Tedros Adhanom Ghebreye, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde pediu aos países que ponderem antes de reabrir as escolas, uma vez que ainda não há evidências científicas que possam determinar o papel das crianças na transmissão do novo coronavírus.
Na conferência de imprensa desta terça-feira, Tedros Adhanom Ghebreye disse que, “sobre as crianças regressarem à escola, os decisores políticos devem refletir num número de fatores-chave na hora de decidir se ou como reabrir as escolas”: “Primeiro, é precisa uma compreensão clara sobre a transmissão da Covid-19 e sobre a severidade do vírus nas crianças. Segundo, a epidemiologia da Covid-19 onde a escola está geograficamente deve ser considerada”.
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Em Portugal, os estudantes têm acompanhado as aulas através do computador, em comunicação com os professores, e através do projeto #EstudoEmCasa. No entanto, a partir de segunda-feira, o regime presencial vai regressar nas creches e jardins de infância. É uma estratégia de desconfinamento que outros países já estão a seguir, mas que alguns professores e encarregados de educação temem.
Os conselhos da Organização Mundial de Saúde surgem uma semana depois de Daniel Koch, delegado para a Covid-19 do Gabinete Federal de Saúde Pública suíço, ter afirmado que “as crianças praticamente não são infetadas e, especialmente, não passam o vírus”: “Não há praticamente quaisquer dados a mostrar que as crianças transmitiram o vírus”, disse em conferência de imprensa.
De facto, a literatura científica não reporta qualquer caso de uma criança que, após ter ficado infetada pelo SARS-CoV-2, tenha passado o vírus a outras pessoas. Os números também indicam que as crianças são as menos afetadas pela Covid-19 e que os casos de fatalidade entre os mais jovens são muito raros.
No entanto, apesar deste aparente papel limitado das crianças na propagação da Covid-19, os especialistas ouvidos à época pelo Observador indicavam ser “prematuro” dizer que as crianças não transmitem o vírus: “Não conheço nenhum estudo em que as crianças tenham sido veículo de transmissão do vírus para outras crianças ou adultos. Mas esses dados não chegam para dizer que as crianças não transmitem o vírus”, indicou Luís Varandas, pediatra e professor de infecciologia no Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
Os estudos que analisam o impacto das crianças na transmissão do novo coronavírus são limitados, uma vez que a amostra em que se debruçam é pequena, as metodologias apresentam problemas e muitos deles não foram revistos pelos pares — um passo essencial para validar cientificamente as conclusões a que chegam.
Por isso, “poderá afirmar-se que poderão ter uma carga viral menor e, por isso, serão menos transmissores”, descreveu Luís Varandas: “Poderá dizer-se também que, tendo menos recetores celulares, terão mais dificuldade em infetar-se e em infetar os outros. É possível que não transmitam, mas não podemos afirmá-lo”, ressalvou.