Já são 33 os casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus em Moura, no Alentejo — só uma das pessoas, uma mulher, para já assintomática, tem morada fora do Espadanal, comunidade junto à Estrada Nacional 258, que liga à Vidigueira, onde vivem 59 pessoas de etnia cigana, explicou à Rádio Observador o presidente da câmara, Álvaro Azedo.

Desde que na passada terça-feira um homem, de cerca de 70 anos, apresentou sintomas e deu positivo para Covid-19, toda a comunidade foi testada, bem como os restantes pacientes que costumavam viajar com ele na carrinha dos bombeiros locais até Beja, para fazer hemodiálise. Só uma pessoa desse núcleo, a mulher que “atualmente não revela qualquer tipo de sintomas”, explicou o autarca, deu positivo. Até agora, o balanço vai nos 33 infetados, entre os quais 17 crianças e jovens, mas ainda falta conhecer vários resultados.

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Desde que se descobriu o foco de infeção, a GNR cercou e montou guarda à comunidade. Se nos primeiros dias houve tentativas de fuga, desde sexta-feira que a situação está mais tranquila. “Nas primeiras horas não foi fácil, houve tentativa de não corresponder ao solicitado, mas depois fomos ajustando a nossa resposta no terreno e desde há dois dias a esta data ninguém sai e ninguém entra”, diz Álvaro Azedo.

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A autarquia tem tratado de tudo para que nada falte na comunidade, garante: “A câmara garante o fornecimento de víveres para as pessoas: fazemos as compras, dão-nos o dinheiro, trazemos as compras. Garantimos que as pessoas não precisam de sair do sítio do Espadanal para ter as suas coisas, também trazemos medicamentos. E colocámos termómetros à disposição das pessoas para irem monitorizando o seu estado de saúde também.”

Apesar de, para já, a situação parecer controlada — a autarquia tem comunicado o boletim epidemiológico local e assegura que vai continuar a fazê-lo, apesar das recomendações em contrário da ministra da Saúde —, Álvaro Azedo manifesta preocupações relativamente à fronteira natural do concelho com a vizinha Espanha. “Temos uma fronteira natural no nosso concelho e na região, a GNR tem feito um trabalho importante mas o efetivo não é imenso e nós temos centenas de quilómetros de caminhos. Continuam, obviamente, pessoas a saltaricar de um lado para o outro, aparecem-nos no concelho pessoas que nós nunca vimos. Ainda ontem, apareceu uma carrinha espanhola, com várias pessoas.”

Preocupado face a impossibilidade de isolar devidamente o concelho e proteger os cidadãos, o autarca sugere a intervenção do Exército no local, para o patrulhamento de fronteiras — e revela que já transmitiu a ideia, no passado dia 26 de março, por telefone, a Marcelo Rebelo de Sousa. “Penso que poderíamos colocar o Exército ao serviço da região, deixando-o contribuir para o patrulhamento das fronteiras. Precisamos de mais ajuda.”

Entretanto, ao fim da manhã deste domingo, o Governo anunciou que desenvolveu um conjunto de medidas para apoiar na resposta à pandemia da covid-19 na comunidade do Espadanal.

Em comunicado, o Governo explicou que na sequência da realização de testes de despiste à covid-19, foram confirmados 33 casos no bairro, o que motivou a intervenção do executivo, nomeadamente da secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, o secretário Estado da Saúde, António Sales, e o secretário Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Jorge Seguro Sanches.

O bairro Espadanal já foi desinfetado e as Forças de Segurança, em articulação com a Autoridade Regional de Saúde (ARS) estão a assegurar as necessidades de alimentação, medicação, receituários e cuidados de saúde enquanto as famílias estiverem em confinamento, esclareceu ainda o executivo.

Além do bairro em Moura, o Governo anunciou também medidas de prevenção no bairro das Pedreiras, em Beja, onde se vai realizar uma ação de desinfeção, durante a próxima semana, com a colaboração da União de Freguesias de Salvador e Santa Maria da Feira.

Os apoios às populações ciganas de Moura e Beja estão a ser prestados em articulação com o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), a Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARS), e as Câmaras Municipais de Moura e Beja.

Em comunicado, o executivo assegura que se vai manter atento às necessidades das populações mais vulneráveis perante a pandemia, entre as quais algumas comunidades ciganas.

Artigo atualizado às 12h47 com o comunicado do Governo