Sabemos que tem cumprido o seu isolamento em Windsor, e que estará mesmo a exercitar o domínio das nova tecnologias de forma a facilitar a comunicação em tempos pautados pela Covid-19. Sabemos ainda que Isabel II se dirigirá em breve aos súbditos britânicos  através de uma mensagem com transmissão televisiva. Não sendo este um passo inédito no trajeto da monarca, que este mesmo mês se tornou oficialmente a protagonista do quarto mais longo reinado de sempre, não deixa de ser uma decisão rara ao longo desses 68 anos no trono, precipitada pelo atual cenário.

Se excluirmos os tradicionais discursos de Natal, que ano após ano assinalam a quadra, e depois das palavras que a monarca partilhou no passado dia 19 de março, dando conta dos desafios pela frente, esta será apenas a quarta vez no trajeto da soberana que tal acontece. Ainda sem data certa, a intervenção acordada entre Downing Street e Buckingham surgirá “na altura mais apropriada”, e com o propósito de “a voz de sua Majestade acalmar os nervos dos britânicos” e “levantar o moral do país”. Recuemos no tempo para resgatar outros momentos de dor e tensão.

Da guerra do Golfo aos momentos de luto em família

Foram palavras de encorajamento, que então coincidam com a Guerra do Golfo, em 1991. “Enquanto nação, temos muito orgulho nas nossas Forças Armadas. Esse orgulho tem sido legitimamente justificado pela sua conduta até agora na guerra do Golfo”, destaca-se naquela que terá sido a primeira intervenção de Isabel II numa mensagem filmada para os espectadores do Reino Unido. Por essa altura, a rainha mal sonhava que teria um ano incomparavelmente mais duro pela frente. A nível doméstico, dos divórcios a um violento incêndio, Isabel II jamais esqueceria esse annus horribilis de 1992, que voltaria a ser evocado em 2019, em pleno turbilhão “Megxit”.

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Três divórcios, dois funerais, um incêndio e outros momentos “horribilis” de 1992

O novo frente a frente com as câmaras, de novo com um caráter tão excecional quanto imprevisto, dar-se-ia em 1997, quando a notícia da morte de Diana caiu como uma bomba. Inicialmente muito contestada pela demora na reação, só mais tarde se perceberia o compasso de espera da rainha. William e Harry, filhos da princesa de Gales, passavam o verão com a avó em Balmoral quando uma legião de súbditos se acotovelava já à porta do palácio para prestar a sua última homenagem — terá sido para proteger os netos, e para tentar prolongar ao máximo essa fase de luto em privado, antes do assédio avassalador dos media, que Isabel II manteve um ruidoso silêncio, sem arredar pé da Escócia.

Essa distância, no entanto, não deixava escapar que a relação com Diana nos últimos anos não fora um mar de rosas. Recorde-se que a separação do príncipe Carlos fora oficializada um ano antes, estando o casal separado há já vários anos. Terminado esse período de resguardo, o impacto provocado pelo trágico acidente em Paris não deixava outra hipótese. Uma semana depois, Isabel II haveria mesmo de endereçar uma mensagem transmitida pela televisão e pela rádio a uma nação enlutada. Um momento registado na varanda de Buckingham, com as multidões e milhares de flores em fundo.

Uns anos mais tarde, já em 2002, a soberana voltou a vestir-se de negro para novo agradecimento aos britânicos. Agora, pelo carinho demonstrado no rescaldo da morte da rainha mãe, que morreu a 30 de março desse ano, aos 101 anos.

Entretanto, é também por vídeo, via Skype ou mesmo Face Time, que a soberana estará em contacto com o mundo por estes dias, seja para uma troca de impressões mais formal com o Governo, ou para se inteirar do estado da família: o príncipe Carlos e a duquesa da Cornualha entram-se em Birkhall, na Escócia, os duques de Cambridge em Anmer Hall, em Norfolk, e os Sussex em Vancouver, no Canadá.