A presença de portugueses nas filas para receberem cabazes de ajuda alimentar na Suíça é apenas um dos sinais de como a crise provocada pela covid-19 está a afetar estes emigrantes, numa dimensão que começa agora a ser avaliada.
“Não são a maioria, mas vi muitos portugueses a irem buscar os cabazes de comida, o que me surpreendeu”, disse à agência Lusa o conselheiro das comunidades neste país, José Inácio Sebastião. Recentemente este conselheiro participou numa iniciativa de oferta de cabazes alimentares em Genebra e ficou surpreendido por ver tantos portugueses a recorrerem a esta oferta.
“A maioria das pessoas que precisa desta ajuda é oriunda da América Latina, mas também são muitos os portugueses afetados pela perda de rendimento”, adiantou.
Neste país, onde residem 217.662 portugueses, ainda “é grande” a expetativa sobre o real impacto da pandemia. Mesmo os que mantiveram o emprego, mas não puderam exercer a atividade, tiveram perdas na ordem dos 80%, disse o conselheiro.
O setor da economia doméstica (empregadas de limpeza) foi o que mais afetou a comunidade portuguesa, assim como os trabalhadores temporários. “Houve uma grande perda financeira”, disse.
Na Alemanha, a comunidade portuguesa tem sido elogiada pela forma como acatou as medidas de prevenção contra a covid-19, não se registando até ao momento um único português infetado, conforme disse à Lusa o conselheiro Alfredo Stoffel.
Residente em Sassnitz, este conselheiro da comunidade portuguesa explicou que “a pandemia atingiu todos os setores”. “Não houve discriminação entre a sociedade alemã de acolhimento e as suas comunidades”, referiu, indicando o confinamento e o impacto financeiro como as principais consequências da doença.
Emocionalmente, adiantou, a pandemia afetou a vida desta comunidade — estimada em 114.705 portugueses — que, de um dia para o outro, se viu privada de conviver com os amigos. A nível financeiro, ainda “é cedo” para uma avaliação rigorosa, mas as empresas tiveram de se adaptar e estão agora a começar a laborar e os trabalhadores a se aperceberem de como irão regressar ao trabalho.
Por essa razão, muitos “sentem-se inseguros” em relação à doença, receando uma nova vaga.
Em França, “todos foram apanhados” pela crise provocada pela covid-19, disse à Lusa o conselheiro da comunidade portuguesa Paulo Marques, que preside igualmente à Associação dos Eleitos Portugueses, Luso-Franceses e Europeus em França. Com 595.900 cidadãos nascidos em Portugal, esta comunidade é a mais significativa em França e tem sido apoiada pelo Governo francês.
“É o que está a salvar as empresas francesas de portugueses”, adiantou.
Mas só a partir de 02 de junho, quando a retoma do trabalho for a 100%, é que a dimensão do impacto da doença e das medidas de confinamento será realmente conhecida, adiantou. “Só então se saberá, mas acredito que em outubro já teremos uma noção mais concreta”, disse. Segundo Paulo Marques, os setores mais afetados foram a restauração, com muitos estabelecimentos encerrados e outros a terem de se adaptar ao ‘take away’.
Um outro setor que está totalmente parado é o da organização de eventos, com os artistas a não conseguirem saber como será o dia de amanhã. “Os artistas não podem expor, não há público, não há concertos, nem exposições”, lamentou, referindo que existiam “várias coisas programadas” que tiveram de ser desmarcadas, ou adaptadas à realidade virtual.
Nestas alturas, sublinhou, tem-se destacado o lado solidário da comunidade que tem procurado ajudar os portugueses mais velhos e que vivem em populações afastadas. “Em França, durante dias e dias só se falava de máscaras, mas a população mais isolada não tinha acesso às máscaras. Fizemos algumas ações de entrega de máscaras e só isso ajudou estas pessoas a sentirem-se mais apoiadas”, acrescentou.
Atento a esta realidade, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) tem vindo a manifestar as suas preocupações, nomeadamente com “os mais vulneráveis, idosos, cadenciados, desempregados e doentes”, disse à Lusa o presidente deste órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro.
Segundo Flávio Martins, a pandemia afetou várias empresas “por todo o mundo”, especialmente na área da construção e do comércio em geral, exceto o de alimentos.