Straight Voice, do japonês Yasuyoshi Chiba, foi considerada a “Fotografia do Ano” pelo júri do World Press Photo. Os vencedores da 63.ª edição do concurso de fotojornalismo foram revelados esta quinta-feira à noite, através do site e das redes sociais da organização sem fins lucrativos com sede em Amesterdão, nos Países Baixos.

A “Fotografia do Ano”, a categoria mais importante do concurso, mostra um jovem, iluminado por telemóveis, a recitar poesia de protesto enquanto manifestantes cantam slogans de protesto durante um apagão em Khartoum, no Sudão, a 19 de junho de 2019. “Este momento foi o único protesto pacífico com que me deparei durante a minha estadia. Senti a sua solidariedade inquebrável como brasas que estão prestes a incendiar-se outra vez”, disse Yasuyoshi Chiba.

Lekgetho Makola, presidente do júri do concurso deste ano, salientou o aspeto inspirador da fotografia: “É importante ter uma imagem que inspira as pessoas, sobretudo nos tempos em que vivemos, em que há tanta violência e tantos conflitos”, afirmou. “Vemos este jovem, que não está aos tiros, que não está a atirar uma pedra, mas a recitar um poema.” Chris McGrath, membro do júri, descreveu a imagem como “muito bonita”, uma “fotografia sossegada que resume todo a inquietação de todas as pessoas no mundo inteiro que querem mudanças”.

Yasuyoshi Chiba é o fotojornalista principal da Agence France-Presse (AFP) para a África Ocidental e o Oceano Índico. O japonês começou a sua carreira como freelancer em 2007, quando se mudou para o Quénia, onde reside novamente, em Nairobi. Começou a trabalhar para a AFP em 2011, no Brasil.

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Straight Voice também ganhou o primeiro prémio na categoria de notícias generalista. Nesta categoria, a história vencedora foi Hong Kong Unrest, um trabalho do dinamarquês Nicolas Asfouri para a AFP.

Romain Laurendeau vence “História do Ano” com retrato da juventude argelina

Na categoria “História do Ano”, o vencedor foi o francês Romain Laurendeau, com o trabalho Kho, the Genesis of a Revolt. A série, com fotografias tiradas entre 2014 e 2016 em Argel, é dedicada à juventude argelina que, ao desafiar as autoridades, conseguiram inspirar o resto da população a agir, originando o maior movimento de contestação das últimas décadas na Argélia.

“Foi impossível não me reconhecer em parto naqueles jovens. São novos, mas estão cansados desta situação e apenas querem viver as suas vidas como qualquer pessoa”, considerou o Laurendeau.

Sabine Meyer, membro do júri, considerou que, em termos fotográficos, o trabalho Kho, the Genesis of a Revolt “não tem falhas”. Já Lucy Conticello, que também integra o painel de jurados do World Press Photo deste ano, disse achar que “o nível de compromisso que o fotógrafo mostrou e a ligação e intimidade com as pessoas transpareceu” no trabalho.

Fotógrafo profissional, Romain Laurendeau já trabalhou em projetos em França, Senegal, Argélia, Palestina e Israel. A vida de Laurendeau mudou quando foi diagnosticado com Queratocone, uma doença ocular progressiva que distorce a forma da córnea. Depois de realizar um transplante da córnea em 2009, decidiu viajar e documentar a vida humana em todos os seus aspetos, sociais, políticos e económicos.

16 fotos

Kho, the Genesis of a Revolt ganhou também na categoria de projetos de longo prazo. Nesta, o segundo lugar foi para Hafiz: Guardians of the Qur’an, de Sabiha Çimen, da Turquia, e o terceiro para Ixit Genocide, de Daniele Volpe, de Itália.

Na categoria de temas contemporâneos, o primeiro foi para a fotografia Nothing Personal — the Back Office of War, do russo Nikita Teryoshi, e para a história The Longest War, do italiano Lorenzo Tugnoli, para o The Washington Post. No “Ambiente”, os vencedores foram a fotografia Polar Bear and her Cub, da húngara Esther Horvath, para o The New York Times, e a história The End of Trash — Circular Economy Solutions, do italiano Luca Locatelli, para a National Geographic. Já na “Natureza”, ganharam Final Farewell, do belga Alain Schroeder, que venceu também na mesma categoria com a história Saving Orangutans, um trabalho feito para a revista National Geographic.

Awakening, do polaco Tomek Kaczor, para Duży Format, Gazeta Wyborcza, ganhou na categoria de “Retrato”. Nesta, a história vencedora foi The Hauted, do australiano Adam Fergusson, para a The New York Times Magazine. No “Desporto”, os vencedores foram Kawhi Leonard’s Game 7 Buzzer Beater, do canadiano Mark Blinch, para a NBAE, e a história Rise from the Ashes, do norte-americano Wally Skalij, para o Los Angeles Times.

Na categoria de notícias locais, o primeiro prémio foi para Clash with Police During an Anti-Government Demonstration, do argelino Farouk Batiche, para a Deutsche Presse-Agentur, e para a história Ethiopian Airlines Flight 302 Crash Site, do etíope Mulugeta Ayene, para a Associated Press (AP).

Ao todo, participaram no concurso deste ano do World Press Photo 73.9996 fotografias, tiradas por 4.282 fotógrafos. Os 44 vencedores são oriundos de 24 países. Destes, 30 ganharam pela primeira vez.