Em Portugal, há seis concelhos com mais de mil pessoas infetadas com o vírus da Covid-19, mas a estratégia para a proteção da população tem diferido no topo do ranking. Deste grupo, dois concelhos optaram por distribuir máscaras de forma generalizada pelos seus habitantes, com investimentos na ordem dos milhares de euros e procurando cobrir a totalidade da população.
Numa altura em que o apelo ainda se dirige para o confinamento como “dever cívico”, dados relativos ao final de abril mostram que os portugueses começaram a sair mais de casa. Agora, com o pequeno comércio a reabrir e a influenciar a mobilidade populacional, a utilização de máscaras é cada vez mais necessária. Mas Vila Nova de Gaia e Matosinhos são exceção na lista dos seis concelhos com maior número de infetados, que é liderada por Lisboa (em primeiro lugar, com mais de 1.500 infetados) e que inclui também o Porto, Braga e Gondomar.
Naquelas duas cidades do distrito do Porto, a partir desta semana, as caixas de correio tornaram-se o principal canal para fazer chegar as máscaras aos habitantes. Em Gaia, um investimento de cerca de 600 mil euros traduziu-se em 320 mil máscaras reutilizáveis, num município com pouco mais de 300 mil habitantes. Do lado norte do Douro, kits de três máscaras reutilizáveis estão a ser distribuídos por cada habitação de Matosinhos, a partir dos 200 mil exemplares adquiridos, confirmou a autarquia ao Observador.
Veja aqui que autarquias estão a distribuir máscaras gratuitas
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Estes são alguns dos concelhos e freguesias que distribuem máscaras de forma gratuita pela população, numa lista que manteremos em atualização.
Câmaras Municipais:
- Alcochete: máscaras reutilizáveis, laváveis cinco vezes, serão colocadas nas caixas do correio da população. Quem não receber pode recorrer a uma linha telefónica (914 431 630) para fazer o pedido;
- Alenquer: já começaram a ser distribuídos 15 mil kits com seis máscaras cirúrgicas e seis pares de luvas para cada agregado familiar;
- Matosinhos: kits de três máscaras reutilizáveis por cada habitação;
- Vila Nova de Gaia: 320 mil máscaras reutilizáveis, a serem colocadas nas caixas do correio;
- Mafra: oito máscaras por cada casa, tendo um total de 500 mil para serem distribuídas pelos os habitantes;
- Famalicão: vai distribuir 135 mil máscaras e luvas pela população, no âmbito do programa “Proteger Famalicão”;
- Portimão: 250 mil máscaras, em kits que são compostos por seis unidades;
- Valongo: 100 mil máscaras reutilizáveis em distribuição ao longo do mês de maio;
- Caldas da Rainha: adquiriu tecido para a confeção de 100 mil máscaras para os habitantes;
- Cascais: máscaras gratuitas para os utentes dos transportes públicos e para a população idosa em geral;
- Batalha: 40 mil máscaras já entregues a 8 mil habitantes do concelho;
- Tondela: voluntários estão já a distribuir máscaras reutilizáveis a toda a população;
- Leiria: máscaras feitas por voluntários estão a ser distribuídas a 60 lares e IPSS.
Juntas de Freguesia:
- Santa Maria Maior, em Lisboa: linha telefónica 218 802 000 recebe pedidos de quem quiser receber máscaras gratuitas;
- Estrela, em Lisboa: aceita pedidos de máscara pela internet e oferece kits compostos por oito exemplares;
- União de Freguesias de Tornada e Salir, no Porto: já distribuiu mais de três mil máscaras pelos habitantes;
- União de Freguesias de Barroselas e Carvoeiro, em Viana do Castelo: com 5 mil habitantes, vai entregar cinco máscaras descartáveis por cada casa, num total de 12 mil exemplares;
- Oito freguesias de Lousada (de que são exemplo Aveleda, Nevogile, Meneido ou Sousela): 25 mil máscaras reutilizáveis para distribuir pela população;
- Lalim, em Lamego: iniciativa “máscara solidária” já produziu 500 máscaras para serem entregues aos habitantes;
- União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, Caldas da Rainha: pelo menos 3.500 máscaras já distribuídas pela população;
Gondomar, o quinto com mais casos de Covid-19 no país, prefere não seguir a mesma linha — tal como Lisboa, Porto e Braga. Nestes, que são também as capitais de distrito com maior dinâmica de movimentos pendulares — isto é, com mais entradas e saídas das cidades —, as autarquias optaram por deixar que a população encontrasse no mercado as máscaras de que necessita.
Contactado pelo Observador, Marco Martins, presidente da câmara de Gondomar, diz que acredita que é desnecessário fazê-lo “quando a maioria da população já encontrou solução”, por exemplo em máscaras comunitárias, e explica que o investimento que podia ser aplicado em máscaras pôde ser canalizado para outras frentes em que a autarquia atuou de forma preventiva. A mesma ideia é corroborada por Ricardo Rio, autarca de Braga: as 65 mil máscaras que o município conseguiu (entre doações, parte das quais feitas pela cidade chinesa de Shenyang, com a qual trocaram experiências) vão ser distribuídos pelos serviços municipais e pelas IPSS’s e lares do concelho.
A ideia original em Braga seria encontrar mecanismos que pudessem criar condições para a aquisição de máscaras a preços acessíveis, mas acabou por ficar “ultrapassada”. “O mercado ajustou-se”, sublinhou o autarca bracarense, referindo-se aos preços do material de proteção que hoje são praticados. No município, admite-se a possibilidade de fornecer proteções faciais à população mais carenciada, mas tal mantém-se ainda apenas uma hipótese, visto que os pedidos que chegaram são escassos.
Em Lisboa, onde foi chumbada uma moção do PSD para o uso generalizado de máscaras, além dos supermercados e farmácias, são os agentes da polícia municipal a distribuir exemplares por quem não tem nos transportes públicos. Por outro lado, para quem precisa de máscaras, a solução pode estar também nas máquinas de venda automática distribuídas ao longo das redes do metro, tal como no Porto. Com o regresso da mobilidade, fomentada pela reabertura do pequeno comércio e de alguns serviços, foram postas à venda máscaras, luvas e desinfetantes nas máquinas que antes só estavam preenchidas com alimentação, com os preços das máscaras descartáveis a rondarem os cinquenta cêntimos e os desinfetantes dois euros. Não há números concretos sobre as vendas, com o material a ser reposto à medida que se vai esgotando nas máquinas, explicou o Metro de Lisboa.
Mesmo assim, dentro de Lisboa, há quem tenha optado por uma estratégia diferente da da câmara municipal: em Santa Maria Maior, freguesia que abarca as zonas do centro histórico da capital, há uma linha telefónica que serve de canal para quem precisa de máscara, assegurando a sua distribuição gratuita. A junta diz querer “assegurar que, nas saídas imprescindíveis, a população está protegida” e garante uma máscara para cada habitante recenseado.
https://www.facebook.com/JFSantaMariaMaior/posts/1323248891212016/
Várias autarquias optaram pela distribuição gratuita
Famalicão, Mafra, Leiria, Portimão, Castro Verde. A lista de municípios que procederam à distribuição generalizada de máscaras de forma gratuita estende-se a outros exemplos, que olham também para a capacidade de reutilização do material, a dimensão populacional e o apelo à manutenção do confinamento. Há casos em que se juntam voluntários para a sua produção, como é o caso de Leiria, ou que têm especificidades como em Cascais: no município, que conta transportes públicos gratuitos desde janeiro, estão a ser entregues máscaras gratuitas a quem os usa — por ser um elemento obrigatório.
No último caso, o município de Cascais diz estar já numa “terceira fase”, já que a distribuição de máscaras pelos agregados familiares ocorreu na primeira fase, para que “pelo menos um elemento” pudesse sair à rua com maior proteção. Agora, a medida passa por baixar baixar o preço das máscaras para a restante população: “Baixámos para 70 cêntimos, o mercado local teve de se ajustar. Com 25 cêntimos, o mercado terá que se ajustar também a este preço, o que permite uma maior dispersão de máscaras na população de Cascais”, disse o autarca ao Observador.
Depois de o uso de máscara ter sido desaconselhado durante várias semanas pela Direção Geral da Saúde e pelo Governo, a entrada em vigor da norma que recomenda este tipo de proteção tornou-se num impulso para o fabrico de máscaras, quer descartáveis quer reutilizáveis. Agora, com o país sob estado de calamidade, a sua utilização passou a ser obrigatória em transportes públicos, mas também noutros espaços fechados com muitas pessoas, como as escolas ou os serviços de atendimento público.