A falta de testes está a fazer com que mais de 150 utentes do lar da Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém ainda não tenham sido testados para a Covid-19 depois de uma funcionária da lavandaria do lar ter ficado infetada com o novo coronavírus. É o próprio provedor da instituição quem o assume: “[Os testes] não estão disponíveis. A Segurança Social contou-me que estão todos no norte do país. E temos de esperar”, afirma Jorge Nunes ao Observador.

A referida funcionária do lar já infetou inclusivamente o marido, diretor técnico de uma farmácia. Contudo, e apesar do contacto com um caso positivo, o delegado de saúde responsável por Santiago do Cacém entendeu não haver razões para evacuar os idosos e funcionários e todos permanecem na instituição mantendo “as suas rotinas normais”, conta o provedor.

O provedor da Santa Casa reconhece que o número de testes é elevado e só seriam realizados por “precaução”, uma vez que a funcionária não contactava diretamente com os utentes, mas percorria todos os corredores do lar enquanto recolhia e entregava a roupa dos idosos. “Como sei que há falta de testes no país, não pedi que me fizessem tantos. Apenas os casos prioritários. São dezasseis. Dez idosos e seis funcionários. Mas nem isso tem sido fácil”, enfatiza Jorge Nunes

Mesmo assim, e a expensas da instituição, os contactos mais próximos da funcionária infetada foram testados à Covid-19 num laboratório privado. Esses quase 30 funcionários esperaram pelos resultados em casa de quarentena. Enquanto que, na instituição, procedia-se à limpeza e desinfeção dos espaços.

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Mas mesmo esta desinfeção apenas foi feita a alguns espaços, já que os utentes e funcionários ali estavam enquanto decorria a operação de higienização.

Funcionários testados deram negativo

Os resultados dos testes feitos aos cerca de 30 funcionários acabaram por dar negativo e “voltou tudo ao normal”, segundo informação obtida pelo Observador junto de uma fonte do lar. “A retirada dos idosos nunca foi considerada porque quem lá vive não apresentava sintomas, não tinha febre, e os resultados dos testes de despiste deram negativo”, acrescenta ainda a mesma fonte.

O facto de não haver resposta social para acomodar os 150 idosos terá pesado na decisão do delegado de saúde de optar pela permanência dos utentes do lar. O mesmo que ainda não conseguiu reunir dezasseis testes para despistar os casos prioritários.

Contudo, Coube ao provedor retirar dez idosos do lar e colocá-los num turismo rural da família. Assim, ganhou espaço no lar para o caso de se ter de confrontar com mais casos positivos.

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Autarca confirma falta de testes

Uma situação que Álvaro Beijinha, presidente da Câmara de Santiago do Cacém, está a acompanhar de perto. “Ainda hoje me disseram que não há testes suficientes. Talvez amanhã, em Sines, uma clínica privada já consiga estar preparada para nos dar uma resposta. O hospital ainda não tem capacidade suficiente para responder a tantos pedidos”, explica o edil.

Além da falta de testes, uma situação que se repete pelo país todo, os resultados chegam a levar mais de 48 horas a ser comunicados a quem os faz — e que tem de se manter em isolamento durante todo esse tempo — porque são processados em Lisboa.

É neste cenário de “falta de recursos humanos e materiais” que o presidente da Câmara de Santiago do Cacém recebe a notícia de que um laboratório privado está à procura de um espaço para instalar um centro de rastreio móvel drive thru (o utente não sei do carro enquanto faz o teste) no litoral alentejano. O contacto foi iniciado hoje e já está em marcha: “Vamos disponibilizar o Parque de Feiras e Exposições de Santiago do Cacém. É espaçoso e os utentes podem ir até lá de carro, fazer o teste e não ter contacto com ninguém. É uma forma de contornar o problema que já se vive nesta zona”, admite Álvaro Beijinha.