Atores, músicos, cientistas, intelectuais juntaram-se numa carta aberta enviada a Jair Bolsonaro onde exigem “ação imediata” por parte das autoridades brasileiras para evitar uma “ameaça extrema à sobrevivência” das comunidades indígenas da Amazónia. O organizador e mentor da iniciativa, o fotojornalista brasileiro Sebastião Salgado, garante que estamos “à beira de assistir a um genocídio”.
Nomes como Brad Pitt, Oprah Winfrey, Meryl Streep e Paul McCartney assinaram a carta, que refere que “há cinco séculos, estes grupos étnicos foram dizimados por doenças levadas pelo colonizadores europeus”. “Agora, com este novo flagelo a espalhar-se rapidamente pelo Brasil, podem desaparecer completamente porque não têm meios para combater a Covid-19”, acrescenta a carta enviada ao presidente brasileiro.
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Em conversa com o The Guardian, Sebastião Salgado defendeu que as pessoas que invadem os territórios destes povos, como mineiros independentes à procura de ouro ou madeireiros ilegais, devem ser expulsos imediatamente para evitar que o novo coronavírus seja transportado para estas regiões. Atualmente, no Brasil, 97.929 pessoas já foram infetadas com a Covid-19 e 6.777 acabaram por morrer.
“As comunidades indígenas nunca estiveram tão em risco. O governo não tem qualquer respeito pelos territórios indígenas”, acrescentou Salgado, indicando ainda que a administração de Bolsonaro tem levado a cabo vários cortes orçamentais que retiraram a proteção que ainda existia nestas povoações. “No Ruanda, vimos um violento genocídio, um ataque, onde as pessoas foram fisicamente assassinadas. O que vai acontecer no Brasil também vai significar a morte dos indígenas”, concluiu o fotojornalista, que documento o genocídio de 1994 no Ruanda e que recordou que mais de 300 mil indígenas da Amazónia estão à beira da “aniquilação”.
Na carta aberta, também assinada por Madonna, pelas modelos Gisela Bündchen e Naomi Campbell e pelo escritor Mario Vargas Llosa, pode ler-se que “não há nada que proteja os povos indígenas do risco de genocídio causado por uma infeção introduzida por forasteiros que entram na terra deles ilegalmente”. A região brasileira mais afetada pela pandemia é precisamente a cidade de Manaus, a capital do Estado do Amazonas. Sebastião Salgado pede a criação de uma taskforce liderada pelos militares que impeça a entrada de intrusos em áreas protegidas e diz que espera que a pressão internacional acabe por forçar o governo de Jair Bolsonaro a tomar uma atitude, tal como aconteceu o ano passado com a questão dos incêndios na Amazónia.
“Só na Amazónia, existem 103 grupos indígenas com os quais nunca contactámos. Representam a Pré-História da humanidade. Não podemos permitir que tudo isto desapareça”, conclui Sebastião Salgado.