“Desconfinar” é o verbo do momento e todos os pretextos são bons para o conjugar. E porque uma das coisas que mais vontade temos de fazer agora é um brinde com os amigos, que tal organizar uma prova de vinhos com alguns deles (com as devidas seguranças)? Se ainda por cima é aquele que todos consideram expert na matéria, cabe-lhe a si arregaçar as mangas e pôr em prática as nossas sugestões elaboradas com a ajuda de Alexandre Relvas, produtor da Casa Relvas, no Alentejo. As gargalhadas que ouvir, ao longo da experiência, vão provar-lhe que fez tudo bem. Para garantir o sucesso, confira aqui o que fazer:
1 – O local ideal
Antes de mais, há que escolher o espaço onde vai realizar a prova. Pode optar por uma plataforma online para reuniões à distância ou, então, se alguém do grupo dispuser de um local amplo e arejado, como um terraço, isso será o ideal: permite que estejam todos juntos ao mesmo tempo que respeitam as regras de distanciamento social. O que interessa é, mesmo, o convívio, como nos diz Alexandre Relvas, para quem “os vinhos são para beber e não para provar”, considerando que “são os momentos que marcam o vinho”. Ainda assim, se se pretender realizar uma prova mais técnica, há alguns pontos a ter em consideração: a sala deve estar a uma temperatura confortável para quem prova, a iluminação deve ser adequada sem ser excessiva e, debaixo do copo, a superfície deve ser branca, para que a cor do vinho possa ser devidamente apreciada.
2 – Material indispensável
O saca-rolhas é obrigatório e ainda que “não precise de ser um topo de gama, tem de respeitar a rolha”, alerta o produtor . Quanto aos copos, e apesar de reconhecer a imensa variedade disponível, defende apenas que este deve ser “mais fechado no topo e aberto na base”, para “permitir que o vinho abra, ou seja, receba oxigénio e que os aromas fiquem retidos no copo, sendo assim mais fácil descobri-los”. O decantador não é obrigatório, mas Alexandre Relvas gosta de o usar sempre, considerando que “99% dos vinhos melhoram depois de decantados, mesmo os brancos e rosés novos”. Por fim, chama a atenção para a importância de se “servir pouca quantidade de cada vez”. Não esquecer ainda papel e caneta, para que se possam ir anotando as diversas impressões causadas pelas provas sucessivas.
3 – Cuidados antes de abrir
Manusear a garrafa com cuidado e não agitar é um dos cuidados básicos antes de abrir um vinho, da mesma maneira que é necessário evitar partir a rolha. Quanto às temperaturas certas, Alexandre Relvas explica que “tal depende do momento e do tipo de harmonização”, ou seja, da comida que o vinho irá acompanhar. “Numa prova técnica realizada na adega, os vinhos brancos, tintos e rosés são todos provados à mesma temperatura, o que eu desaconselho a quem os vai consumir”, avisa. Em termos gerais, pode considerar-se as seguintes temperaturas:
- brancos e rosés jovens: entre os 10 e 12°C;
- brancos mais encorpados e complexos: entre 12 a 13°C;
- tintos jovens: 15 ou 16°C, sendo que, no verão, o enólogo gosta destes servidos a 12-13°C;
- tintos mais complexos: devem ser consumidos mais perto dos 16°C.
4 – Que vinhos escolher
Reunimos cinco sugestões de vinhos — que pode também comprar, sem sair de casa, na loja online da Casa Relvas — para que a prova seja diversificada e, o mais importante, que todos apreciem o que bebem. Aqui encontra uma ficha para cada vinho para que, ao longo da prova, possa identificar as chamadas notas de prova:
1. Herdade de São Miguel Colheita Seleccionada Branco 2019
Por ser a primeira marca lançada pela Casa Relvas. Segundo o produtor, este “é um vinho muito fácil de beber, mas cheio de carácter alentejano”.
- Castas
Antão Vaz, Verdelho, Arinto e Viognier. - Cor
Amarelo citrino. - Aroma
Aroma complexo a frutas tropicais e flores com notas de manteiga e coco. - Paladar
Fresco, fina acidez e com corpo acentuado. Bastante mineral e harmonioso. Final longo. - Acompanhamento
Carnes brancas, peixes temperados, bacalhau e frutos do mar.
2. ART.TERRA Amphora Branco 2019
Vinho que “acarreta uma enorme carga cultural”, explica Alexandre Relvas.
- Castas
Arinto. - Cor
Amarelo dourado. - Aroma
Notas de fumo, especiarias e eucalipto. - Paladar
Seco com taninos sedosos e corpo médio. Notas terrosas, boa frescura e mineralidade. - Acompanhamento
Frutos secos, tapas ibéricas e uma boa conversa.
3. Herdade de São Miguel Colheita Seleccionada Tinto 2018
O primeiro vinho a ser produzido na Casa Relvas. “É o melhor que demonstra o nosso espírito de perfeição”, diz o produtor.
- Castas
Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Syrah e Cabernet Sauvignon. - Cor
Rubi intenso com reflexos violetas. - Aroma
Aroma maduro de frutos vermelhos bem integrados com notas de especiarias e balsâmico. - Paladar
Equilibrado, redondo, sabores a fruta e especiarias. Boa estrutura de taninos. - Acompanhamento
Comida mediterrânica em geral, assim como massas, borrego, carnes brancas e queijos de pasta mole.
4. ART.TERRA Amphora Tinto 2018
Este é um vinho que pode “proporcionar uma prova com sensações diferentes”, justifica o responsável da Casa Relvas.
- Castas
Moreto, Trincadeira e Aragonez. - Cor
Vermelho vivo. - Aroma
Aromas primários com algumas notas terrosas. Iodado com notas de resina provenientes da talha. - Paladar
Boa textura, taninos finos, delicado e agradável. - Acompanhamento
Comida mediterrânica em geral, queijos de cura média e enchidos.
5. Herdade de São Miguel Pé de Mãe 2017
O facto de ser “um vinho muito especial produzido a partir de uma casta mal-amada, mas muito importante para a região, a Trincadeira”, ditou esta escolha.
- Castas
Trincadeira, Aragonez e Moreto. - Cor
Rubi aberta. - Aroma
Frutos vermelhos e flores de laranjeira com notas balsâmicas. - Paladar
Boa acidez, taninos suaves, final de boca frutado e persistente. - Acompanhamento
Queijos de pasta mole, guisados, enchidos e carnes vermelhas.