Nunca, desde 1904, o Benfica tinha passado cinco jogos seguidos sem ganhar em casa. Ao perder esta terça-feira, frente ao Santa Clara, os encarnados voltaram a não festejar na Luz, depois de três empates (Shakhtar, Moreirense e Tondela) e outra derrota (Sp. Braga), e atingiram um registo negativo que nenhuma equipa tinha alcançado em 116 anos de história. Neste momento, o conjunto de Bruno Lage não vence dentro de portas desde fevereiro, altura em que ganhou ao Famalicão para a Taça de Portugal.

Uma equipa que não tem pés nem cabeça mas tem uma Crysan que não desaparece (a crónica do Benfica-Santa Clara)

Mas o resultado negativo com os açorianos, que pode empurrar o Benfica novamente para o segundo lugar em caso de vitória do FC Porto com o Boavista, trouxe mais dados negativos à série terrível que os encarnados atravessam. Os quatro golos marcados pelo Santa Clara na Luz — divididos entre Anderson Carvalho, Zaidu, Crysan e Zé Manuel —  quebraram dois registos que levava, já 23 anos. Desde 1997 que o Benfica não sofria quatro golos em casa (na altura, foi às mãos do Salgueiros, treinado por Manuel José, e numa partida em que os encarnados também estiveram a ganhar por 3-2), e também desde 1997 que não sofria três derrotas na Luz na mesma época, sendo que, nesse ano, acabou a temporada em terceiro e a 27 pontos do campeão FC Porto.

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E se os dados são negativos para o Benfica, são positivos para o Santa Clara. A equipa de São Miguel, que está mais do que confortável na tabela e que mostrou na Luz que é um dos conjuntos que melhor futebol joga na Liga, ganhou pela primeira vez na história em casa do Benfica e marcou quatro golos fora dos Açores, algo que ainda não tinha feito esta temporada.

Na flash interview, onde surgiu claramente descontente, Bruno Lage pareceu responsabilizar os jogadores pelos erros cometidos nos golos do Santa Clara: o de Nuno Tavares no primeiro, o de Rúben Dias na grande penalidade e o de Ferro no que dá a vitória, já nos descontos. “A forma como sofremos os quatro golos… Não é para tirar mérito ao Santa Clara, mas foram duas carambolas, um canto e um penálti. Ficamos muito tristes porque foi uma primeira parte equilibrada, sabíamos que íamos defrontar uma equipa bem organizada, com uma ideia de jogo boa. Tentámos fazer o nosso jogo, criar ocasiões. Sofremos o primeiro golo contra a corrente do jogo. Acho que a equipa, com as nossas mexidas, entrou muito forte na segunda parte, fazemos o 1-1, o 2-1… Depois oferecemos esta última bola e o golo. Quem marca três golos, depois de virar o resultado… O jogo tem de ser nosso”, explicou o treinador, que reconheceu que a ausência de público nas bancadas pode ter tido alguma influência nos instantes finais mas defendeu que a equipa teria de ter feito mais.

“Depois de três golos não podemos sofrer o quarto. Tínhamos de fazer o nosso trabalho, fizemos três golos e não podíamos oferecer quatro golos, não podemos andar a lamentar nada. O que fizemos em termos ofensivos, em termos defensivos, pelas carambolas, o canto, o penálti… O jogo tinha de ser nosso, os três pontos tinham de ser nossos”, disse Lage, que voltou a recusar comentar o facto de o Benfica poder perder a liderança para o FC Porto, sublinhando que só fala da equipa encarnada.

E quando confrontado pelos jornalistas sobre o futuro no Benfica após esta derrota, Bruno Lage reagiu assim: “Às vezes fico a pensar em quem vocês andam a tentar promover para entrar no meu lugar. Ou até às vezes a quem andam a pagar alguns almoços, alguns jantares ou algumas viagens para entrar aqui no meu lugar. O lugar não é meu, o lugar é do Benfica. A forma como conseguimos chegar aos golos e a forma como sofremos os golos deixa-nos um sabor amargo, e são três pontos que nós não podíamos ter perdido. Não podíamos conceder quatro golos, em particular da maneira como os sofremos.”