Há muitos anos, a propósito de uma das milhentas querelas em que se envolvia, Eduardo Prado Coelho proferiu uma sentença que jamais esqueci: dizia o cronista que os gostos e desgostos são irracionais – e que as razões que damos para gostar de X e não gostar de Y são sempre um raciocínio que conduzimos a posteriori. O emocional impõe-se – e o raciocínio que o justifica é uma pífia tentativa de racionalização da emoção, o equivalente a um homem vendado procurar a saída de um labirinto mal iluminado.

Recordei a crónica a meio de “Alright”, o quinto tema de Gigaton, décimo primeiro e recém-lançado álbum dos Pearl Jam que a imprensa americana descreve como um violento ataque à administração Trump, aos políticos, enfim: ao estado das coisas que aborrecem a vida de milionários brancos de 55 anos.

“Alright” teve o condão de iluminar as razões obscuras pelas quais nunca aderi por completo ao fenómeno Pearl Jam / Eddie Vedder – entre elas, não gosto de profetas de sabedoria do género senso comum. Por entre um ritmo calminho, num tom sépia inesperado em roqueiros, Eddie Vedder vai proferindo sentenças poéticas:

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