“Cala a boca, não perguntei nada”. Foi desta forma que reagiu Jair Bolsonaro nesta terça-feira, enquanto era questionado por jornalistas. O presidente brasileiro tinha acabado de sair do Palácio da Alvorada, a sua residência oficial, quando se dirigiu ao local onde estava a imprensa. Questionado sobre a sua influência na mudança de liderança da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Bolsonaro irritou-se e mandou calar um dos jornalistas presentes, neste caso do Estado de São Paulo.

Poucos segundos antes, o chefe de estado mostrava a capa do jornal Folha de São Paulo e explicava-se sobre um dos temas que cavaram um fosso no governo entre si e Sérgio Moro. À publicação, chamava-a “patifaria” antes de disparar três vezes “cala a boca” contra o jornalista. Por trás, ecoavam os gritos dos apoiantes, que replicavam os insultos do presidente.

A exaltação de Bolsonaro tinha uma justificação: a imprensa tem questionado se o presidente pediu ou não para trocar o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Carlos Henrique Oliveira, um dos motivos que levou o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, a pedir demissão. Há meses que a comunicação social retratava uma guerra fria entre as duas figuras do governo brasileiro, com Moro a ser uma das figuras de destaque. O homem que ganhou notoriedade por todo o país por conduzir as operações do processo Lava Jato acusava Bolsonaro de interferir nas decisões da Polícia Federal e de querer mudar, tal como chegou a acontecer, na sua liderança.

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Em causa está uma investigação da Polícia Federal a dois casos que incluem filhos de Bolsonaro e que tratam uma suspeita de propagação de notícias falsas e esquemas de desvio de dinheiro público. A Folha acusou-o de organizar a troca na liderança, ao que respondeu: “[Carlos Henrique Oliveira] Está a sair para ser diretor executivo, a convite do atual diretor-geral. Não interfiro em nada. Se ele for um desafeto meu e se eu tivesse ingerência na Polícia Federal, não iria para lá”, afirmou Bolsonaro. “É a mensagem que vocês dão”, reforçou.

Bolsonaro acabou por não responder diretamente às perguntas sobre a mudança na PF e saiu a criticar a imprensa. Ao lado, os apoiantes continuavam a defendê-lo.

Ainda nesta terça-feira uma outra nomeação feita pelo presidente do Brasil causou polémica. Jair Bolsonaro reconduziu o maestro Dante Manovani para o cargo de presidente da Fundação Nacional de Arte, depois de este ter sido demitido por Regina Duarte, que está atualmente aos comandos da Secretaria da Cultura. Em causa estava uma associação feita por Mantovani em março, ao ligar o rock ao aborto, ao satanismo e às drogas num vídeo.

A imprensa brasileira diz que Regina Duarte foi “desautorizada” e apanhada de surpresa pela recondução. A própria faz parte das nomeações polémicas do atual chefe de estado brasileiro, tendo provocado uma divisão de opiniões entre colegas na área da cultura. O jornal Folha de São Paulo garante que a atriz, conhecida por várias participações em novelas da Globo, aguarda uma conversa com Jair Bolsonaro, para decidir se vai ou não permanecer com o cargo que ocupa.