A norma da Direção-Geral da Saúde, datada de 13 de abril, veio recomendar o uso de máscaras por todas as pessoas em espaços públicos fechados, como supermercados ou transportes públicos, com esta entidade a admitir o uso de máscaras não-cirúrgicas (ou comunitárias) para evitar escassez do material médico. Trata-se de uma medida de proteção adicional ao distanciamento social, à higiene das mãos e à etiqueta respiratória, e surge na sequência de uma análise feita pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças.

Os argumentos do parecer que recomendou à DGS o uso de máscaras para todos

No documento fica claro que está a existir um esforço nacional ao nível da produção de máscaras comunitárias, destinadas “à promoção da proteção de grupo”. Não são enquadradas como dispositivos médicos ou como equipamentos de proteção individual, são antes designadas como artigos têxteis. Caberá aos seus fabricantes informar os utilizadores sobre o processo de reutilização (lavagem, secagem, conservação e manutenção), bem como o número de reutilizações e a composição destas, informações que deverão ser disponibilizadas através da etiquetagem ou marcação do produto têxtil.

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Mas antes desta norma ser publicada, o facto de não haver máscaras cirúrgicas disponíveis levou à procura de alternativas. Os EUA, por exemplo, emitiram tutoriais e vídeos explicativos sobre como produzir máscaras caseiras. Sobre isso, Jaime Nina, infecciologista no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, refere dois estudos (um europeu e outro norte-americano) para refletir sobre uma conclusão: as máscaras de pano têm algum efeito e são uma alternativa válida a não usar nada (ainda que tenham um efeito menos eficaz que as máscaras cirúrgicas).

Com ou sem costuras, como fazer uma máscara em casa e que materiais são mais eficazes

As máscaras feitas exclusivamente de pano, diz o também professor na Universidade Nova de Lisboa, podem ser lavadas e, consequentemente, reutilizadas. “Se tiverem uma componente de plástico, já não podem ser reutilizáveis”, explica. Naturalmente que tal depende do tipo de tecidos usados na confeção — um estudo de 2013 da Universidade de Stanford, já antes citado pelo Observador, concluiu que alguns dos materiais mais eficazes são filtros de aspiradores, toalhas de mesa e t-shirts de algodão —, mas a maior parte deles “aguenta a lavagem a 30, 40 ou 60 graus sem problemas”.

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Quais os melhores métodos e o que deve evitar?

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças esclarece que as máscaras de pano devem ser lavadas “rotineiramente“. Mas há formas melhores de o fazer.

Lavar à mão ou na máquina
Usar lixívia é um dos métodos recomendados para a desinfeção de superfícies, por exemplo, mas pode não ser o ideal para a lavagem de máscaras, uma vez que esta pode danificar as fibras da máscara. E as mãos também, dependendo da concentração, lembra Jaime Nina. O infecciologista refere que também é admissível lavar estas máscaras com sabão ou com o habitual detergente para tratar a roupa. Se for na máquina, pode ser a 30, 40 e 60 graus — e junto com outra roupa. “O importante é atirar o vírus pelo cano abaixo”, refere.

Usar o calor
Mesmo aproveitando o facto de o vírus ser sensível à temperatura, deve ser evitada a ideia de colocar a máscara no forno, por poder provocar acidentes, dependendo do tipo de tecidos. Já embeber a máscara em água fervida pode ser uma opção. Jaime Nina, porém, deixa um alerta: “Quanto mais trabalho se investir na lavagem da máscara, menos vezes se vai fazer essa mesma lavagem”. O infecciologista faz um apelo para tornar o processo o mais simples possível.

Secar bem e guardar
Após a lavagem, as máscaras poderão ser deixadas a secar (preferencialmente numa zona onde não exista contacto com terceiros), ainda que neste artigo do The New York Times se admita a utilização de um secador ou de um ferro de engomar num “ataque total aos germes que possam permanecer”. Depois de limpa e seca, a máscara deve ser guardada — caso não exista necessidade de uso imediato — numa caixa de cartão limpa, por exemplo. Uma caixa de plástico não é recomendável, uma vez que, caso exista humidade, esta permite a sua conservação.

Considerando que existe uma grande diversidade de máscaras, Jaime Nina não recomenda a reutilização das máscaras que não sejam feitas exclusivamente de pano, mas admite a possibilidade de outras máscaras serem usadas mais do que uma vez, como “medida de último recurso” e mediante alguns cuidados. “Se a pessoa não tem tosse, se não apanhou chuva, se a máscara está completamente seca e for mantida num local onde não há contaminação, então, pode ser reutilizada.” Mas fica o aviso: “Quanto mais velha for a máscara, maior é o risco de ficar permeável e de começar a transportar vírus”, diz, referindo-se não apenas ao novo coronavírus. É fundamental garantir que as máscaras estão secas.

“A resistência ao desgaste durante o tempo de utilização deverá também ser considerada, uma vez que as alterações provocadas pelo desgaste podem induzir a uma maior retenção e crescimento bacteriano”, lê-se ainda na norma publicada pela DGS a 13 de abril, referente às máscaras a serem produzidas em Portugal.

“As máscaras também têm inconvenientes”, assegura Nina, falando em pessoas asmáticas ou com deficiências respiratórias. “A máscara aquece, no verão isso poderá ser incomodativo. Também dificulta a conversa. A utilização das máscaras depende das circunstâncias.” Além disso, os doentes devem ter cuidados redobrados: “A tosse pode humedecer a máscara, a qual deve ser substituída logo que possível. Se ficar molhada, a máscara pode facilitar a transmissão do vírus”, reitera. Daí que também seja particularmente importante ter cuidado também no processo de retirar as máscaras.

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Um documento publicado pela Organização Mundial da Saúde, datado de 6 de abril, esclarece alguns tópicos referentes ao uso e ao descarte das máscaras de maneira a assegurar que estas são “eficazes”. Tal inclui colocar a máscara corretamente, a qual deve cobrir a boca e o nariz, além de estar bem atada para minimizar “espaços entre o rosto e a máscara”; evitar tocar na máscara durante a sua utilização; removê-la com a técnica apropriada, o que implica não tocar na parte de frente (deve ser desamarrada por trás); após a sua remoção, e de cada vez que é tocada inadvertidamente, proceder à lavagem das mãos; substituir a máscara assim que fique húmida por outra seca e limpa, e não reutilizar máscaras de uma única utilização.