As notícias em torno do estado de saúde de Kim Jong-un começaram a 15 de abril, quando o líder da Coreia do Norte falhou a habitual cerimónia comemorativa do avô e fundador do país e do regime, Kim Il-Sung. Quatro dias antes teria marcado presença numa reunião com membros da liderança norte-coreana mas aquela ausência num dos momentos mais importantes do ano em que se homenageia o “Presidente Eterno” começou a gerar uma série de informações e contra-informações. Algo que se adensou (e muito) ao longo deste fim de semana, como foi resumido num vídeo de oito minutos do New York Times que começa exatamente com as imagens da cerimónia em memória de Kim Il-Sung – onde não aparece o neto mas onde é visível uma maioria dos presentes a usar máscaras – mas que explica as dificuldades em conseguir saber e confirmar informações no país.

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Tudo começou com uma notícia do Daily NK, um jornal gerido por dissidentes norte-coreanos, que falava numa operação ao coração a Kim Jong-un. A informação chegou depois à imprensa americana, que adensou então o cenário e colocou o líder em risco de vida. Ato contínuo, da China vieram desmentidos a essa possibilidade (sem que ainda assim fosse colocada em causa a cirurgia) e da Coreia do Sul a garantia de que iria marcar presença num evento público. Entretanto, soube-se também que a China enviou uma comitiva de especialistas e médicos para aconselhar Kim Jong-un, informação avançada pela Reuters mas não confirmada pelas autoridades do país.

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Este sábado, as informações que chegaram a público seguiam o cenário mais complicado que tinha sido adiantado pelos americanos: um elemento da direção do canal televisivo HKSTV, de Hong Kong, anunciou que o líder norte-coreano tinha morrido, citando “uma fonte sólida”, ao passo que o Shukan Gendai, do Japão, referiu que Kim tinha ficado em estado vegetativo na sequência de uma operação ao coração. O Business Insider explicava os problemas de saúde do norte-coreano, pelo excesso de peso e por fumar. No entanto, de forma célere, novas informações começaram a circular e davam conta da possível presença do líder na casa de férias.

Kim Jong-un está doente? Ninguém sabe, mas voltou o debate sobre o sucessor — ou sucessora

De acordo com a Bloomberg, o comboio de Kim Jong-un estacionado na costa este do país, segundo informações do grupo de monitorização 38 North, fazia crer que o líder poderia estar apenas na sua casa de férias, em Wonsan, onde tem além de uma enorme mansão um campo de tiro, zonas de lazer, equitação e até um pequeno aeródromo. O comboio, com cerca de 250 metros de comprimento, estaria na zona pelo menos desde dia 21 de abril de acordo com as informações recolhidas por satélite, indiciando que poderia estar a evitar qualquer contágio de Covid-19 ou mesmo de férias. Esse mesmo grupo de monitorização detetou que, entre início de fevereiro e início de abril, por exemplo, o centro médico que existia para o líder do país na zona central de Pyongyang tinha sido demolido para dar lugar a uma infraestrutura maior (mas não há qualquer indício que Kim Jong-un possa estar nessa zona).

Para o KCNA, o único órgão oficial da Coreia do Norte, só havia uma notícia este sábado sobre o líder e que dizia respeito ao primeiro aniversário do encontro que Kim teve com Vladimir Putin, presidente da Rússia, com a imprensa internacional a destacar o carácter histórico da deslocação ao país de leste que serviu para fomentar uma estratégia de desenvolvimento de uma relação ainda mais amigável entre os dois países numa nova era. Numa entrevista à Fox News, Bruce Klingner, especialista da The Heritage Foundation, assumiu todos esses possíveis cenários sem que existam certezas por uma razão muito concreta: ao contrário do que aconteceu até aqui, como por exemplo no seu caso, não existe uma sucessão formal definida na Constituição do país.

EUA “seguem de perto” alegados problemas de saúde de Kim Jong-un

Esta madrugada, a rádio estatal deu conta que “o camarada Kim Jong-un expressou a sua gratidão do fundo do coração a todos os trabalhadores e empregados que ajudaram a criar a cidade de Samjiyon”. Samjiyon que é uma região mais a norte do país, perto da fronteira com a China, para onde Kim Jong-un já se deslocou outras vezes e a partir da qual pode liderar a Coreia do Norte (e que está especificamente montada para caso tenha algum problema de saúde ou caso o país viva uma ameaça mais latente no plano externo ou interno). A mansão que tem em Kangdong, e onde o líder poderia ficar caso estivesse a recuperar de uma operação, não foi ainda referida. Foi aí por exemplo que o pai, Kim Jong-il, apareceu pela primeira vez em público depois de ter um enfarte, em 2008. Um problema de saúde grave que nunca foi referido na imprensa local do regime. Nem na altura, nem depois.

Certo é que, como recorda a Al Jazeera, esta não é a primeira vez que o líder norte-coreano se afasta dos holofotes públicos, algo que já tinha acontecido no início do ano e que ocorrera em 2014, quando foi operado para remover um quisto do tornozelo. Com 36 (informações dos EUA) ou 37 anos (registos de Pyongyang), uma discordância de ano que não existe em relação ao dia e mês de nascimento (8 de janeiro), Kim Jong-un, general de quatro estrelas do Exército Popular da Coreia, chegou à liderança da Coreia do Norte em 2011 e à presidência do Partido dos Trabalhadores da Coreia em 2012 e, sendo o primeiro a liderar o país tendo nascido depois da sua fundação.