O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) de Moçambique denunciou esta terça-feira que cerca dez mil pessoas que fugiram da violência armada no Norte estão sem comida e abrigo adequado em centros de acomodação, encontrando-se expostas à Covid-19.
Numa análise da situação dos refugiados na província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, palco de ataques por grupos armados, a organização da sociedade civil moçambicana disse que os refugiados foram obrigados a sair das suas casas nos distritos de Quissanga e Metuge e estão alojados em três centros de acomodação, incluindo em escolas da vila de Metuge.
Os deslocados queixam-se de falta de condições nos centros de acomodação e pedem ajuda para minimizar os problemas de fome e de frio que afetam, sobretudo, mulheres e crianças”, afirma-se na análise do CDD.
Há deslocados que dormem ao relento, porque as tendas não chegam para todos, acrescentou aquela organização. Por outro lado, continuou, os centros de acomodação não oferecem condições para a observância das medidas de prevenção da Covid-19, pois os deslocados passam as noites aglomerados em salas de aula e tendas.
“Isso acontece numa província que se tornou o epicentro da doença, com 116 casos positivos, dos quais 52 recuperados”, assinalou o CDD.
O CCD recordou que, há uma semana, o ministro da Saúde moçambicano, Armindo Tiago, visitou alguns centros de deslocados de Metuge “e o único apoio que deixou foram máscaras e redes mosquiteiras”.
No último fim-de-semana, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, também foi a Metuge visitar os centros de deslocados, “mas o máximo que fez foi lançar um apelo de solidariedade para com as vítimas dos ataques”.
O CDD observou que a Comunidade Islâmica de Moçambique é das poucas organizações que prestam apoio aos deslocados que vivem nos centros de acolhimento.
Na segunda-feira, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, disse que está “a fazer tudo” para travar os ataques de grupos armados em Cabo Delgado.
Tudo temos estado a fazer, face às ações de grupos terroristas em alguns distritos de Cabo Delgado, organizando as nossas populações e reforçando as capacidades das nossas Forças de Defesa e Segurança”, afirmou Filipe Nyusi, numa mensagem alusiva aos 57 anos da criação da Organização de Unidade Africana (OUA), antecessora da atual União Africana, que se assinalou na segunda-feira.
Cabo Delgado, região onde avançam megaprojetos para a extração de gás natural, vê-se a braços com ataques de grupos armados classificados como uma ameaça terrorista desde outubro de 2017 e as autoridades moçambicanas contabilizam um total de 162 mil pessoas afetadas pela violência armada.
A violência já matou, pelo menos, 550 pessoas desde 2017. Moçambique tem 209 casos de infeção pelo novo coronavírus, um morto e 71 pessoas recuperadas.