No domingo, 17 de Maio, um voo fretado à Air France segue de Paris para a capital do Níger. A bordo seguem cidadãos daquele país africano que regressam a casa em plena pandemia. Jorge Passarinho quer aproveitar o voo de volta à cidade luz, mas a companhia francesa não autoriza.

Entre emails e telefonemas, Jorge Passarinho anda há dias numa roda viva para tentar assegurar um lugar num avião que o retire do Níger, mas sem sucesso.

O português está a trabalhar, em Niamei, no Níger, desde de Abril do ano passado, onde está a implementar um sistema de controlo biométrico dos funcionários público. Há seis semanas surgiu a ordem para “confinar”. Está em casa desde então com o diretor de operações da empresa para a qual trabalha, um cidadão mexicano.

Jorge Passarinho diz que tentou tudo, “desde o gabinete do primeiro-ministro daqui até à embaixada do México”.

“E tentei com ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa e com o embaixador português na Nigéria (responsável por aquela região), que me disse que não pode fazer nada. Lamento, mas sou-lhe inútil”, ter-lhe-á dito o diplomata.

Segundo este emigrante português, o embaixador ter-lhe-á perguntado: “Porque é que você não me enviou um e-mail para o meu e-mail pessoal?”. Mas este é um endereço de e-mail que não está disponível no sites oficiais da diplomacia portuguesa, queixa-se.

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Este português nunca pediu o repatriamento, quer apenas que as autoridades portuguesas contactem a diplomacia francesa para convencer a Air France a transportar europeus para Paris. “Eu pago o meu voo”, acrescenta. “E outros europeus, incluindo outro português, que querem regressar”.

Jorge Passarinho queixa-se de não ter tido respostas aos mails que enviou para endereço de correio electrónico que consta no portal das Comunidades Portuguesas: covid10@mne.pt. Tentou ainda, sem sucesso, a embaixada francesa e a representante da União Europeia naquele país africano.

No Níger há apenas 860 casos confirmados de Covid 19 e 49 mortos, segundo os dados oficiais. A situação no país “é calma”, assegura Jorge Passarinho.

MNE diz estar a acompanhar o caso através da embaixada em Abuja

Contactado pelo Observador, o ministério dos Negócios Estrangeiros diz estar a acompanhar a situação, mas dá poucas esperanças a Jorge Passarinho de que este vai conseguir voltar no voo da Air France referido. Isto porque “a embaixada de França no Níger informou que o voo para Paris é fretado pelas autoridades nigerinas e não está autorizado, por enquanto, a transportar passageiros na rota de regresso à Europa”, refere a diplomacia portuguesa.

Ainda assim, o MNE está a acompanhar o caso através da embaixada de Portugal em Abuja (que tem jurisdição sobre o Níger). É esta representação portuguesa que “está a procurar voos alternativos de repatriamento, organizados por outros países da União Europeia”. E garante que a embaixada “tem dado conta dessas diligências” ao cidadão em causa.

Já sobre as acusações de Jorge Passarinho quanto à falta de resposta, ou respostas insuficientes, por parte das estruturas diplomáticas portuguesas, o MNE não responde.