feira que o Covid-19 deixou de ser uma epidemia para ser considerado uma pandemia — uma designação que não utilizava desde 2010, para o H1N1 (também conhecida como Gripe A).

O anúncio foi feito numa altura em que o número de contágios pelo novo coronavírus já ultrapassou os 118 mil casos (dos quais 4.291 fatais) e chegou a 114 países, em todos os continentes. Daquela lista de países, só 57 é que identificaram 10 ou menos casos. Para já, há ainda 81 países sem casos reportados.

Desta forma, torna-se evidente que o novo coronavírus pode chegar a qualquer parte do mundo. E foi precisamente isso que levou a OMS a declarar a pandemia.

(FILIPPO VENEZIA/EPA)

O que é uma pandemia?

De acordo com a OMS, uma pandemia é a “propagação global de uma nova doença”.

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A esta definição genérica, que em teoria pode incluir todo o tipo de doenças contagiosas, a Organização Mundial de Saúde junta ainda uma informação adicional para as pandemias que são derivadas de gripes — como é o caso do novo coronavírus, o Covid-19. Nestas o grau de seriedade é maior do que uma gripe comum porque, sublinha a OMS, “a maior parte das pessoas não tem imunidade” em relação a estes novos vírus.

(JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Qual é a diferença epidemia e pandemia?

Até esta quarta-feira, o novo coronavírus estava classificado pela OMS como uma epidemia.

De acordo com a OMS, a epidemia é a “ocorrência numa comunidade ou região de casos de doença” numa proporção “claramente acima do que é normalmente esperado”.

Esta definição enquadra-se na fase anterior, em que se podia identificar casos do novo coronavírus num número reduzido e bem identificado de países: primeiro a China, depois a Coreia do Sul, a seguir Itália e o Irão. Porém, à medida que o novo coronavírus se alastra para outros países — levando a que a sua representação num mapa do mundo seja uma mancha e não pontos isolados — passou a ter contornos de pandemia.

Foi precisamente essa alteração, em que novo coronavírus passa a ser uma realidade em todos os continentes, que levou a este agravamento na escala de avaliação da OMS para pandemia.

(LI KE/EPA)

O que muda agora que o coronavírus é uma pandemia?

Do ponto de vista legal, nada muda.

Porém, do ponto de vista da mensagem, a alteração da classificação do Covid-19 de epidemia para pandemia pode alterar o comportamento das populações e também dos governos.

Quando fez a declaração desta quarta-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou para a necessidade de ter presente aquilo que uma pandemia é, de maneira a que não haja uma reação alarmista ou derrotista por parte das populações:

“Pandemia não é uma palavra que possa ser usada com leviandade ou despudoradamente. É uma palavra que, quando mal utilizada, pode causar um medo irrazoável ou a aceitação errada de que não há luta possível, levando a um sofrimento e a mortes desnecessárias”.

É esta reação adversa à declaração de pandemia que parece ter impedido a OMS de declarar o novo coronavírus mais cedo. Duas semanas antes do anúncio de pandemia, a 26 de fevereiro, Tedros Adhanom Ghebreyesus já tinha dito que “o uso da palavra pandemia sem precauções não leva a benefícios palpáveis, mas pode ter um risco significativo no que toca à ampliar de forma desnecessária e injustificada o medo e estigma, paralisando sistemas”.

Na sua declaração desta quarta-feira, o diretor-geral da OMS quis juntar à sua mensagem um incentivo precisamente para não haver a paralisação de sistemas, segundo apontou numa conferência de imprensa em 26 de fevereiro, quando já havia casos em todos os continentes menos na Antártida.

“Nunca é demais dizer: qualquer país ainda pode mudar o curso desta pandemia”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus em fevereiro. “Se os países detetarem, testarem, trataram, isolarem, seguirem o rastro [do vírus] e mobilizarem os seus povos para esta resposta, quem tiver uma mão-cheia de casos pode evitar que eles se tornem em focos e que esses focos se tornem em comunidades de transmissão.” E, acrescentou, também os países com “comunidades de transmissão” ou “grandes focos” estão a tempo de “virar a maré contra o vírus”.

O uso da palavra “pandemia” por parte da OMS nesta altura acaba por ser uma maneira de aquela organização chamar atenção para a gravidade deste vírus e para exortar os países a agirem.

“Tem havido muita atenção em torno de uma palavra”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus em relação a “pandemia”. “Deixem-me dizer-vos outras palavras que importam muito mais e que são muito mais fáceis de pôr em ação: prevenção, preparação saúde pública e liderança política. E, acima de tudo, pessoas. Estamos juntos nisto, para fazermos as coisas certas com calma e proteger os cidadãos do mundo. Está ao nosso alcance.”