É um novo Donald Trump. Com o número de doentes infetados com o novo coronavírus nos EUA a superar a barreira dos 187 mil, e os 3.850 mortes, segundo dados do Worldometer, o presidente norte-americano dirigiu-se esta terça-feira ao país com um discurso muito pessimista e alarmista, pedindo que se preparem para duas semanas “muito, muito dolorosas”.

É que os EUA já ultrapassaram a China no número de infetados e ainda não atingiram o pico previsível. O pico deve chegar nas próximas duas semanas, e é para isso que Donald Trump quer que o país esteja preparado. “Quero que todos os americanos estejam preparados para os dias difíceis que os esperam. Vamos entrar agora num período de duas semanas muito dolorosas”, disse o presidente norte-americano durante o habitual briefing diário do gabinete de crise.

No final deste período, que Donald Trump associa ao pico da crise, o presidente norte-americano espera que o país possa “ver a luz ao fundo do túnel”. Mas sublinhou que, antes disso, “vão ser duas semanas muito, muito dolorosas”.

Depois de Trump, também o médico Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas, fez um retrato dramático do vírus nos EUA: a estimativa é de que venham a morrer 100 mil pessoas por Covid-19, disse. “Devemos estar preparados para este número. Vai ser assim tão elevado? Espero que não, e espero que quanto mais trabalharmos na fase de mitigação, menores são as hipóteses de o número ser tão alto. Mas para ser realista, temos de estar preparados para essa possibilidade”, disse. Mas uma coisa é certa, disse: “Não aceitamos esse número e vamos fazer tudo para o baixar o mais possível”.

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Trump afirmou ainda que o país está preparado para esse pico, tendo 10 mil ventiladores “retidos” à espera de ser utilizados, caso seja necessário. “Mantivemo-los retidos porque o pico está a chegar e vai chegar em força, por isso quisemos ter os ventiladores prontos para serem usados”.

Sobre a realização de testes, que está a ser questionada pelos profissionais de saúde nos EUA, Trump garante que está a ser feito tudo o que é possível e que não há falta de testes. “Estamos a fazer mais do que qualquer outro país no mundo, até agora. Estamos a testar e a testar com testes altamente fiáveis”, disse, acrescentando que a partir de amanhã os EUA vão usar um novo teste que garante resultados em “apenas alguns minutos”.

Segundo Mike Pence, a confusão está no facto de, no antigo sistema de teste, ser preciso devolver os testes aos laboratórios, que só podiam testar um pequeno número por dia. Coisa que já não acontece agora.

Num claro recuo em relação a declarações anteriores, Donald Trump afrimou esta terça-feira que a Covid-19 é mesmo “pior” do que a gripe sazonal. “Isto não é uma gripe. Isto é cruel”, disse, depois de ter mencionado o facto de ter um amigo em coma a lutar contra a doença.

É uma mudança notória de tom no presidente norte-americano. Ele que, ainda no passado dia 9 de março, tinha tweetado que no ano passado “37 mil americanos morreram por causa da gripe sazonal”, que afeta em média “27 mil a 70 mil pessoas por ano”. “Nada fecha, a economia e a vida continua. Neste momento há 546 casos confirmados de coronavírus e 22 mortes. Pensem nisso”, dizia na altura, com ironia. Dois dias depois desse tweet, o diretor do Instituto Nacional de Doenças Infeciosas admitia que o novo coronavírus era dez vezes mais letal do que a gripe. Cerca de 20 dias depois, o número de doentes infetados já ultrapassa os 187 mil. E o pico ainda não chegou.