Por dia 100 pessoas infetadas com o novo coronavírus ficam por contactar pelas autoridades de saúde “porque deram moradas falsas ou porque foram viver para outros locais”. A dificuldade em contactar estas pessoas é assumida por Rui Portugal, o homem que coordena o gabinete regional de intervenção para a supressão de covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo, em entrevista ao jornal Público.
Esta quarta-feira o Observador dá conta de outro problema: centenas de infetados na região de Lisboa têm esperado dias pelo telefonema das autoridades de saúde que devia ser feito em horas, atrasos esses que dificultam o controlo do surto, acusam especialistas.
Atrasos no acompanhamento de centenas de infetados dificultam controlo do surto em Lisboa
Numa altura em que existem três equipas de saúde pública no terreno em Lisboa, uma em Loures, outra em Odivelas, duas na Amadora e cinco em Sintra, contabilizam-se cerca de 15 mil pessoas em vigilância ativa e passiva nos cinco concelhos — há 9 mil doentes a serem seguidos.
Rui Portugal diz que na maior parte das vezes, no que à identificação e notificação dos casos de infeção diz respeito, o processo é rápido, mas há “relatos de casos que se atrasaram na cadeira de comunicação”, com alguns laboratórios a fazerem uma notificação tardia. A dificuldade em fazer inquéritos para determinar cadeias de transmissão na Área Metropolitana de Lisboa deve-se ainda ao facto de entre os residentes haver “cerca de 100 nacionalidades diferentes”.
Ainda assim, o responsável garante que nos últimos 20 dias houve um “enorme reforço de recursos” que permite ter o processo de notificação e realização de inquérito concluído em 12 horas, ao invés de mais de 24 horas. “Ganhámos milhares de horas. Há um reforço de 80 médicos, sobretudo internos de formação geral e específica, que foram escalados já durante esta semana.”
Questionado sobre se a polícia tem sido chamada a intervir quando as pessoas não permanecem em casa, Rui Portugal confirma que a polícia é chamada diariamente e que há “muitas dezenas, centenas de intervenções”.
Admitindo que há “um aumento de novos casos”, ainda que não seja “exponencial”, Rui Portugal assegura que o Norte tem mais recursos de saúde pública do que o Sul, e que a Área Metropolitana de Lisboa, em particular, tem muitos casos de pessoas assintomáticas que “se sentem bem, que querem andar por todo o lado”.