Nem no mar, nem no areal: o distanciamento recomendado aos banhistas nas praias da Linha de Cascais está longe de ser cumprido em alturas de maré-cheia, pois o espaço para estender a toalha e guardar as distâncias fica ainda mais difícil.

Com temperaturas a rondar os 30 graus, tanto na praia de São Pedro do Estoril, como na vizinha das Avencas, a afluência de banhistas superava aquilo que poderia ser o desejável tendo em conta as recomendações do Governo no acesso às praias em tempo de pandemia.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

A distância física entre os utentes deve ser de 1,5 metros e entre chapéus de sol, toldos ou colmos de três metros, mas não foi o cenário a que a reportagem da agência Lusa assistiu ao início da tarde de hoje, durante a maré-cheia o areal transforma as praias que ficam ainda mais pequenas.

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Apesar de o Governo ter marcado a abertura do período balnear para 6 de junho, pode ir-se à praia, após a resolução do Conselho de Ministros que prorroga a declaração da situação de calamidade, no âmbito da pandemia da doença covid-19, datada de dia 17 de maio.

Este sábado, o areal estava repleto e podiam ver-se famílias a passear à beira mar, banhistas a partilhar uma garrafa de cerveja, grupos de amigos a que se iam juntado outros que chegavam à praia e até cães a brincar no parco areal.

Alguns ainda tentavam o distanciamento, mas tendo em conta o espaço disponível ficava difícil o panorama não ser de ficar quase em cima da toalha vizinha.

José encontrava-se sentado no muro a contemplar o mar na praia de São Pedro do Estoril e a horda de surfistas em grupo à espera de apanhar a melhor onda. Disse à Lusa que ao fim de semana não desce ao areal, a praia “é pequenita”, reconheceu.

“Venho várias vezes, moro aqui perto. [Hoje] venho dar um passeio, mas não vou mergulhar, por enquanto ainda não, hoje não. Ao fim de semana não gosto de ir para a água”, explicou, e olhando para a praia, acrescentou que quando a maré está cheia, como era o caso, “pouco espaço há”.

Pedro Hubert falou já à saída da praia, enquanto a família ia sacudindo a areia, e disse que hoje não foi o seu primeiro dia, explicando que o facto de morar perto lhe dá a possibilidade de poder escapar até à praia.

“Já tenho vindo algumas vezes dar um mergulho, para arejar um bocadinho. Até agora penso que as pessoas se têm comportado bem, têm respeitado, mesmo nos outros dias”, afirmou, avançando que se as pessoas ficarem “uma hora ou duas e derem lugar a outras, as coisas correm bem”.

O banhista reconhece que, até ao momento, se tem sentido “em segurança” nas visitas à praia, apesar de as pessoas se puderem cruzar mais em certas zonas, como no acesso, onde normalmente coloca a máscara.

“Por enquanto tem havido respeito, com o aumento do calor não sei, mas convém continuar a ter cuidado”, aconselhou.

Paulo Mendes veio hoje pela segunda vez à praia e reconheceu à Lusa que tinha “algum receio por aquilo que via nas notícias”, frisando que “se continuar assim não está mal”.

“Quando ontem [sexta-feira] vim surpreendi-me pela positiva, a maior parte das pessoas está a respeitar, claro que há exceções, mas há os que têm a sensibilidade de respeitar as distâncias e até usar máscara”, contou, avançando que se alguém se aproximar sem mascara é ele o primeiro a afastar-se.

“Estou atento”, reconheceu, explicando que tentar ter esse cuidado, e hoje, quando a maré começou a encher e as pessoas viram que o espaço começou a ficar apertado afastaram-se e saíram da praia.

Sancho de Mascarenhas observa o areal da praia das Avencas antes de descer as escadas. Admitiu que a praia que normalmente frequenta na época balnear pode este ano não ser a ideal.

“A praia é pequenina para as condições que estão a impor não é a melhor, mas para mim já é tradição, venho na mesma, se achar que está demasiado cheia não fico, mas sim em termos de dimensão é pequena e não é a melhor para a altura”, explicou.

Teresa Alves usa o acesso da praia das Avencas para descer até ao lado esquerdo da praia, que dá acesso à zona de pedras. Referiu à Lusa que anda mas um pouco para ficar nas rochas da Parede já que é uma zona que não é muito frequentada,.

“Estou mais à vontade, há menos agrupamento de pessoas. Não vão para lá crianças, nem pessoas muito idosas. Estou lá um bocado, enquanto me sito bem, serve-me de terapia”, disse, reconhecendo que quando começam a chegar mais pessoas se vai embora.

Com esta é a terceira vez que vem à praia, e o dia em que ficou mais tempo, acrescentando, também que foi o dia em que encontrou mais pessoas “em grupo e misturadas umas com as outras”.

De acordo com o plano de desconfinamento e durante a época balnear, na utilização do areal das praias estão “interditas atividades desportivas com duas ou mais pessoas, exceto atividades náuticas, aulas de surf e desportos similares”.

Na quinta-feira, o ministro do Ambiente garantiu que “o acesso à praia é livre” e que o sinal vermelho, que poderá ser colocado, é um aviso, mas não impede a entrada de pessoas, embora o “incumprimento reiterado” possa levar ao encerramento.

No ‘briefing’ do Conselho de Ministros, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, foi questionado sobre as regras do acesso às praias devido à pandemia de covid-19 na época balnear.

O que ficará claro no decreto-lei que ainda não foi publicado, de acordo com Matos Fernandes, é que “no caso de haver um incumprimento reiterado”, ou seja, “um, dois, três dias seguidos” em que a lotação da própria praia é ultrapassada, “por razões apenas de saúde pública, essa praia poderá ser encerrada”.

O ministro insistiu, por diversas vezes, que “o acesso à praia é livre”, mas “tem de ser feito com segurança”.

“O risco de contágio numa praia é igual ao de qualquer outro local no espaço público. Não há nenhum risco acrescido”, apontou.