O governo está preocupado com o cruzamento entre a epidemia de Covid-19 em Portugal e a epidemia de gripe sazonal no princípio do próximo inverno. Em conferência de imprensa esta quarta-feira, António Lacerda Sales afirmou que esta é “uma matéria muito importante” e “de muita preocupação”.

O secretário de Estado da Saúde confirmou que as autoridades de saúde estão “a tratar dos procedimentos concursais” para a aquisição de vacinas para a gripe: “É um assunto que vamos acompanhar com muita atenção”, prometeu António Lacerda Sales, recordando que a cobertura da vacina em Portugal é superior a 70%.

A garantia do governo chega depois de a Ordem dos Médicos ter alertado que se deve acelerar o processo de aquisição de vacinas contra a gripe sazonal: “É fundamental que nessa altura tenhamos os nossos cidadãos protegidos, pelo menos contra a gripe sazonal”, afirmou à Rádio Renascença Miguel Guimarães, recordando a importância de evitar uma pressão demasiado alta no serviço nacional de saúde.

Sobre a evolução da epidemia de Covid-19 em Portugal — um assunto que abriu a conferência de imprensa —, António Lacerda Sales indicou que “a taxa de testes positivos diários está abaixo dos 5%” e o risco de transmissão (Rt) ronda os 0,95 nos últimos cinco dias — um valor que se tem mantido relativamente estável.

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Falando de um “longo caminho”, o secretário de Estado da Saúde fala de um “alento” e de um “sinal de confiança no nosso futuro” ao fazer o balanço: “Desde 20 de abril, o número semanal de internamentos tem vindo a diminuir. Em unidades de cuidados intensivos, a tendência é semelhante. A média de óbitos semanal também tem diminuído de semana para semana”.

Sobre queixas de maus tratos nos lares: “A higiene não está impedida”

Graça Freitas recusou-se a responder diretamente ao caso do Lar do Comércio, em Matosinhos, que está a ser acusado de negar cuidados básicos de higiene aos idosos que foram transferidos para outras instalações após terem sido encontrados casos positivos de infeção pelo novo coronavírus.

No entanto, a diretora-geral da Saúde notou que “obviamente, a higiene não está impedida”: “Não há nenhuma regra que impeça. Terão de criar uma forma de organizar os recursos humanos, providenciando a higiene básica dos utentes. Isso há sempre forma de fazer. Não há nenhum motivo para que os utentes não sejam higienizados”.

Quanto ao surto de Covid-19 identificado no pessoal do Hospital de Santa Maria, Graça Freitas informou que “nove profissionais de saúde testaram positivo, 35 testaram negativo e há cerca de 25 análises em curso”. Três dos doentes internados testaram positivos e já foram transferidos para as unidades da Covid-19.

A atualização da diretora-geral da saúde chega um dia depois de ter sido confirmado um surto no serviço de pneumologia naquela unidade hospitalar em Lisboa. Após ter sido desencadeado um programa de testagem aos profissionais de saúde, 10 pessoas infetadas foram identificadas na terça-feira: três enfermeiros, quatro assistentes operacionais e três doentes.

Sobre acompanhantes de grávidas: “Em última análise, é a equipa clínica que decide”

A conferência de imprensa também trouxe esclarecimentos no que toca às orientações para o acompanhamento de grávidas nos hospitais. Graça Freitas indicou que essas orientações estão a ser revistas tendo em conta o risco de contágio que esses acompanhantes podem representar dentro da sala de parto:

“As condições físicas da sala ditam o tipo de acompanhamento e, em última análise, é a equipa clínica que decide”, esclarece a diretora-geral da Saúde, referindo o tamanho da sala e a disponibilidade de equipamento de proteção para os acompanhantes das grávidas. “Haverá regras, mas pontualmente a equipa clínica poderá ter a última palavra”, conclui.

Ainda sobre as regras impostas pelas autoridades de saúde para o regresso à normalidade nos próximos tempos, e após uma referência à orientação publicada esta manhã sobre a utilização de transportes públicos, Graça Freitas regressou ao tema do risco de infeção pela utilização de superfícies ou objetos contaminados — um tópico que surge nesse novo documento.

Questionada sobre as evidências científicas que existem em torno desse assunto, Graça Freitas apela à desinfeção desses objetos, não obstante um estudo revelado pela Organização Mundial de Saúde que indica que a transmissão por essa via “poderá não ser tão elevada como pensávamos”.

Ainda assim, e seguindo o princípio da precaução, “a OMS continua a recomendar a higienização de superfícies e objetos”: “Os transportes coletivos têm indicações muito precisas e as pessoas têm indicação para tocar o mínimo possível. São uma potencial fonte de transmissão da doença”, conclui.