No habitual balanço da situação epidemiológica em Portugal, continua a ser a região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) a que mais preocupa as autoridades de saúde. Durante a conferência de imprensa desta quarta-feira, a ministra da Saúde salientou a existência de 13 surtos ativos associados a freguesias da Área Metropolitana de Lisboa, precisamente nos cinco concelhos que continuam a concentrar uma maior incidência de novos casos de infeção pelo novo coronavírus — Lisboa, Amadora, Sintra, Loures e Odivelas.
Sem referir a totalidade das freguesias, Marta Temido apontou Arroios, Santo António, Queluz e Belas, Águas Livres, Agualva, Mira-Sintra, Enconsta do Sol, Mina de Água e Rio de Mouro como algumas das localidades em questão.
Amadora é o concelho que inspira maior cuidado, ao registar a maior incidência por 100 mil habitantes: 99,6%. Lisboa, pelo contrário é, dos cinco conselhos, o que regista o indicador mais baixo: 37,6%. Loures, Sintra e Odivelas apresenta valores, segundo a ministra, na casa dos 60%.
Construção civil com 10% dos casos positivos
A ministra da Saúde apresentou ainda os dados de um rastreio intensivo realizado na região rastreio realizado em LVT, região que tem “representado consistentemente mais de dois terços do número diário de novos casos”. “Entre 30 de maio e 6 de junho, foram realizadas 14.057 colheitas nos referidos concelhos. À data, 664 são positivas, uma percentagem de 5,3%”, revelou Temido.
A ministra focou, contudo, o setor da construção civil como área de atividade económico que apresenta uma percentagem acima das restantes — cerca de 10%. No entanto, Temido salvaguardou o facto de apenas cerca de metade dos casos positivos terem sido ainda atribuídos às áreas de atividade.
90% dos novos casos surgiram em cinco concelhos de Lisboa e Vale do Tejo
Até ao final da semana, as autoridades de saúde pretendem responder a estes números com a elaboração de uma nova norma de medidas de proteção específica para esta área de atividade. O documento será divulgado pela DGS, após terem decorrido reuniões com empresas de construção civil, mas também com sindicados e com o setor das obras públicas.
Um ideia reforçada por Mariana Vieira da Silva. A Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa participou na conferência de imprensa desta quarta-feira e sublinhou a cooperação com a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT)e com o Instituto da Segurança Social nestes cenários de surto.
“Procurámos conhecer melhor a realidade”, afirmou a ministra, sobre o rastreio realizado. “As conclusões a que chegámos fazem com que saibamos que precisamos de ter uma intervenção especial na área da construção civil, uma ação nos locais através da norma para o funcionamento dos estaleiros, mas também de reforço da ação inspetiva pela ACT e de reforço das ações de sensibilização que procurem diminuir os riscos e encontrar ações de emergência, em particular de alojamento”, indicou ainda.
“O perfil não é o mesmo nos cinco concelhos”, admitiu a ministra da Saúde. “Temos surtos associados a estruturas residenciais para idosos — cinco situações em Sintra com um número significativo de casos que têm gerado novos casos”, rematou, não esquecendo os restantes casos já conhecidos em contexto habitacional e em áreas de atividade específicas.
Sobre a estratégia de rastreio assente em cerca de 14 mil testes numa semana, Marta Temido esclareceu que apenas uma parte dos casos positivos já foi incluída nos boletins. “Temos já uma relação entre os novos casos e os rastreios realizados que mostra que 7,2% dos novos casos registados desde o dia 30 e até ontem já foram vertidos para boletim. Outros virão a ser refletidos no boletim nos próximos dois dias, esperamos”, disse.
Marta Temido nomeia gabinete de crise para região de Lisboa
Ainda esta quarta-feira, Marta Temido fez referência à nomeação do Gabinete Regional de Intervenção para a Supressão da Covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo, coordenado por Rui Portugal, médico de saúde público que faz parte da respetiva direção regional de saúde.
“Terá como mandato garantir que, por um lado, todos os surtos estão devidamente mapeados e georreferenciados e que essa informação se mantém permanentemente atualizada, e que os novos casos são acompanhados regularmente, porque temos a precessão clara de que muitos deles precisam de apoio que não apenas a vigilância clínica”, afirmou.
“Terá também uma missão de preparação de dados que deverão ser diariamente comunicados ao Ministério da Saúde, mas também aos municípios e aos outros parceiros com quem é essencial trabalhar. Uma missão de aconselhamento de quais serão as novas estratégias para a supressão da infeção”, concluiu.
Futebol e festas populares
Questionada esta quarta-feira sobre o teste positivo que impediu Defendi, guarda-redes do Famalicão, de jogar na passada terça-feira, apesar de ser um caso recuperado, Graça Freitas justificou a decisão como uma questão de cautela. “No caso deste jogador, tudo indica que ele não estará infeccioso. Mas há algum grau de incerteza. Nós pensamos que estas pessoas que já tiveram a doença, que depois tiveram testes negativos, que tiveram alta e que continuaram a testar negativo, não transmitirão. Mas o certo é que no último teste que ele fez, 24 horas antes do jogo, estava positivo”, explicou a diretora-geral da Saúde.
“Tivemos muito que ponderar. Provavelmente serão só partículas virais, mas na dúvida agimos por precaução. O risco de contágio será baixo, mas não há uma evidência científica robusta que nos permita dizer que não exista”, concluiu, referindo que os restantes jogadores continuarão a seguir os respetivos planos de testes.
Também o tópico dos Santos Populares e dos arraiais surgiu, já na reta final da conferência de imprensa. Questionada sobre a existência de “festas privadas” e de “arraiais disfarçados”, Mariana Vieira da Silva recordou a razão pela qual espaços de dança permanecem encerrados. “As regras de distanciamento social que existem também impedem esse tipo de festas, que sabemos que têm sido pontos problemáticos nas últimas semanas”, referiu a ministra, excecionalmente presente na conferência de imprensa da DGS.
“A ideia de que nos podemos relacionar normalmente, sem distanciamento e sem conhecer todas as pessoas que lá estão é errada e é importante combatê-la”, continuou. “As festas populares estão expressamente proibidas”, alertou ainda, prometendo uma articulação com as forças de segurança para garantir que este tipo de eventos não acontecem, por muito informais que se apresentem. Isto a dois dias daquela que seria a mais movimentada noite lisboeta, a de Santo António.