O Governo vai demorar três meses a estudar, em conjunto com a CP e a Infraestruturas de Portugal, um possível reforço dos horários nos comboios na Linha de Sintra, mas não garante que a hipótese venha a ser adotada, já que é preciso compatibilizar os horários desta linha com os horários de vários outros comboios do país, o que pode não trazer vantagens, disse aos jornalistas Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, esta segunda-feira.

“Estamos a estudar, com alterações de horários, vir a reforçar marginalmente a capacidade”, referiu o ministro, aos jornalistas, esta segunda-feira, explicando que eventuais alterações implicariam ajustamentos em todo o país, como nos comboios da Fertagus ou no transporte de mercadorias.

Essa possibilidade de reforçar horários está a ser estudada com a CP e a Infraestruturas de Portugal. “Demora algum tempo sem certezas de que no fim permita aumentar a capacidade”, frisou, acrescentando que “os ganhos, se forem possíveis, serão sempre marginais”. Ou seja, são três meses a estudar uma hipótese que, no limite, pode não vir a ser adotada por se poder concluir que não trará benefícios.

Pedro Nuno Santos garantiu ainda que não há sobrelotação nos comboios da área metropolitana de Lisboa. “Neste momento, temos uma lotação, na maioria esmagadora dos comboios, nas horas de ponta na área metropolitana e Lisboa abaixo dos 50% ou mesmo de 30%. Dos 662 comboios que temos na área metropolitana por dia, só meia dúzia está a rondar os dois terços [de capacidade]. Não temos neste momento um problema de sobrelotação nos comboios da área metropolitana de Lisboa”, disse o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, em declarações aos jornalistas.

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Ainda assim, os transportes públicos são “focos de preocupação” para quem os usa, admite, mas garante que a lotação média está “abaixo do que é normal”. Pedro Nuno Santos referiu ainda que todos os comboios são limpos diariamente, alguns mais do que uma vez por dia.

O ministro responde, desta forma, às críticas de utentes de sobrelotação das carruagens que têm surgido nos últimos dias, após a divulgação de várias imagens que mostram que as distâncias sociais não estão a ser cumpridas. “Não excluímos que possa haver um comboio onde existe os dois terços ou acima”.

A CP tem 100% da oferta garantida, disse ainda, em resposta ao Bloco de Esquerda, que exigiu que o Governo colocasse em circulação todas as carruagens à disposição na linha ferroviária de Sintra.

Governo avaliou reforço na linha de Sintra com autocarros

Segundo fonte do Ministério das Infraestruturas, o Governo avaliou a hipótese de reforçar a linha de Sintra com autocarros, uma medida sugerida agora pelo Bloco de Esquerda. Mas a hipótese foi descartada. “Um comboio com carga máxima na linha de Sintra leva duas mil pessoas, demora de Sintra a Entrecampos cerca de 40 minutos. Um autocarro leva 50 pessoas. Seriam 40 autocarros para um comboio”, defende a mesma fonte.

A médio prazo, uma das possibilidades para o reforço da capacidade em tempos de pandemia será o ajustamento dos horários na Linha de Sintra. Mas outra hipótese, a longo prazo, seriam alterações na infraestrutura, como a quadruplicação da Linha de Sintra até ao Parque das Nações e mudanças na Gare do Oriente, para permitir que mais comboios possam mudar de direção, aumentando a oferta na linha com maior movimentação. Mas são isso mesmo: hipóteses de longo prazo, que não permitiriam uma resposta célere.

No caso da estação da Azambuja (nessa localidade, foram identificados vários casos de contágio com Covid-19), a solução encontrada foi parar o comboio alguns metros mais atrás do que antes, para que as pessoas não se concentrassem na carruagem mais perto das escadarias (a única saída da estação) e se pudessem dispersar.

CP: Redução na procura chegou aos 81%. Empresa está a perder 12 milhões por mês

Segundo dados do Ministério das Infraestruturas, que tutela a CP, a empresa viu a procura cair 81% nos alfa, 68% nos intercidades e 55% no regional. Em Lisboa, a quebra foi de 51%, no Porto de 52% e nos urbanos de Coimbra de 44%.

Aliás, no Porto, se até à semana passada, nenhum comboio estava perto dos dois terços de capacidade, esta semana, a realidade está a mudar e há dois que se aproximam desse valor — partem ambos de Marco de Canaveses, com destino ao Porto, às 6h13 e às 7h00, respetivamente.

Na semana passada, a linha de Sintra teve, nas horas de ponta (isto é, entre as 6h00 e as 9h30 e as 16h30 e as 20h00) uma lotação média de 45% da capacidade no sentido Sintra — Linha de Cintura (a que tem mais movimentação), no sentido Sintra — Rossio, é de 35%. No Porto, a lotação está abaixo dos 40%. Dos 730 comboios que circularam na linha de Sintra na semana passada, 10 aproximaram-se dos dois terços de lotação máxima. Apenas um passou essa capacidade — viajava no sentido Lisboa-Sintra, antes do jogo do Benfica com o Santa Clara.

A CP fez 52.408 desinfeções nos comboios relacionadas com a Covid-19, desde 15 de março, o que custou mais de um milhão de euros. Em março, a empresa registou 22 milhões de euros em prejuízos. Desde então, a redução na receita tem sido de 12 milhões de euros por mês.

Além disso, dos 2.200 trabalhadores itinerantes, houve nove casos de Covid-19, seis de maquinistas e três de revisores. Já entre a equipa da limpeza (700 pessoas), não há infetados.