Entre os agredidos há homossexuais, negros e comunistas. Do lado dos agressores, homens com idades entre os 24 e os 50 anos com as mais variadas profissões, de auxiliares de educação a guardas prisionais, passando por taxistas e analistas de dados. São 27 os homens acusados pelo Ministério Público de crimes raciais. Entre 2013 e 2017 (já depois de 20 membros do grupo terem sido detidos, mas sem terem visto ser-lhes aplicada a prisão preventiva, em 2016) terão sido cometidos dezenas de crimes raciais, muitos deles alegadamente realizados para cumprir os “rituais de iniciação”.

27 homens acusados de crimes raciais pelo Ministério Público

O primeiro crime descrito na acusação aconteceu em novembro de 2013, na Estrada de Benfica, em Lisboa e teve como alvo Wilson Neto, que acabara de sair de um autocarro às 6h15. Segundo o despacho de acusação, citado pelo Público na edição desta segunda-feira, este foi um dos crimes que terá acontecido para que “alguns aspirantes a hammers pudessem cumprir o ritual de mostrar serviço perante os hammers”, agredindo um homem apenas por ser negro.

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O que são hammers? “Indivíduos que são membros de pleno direito dos hammerskins que se reproduzem por vários países”. O MP refere o “Hammerskin Nation” como “o mais violento e o mais organizado grupo de extrema-direita”, nasceu em Dallas em 1988 e o grupo português foi reconhecido no início de 2005. Ainda segundo o MP, só a partir dos 18 anos os homens portugueses se podem candidatar à organização, mas têm como condição que sejam “única e exclusivamente descentendes de caucasianos”: “O grupo perfilha a ideologia nazi apelando e exaltando a superioridade da raça branca, pretendendo expulsar ou impedir a entrada em Portugal de todas as minorias étnicas, bem como agredir os nacionais negros e ciganos”.

De entre os 27 arguidos há dois que já foram condenados no caso Alcindo Monteiro: Cláudio Cerejeira e Jaime Hélder, segundo o Expresso. Algumas das agressões são já conhecidas desde 2016, na altura em que numa megaoperação da PJ foram detidos 20 membros dos Hammerskins. Trata-se da agressão ao comunista Augusto Pinheiro que a 20 de setembro de 2015 tinha acabado de sair de um comício do PCP quando foi agredido por vários elementos, entre eles o guarda prisional João Vaz.

A vítima perfeita

Se no lado dos agressores foram constituídos arguidos 27 homens, do lado das vítimas há 18. Algumas porque “pareciam gay”, porque eram negros que estavam no mesmo local que os hammers, ou tentavam vender alguns artigos durante a noite no Bairro Alto, como o caso do vendedor ambulante que ainda viu alguma da mercadoria ser depois roubada por “duas raparigas”. Mário Machado, que liderou o grupo afastou-se da liderança depois de ter sido condenado pela justiça e atualmente é Bruno Monteiro o líder, que também integra o lote de 27 arguidos.

Segundo a acusação do MP, as agressões “poderiam determinar a morte” de algumas das vítimas já que “visaram partes do corpo” onde sabiam “encontrar-se órgãos vitais”, “denotando com as suas condutas total ausência de responsabilização e desprezo pela vida humana”.