No dia em que viu dois elementos do Conselho Diretivo demitirem-se e em que o Sp. Braga fez oficialmente uma queixa do Sporting no Tribunal Arbitral do Desporto devido a Battaglia, Frederico Varandas deu uma longa entrevista ao Canal 11 onde falou das demissões e da luta jurídica com os minhotos mas também sobre o futuro do clube, a relação com Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira e a saúde financeira leonina no pós-pandemia.

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Sobre este último tópico, o presidente do Sporting garante que é um “desafio” fazer qualquer orçamento, principalmente porque é incerto fazer previsões sobre os valores que vão ser tidos em conta no próximo mercado de transferências. “Ninguém estava preparado para a pandemia. Se esta pandemia tem sido há um ano, o Sporting colapsava financeiramente. Neste momento, o que é que há a fazer? Tivemos medidas de gestão a curto prazo. Foi um clube que se organizou muito rapidamente. Tomámos a decisão de a administração ter cortes salariais de 50%, os jogadores da equipa de futebol profissional de 40%, os atletas das modalidades de 30% e colocámos 86% dos nossos funcionários em layoff. A ajudar a isto há o planeamento de consolidação financeira que o Sporting tem desde setembro de 2018″, explicou Varandas. De recordar que, na passada sexta-feira, o clube de Alvalade anunciou que vai prolongar o layoff até dia 15 de junho e esta segunda-feira divulgou um corte de 30% nos salários dos Sub-23 e da equipa principal de futebol feminino.

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Sobre o mercado de transferências, e a forma como as oscilações das janelas podem tornar-se “extremamente complicadas” se não normalizarem nos próximos dois a três anos, Frederico Varandas garante que o que “assusta” mais nesta altura é terminar a temporada com jogos à porta fechada. “Isto já vai trazer custos. Temos de respeitar os sócios que compraram gameboxes. Vamos ter cinco jornadas que os sócios não vão poder ver. Na próxima época, não sabemos a lotação que o estádio pode ter. Pode ser um quarto, um quinto, um sexto… Vamos fazer vários planos e a última palavra será dos sócios”, atirou o líder leonino.

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Sobre o contrato com a NOS, Varandas destacou a importância da titularização do vínculo em cerca de 65 milhões de euros — uma operação que era uma das bandeiras do atual presidente na altura da candidatura aos órgãos sociais do Sporting. “Do ponto de vista financeiro, cumprimos tudo o que prometemos. Falta apenas um item que estamos a negociar, que é a segunda fase de reestruturação com os bancos, Novo Banco e Millenium BCP. Frederico Varandas explicou ainda que a venda de alguns jogadores fulcrais na equipa, como Raphinha ainda no início da temporada e Bruno Fernandes em janeiro, foi algo necessário. “Quem me dera a mim chegar aqui e dizer assim: ‘Tenho a solução para resolver um problema de tesouraria de 215 milhões e não vou perder competitividade desportiva’. Não acredito que alguém seja sério e conseguisse fazer isto. Nós conseguimo-lo mas tem um preço”, referiu, acrescentando que o Sporting está agora “financeiramente muito melhor do que em 2018”, ano do último ato eleitoral. O presidente congratulou-se ainda com os acordos atingidos por Gelson Martins, Rui Patrício e Podence, que considera terem sido “grandes negócios”. “Não é fácil chegar a um clube como o Wolverhampton, o Atl. Madrid e o Olympiacos, ir a tribunal e ganhar. Não, não! Conseguir chegar a este acordo não foi fácil. Foi extremamente difícil”, terminou.

Frederico Varandas comentou também a reunião com o primeiro-ministro em que esteve presente ao lado de Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira e também dos presidentes da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga, com vista a preparar e programar o regresso do futebol. Para o presidente do Sporting, este foi “infelizmente” um momento histórico. “Digo infelizmente por uma razão. Eu não tenho de ser amigo do presidente do FC Porto e do Benfica. Mas do ponto de vista da indústria, é uma loucura que Benfica, Sporting e FC Porto não estejam alinhados, pelo menos em 80% da visão do futebol português. Não estou a falar de rivalidade nem de processos na justiça. Falo do ponto de vista empresarial e da indústria”, disse Varandas.

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O presidente do Sporting confirmou ainda o regresso da equipa B do clube já na próxima temporada, naquilo que é o antecipar de um projeto que estava inicialmente pensado para 2021/22. Frederico Varandas sublinhou ainda que o clube de Alvalade não tem capacidade para contratar jogadores de 10 milhões de euros, “como FC Porto e Benfica fizeram”, e garantiu que a resposta terá de ser a formação. “Temos de ter um plantel composto por entre um terço a metade dos jogadores formados no Sporting. Isso vai verificar-se já no próximo ano”, afirmou, recordando que “investir na Academia não é só mudar os relvados”. “Fizemos um Grupo de Elite com 15, 16 anos. Se podiam ajudar a equipa principal? É difícil. São juvenis e para o ano vão estar nos Sub-23. Vamos chegar lá. Temos hoje um modelo de evolução centrado no jogador. Há um Grupo de Elite sempre identificado, seja Sub-13, Sub-15 ou Sub-17. Todo o staff, desde os recursos humanos ao pessoal de nutrição, sabe quem é esse Grupo de Elite. O objetivo é chegar à equipa principal”, concluiu Varandas.

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Sobre as modalidades, o líder leonino referiu que tem de existir “a palavra ‘adaptação’ e não ‘cortes'” para explicar que “o foco tem de ser a formação” também fora do futebol. “Tem de ser obrigatório. Não há hipótese de contratar só craques. Ou os nossos rivais também vão por este caminho ou ninguém se aguenta”, acrescentou, garantindo que ainda “não faz ideia” se será possível começar os campeonatos das modalidades em setembro nos pavilhões.

Por fim, Frederico Varandas explicou, “sem mentir aos sócios”, que o objetivo do futebol do clube até 2022 é estar na Liga dos Campeões e que a equipa vai continuar a “lutar pelo título” e reiterou algo que já tinha referido no passado sobre Rúben Amorim. “O treinador do Sporting dificilmente, em três ou quatro anos, não estará nos melhores clubes europeus. Não tenho a menor dúvida. Com metodologia de treino, com a liderança, sem medo de apostar na juventude… Não tenho dúvidas”, concluiu.